Economia

Movimentos nacionalistas pressionam governo espanhol

A turbulência espanhola pode ser resumida em 25% de desemprego e déficit público de 9% em 2011


	Enfraquecido pela crise, premiê Mariano Rajoy terá de enfrentar uma longa batalha - e não apenas com os catalães - na Espanha
 (Andrea Comas/Reuters)

Enfraquecido pela crise, premiê Mariano Rajoy terá de enfrentar uma longa batalha - e não apenas com os catalães - na Espanha (Andrea Comas/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2012 às 12h07.

Paris - Depois de 50 anos de unificação, a Europa corre o risco de assistir um processo inverso: o da fragmentação. Não bastasse a crise da zona do euro, que ameaça dividir o bloco entre os países que souberam administrar suas finanças e os que fracassaram na adoção da moeda única, agora os nacionalismos regionais ganham novo impulso em razão da crise econômica.

O exemplo mais forte desse fenômeno é a Catalunha, uma região onde o sentimento independentista, já poderoso, agora é turbinado pela sensação de que a Espanha está afundando. Um passo significativo no debate pela independência foi dado na quinta-feira, quando o Parlamento da região aprovou por 84 votos a favor - de um total de 131 - uma resolução em favor de um plebiscito sobre a soberania dos catalães. A decisão foi anunciada dois dias depois de o presidente da Generalidat (governo autônomo), Artur Mas, convocar eleições regionais antecipadas para 25 de novembro. O objetivo da medida é aproveitar a crise e o reforço da onda nacionalista para levar ao legislativo catalão o maior número possível de parlamentares independentistas, o que por sua vez reforçaria o presidente regional. Para Mas, trata-se de encarar a luta pela "autodeterminação", que define como "uma missão histórica", "a mais completa e transcendente dos últimos 300 anos".

Embora a causa independentista seja secular na Catalunha, o discurso é agora reforçado pela crise econômica da Espanha. A turbulência espanhola pode ser resumida em 25% de desemprego, déficit público de 9% em 2011, sistema financeiro carente de € 60 bilhões em liquidez e uma romaria de comunidades autônomas pedindo bilhões em socorro financeiro ao primeiro-ministro Mariano Rajoy - por sua vez, também prestes a solicitar um plano de resgate à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Atingida em cheio pela crise, a Catalunha é a região mais endividada das 17 comunidades autônomas que compõem a Espanha. Sua dívida chega a € 44 bilhões - um montante impagável nas atuais circunstâncias. Prova disso é que, há um mês, Mas bateu à porta do Tesouro de Madri para pedir € 5 bilhões para honrar o pagamento de suas dívidas.

Mas a questão é mais complexa do que parece. Ao contrário da imagem que o discurso independentista vende, a Catalunha perderia com a eventual independência. Isso porque o país signatário da União Europeia é a Espanha. Para ingressar no bloco, o eventual novo país precisaria da aprovação dos 27 membros atuais - e Madri não aceitaria. Sem o euro, sem integrar a área de livre comércio e sem a livre circulação de pessoas, a economia sofreria um baque.


Um estudo feito pelo economista Mikel Buesa, da Universidade Complutense de Madrid, indicou que o PIB da Catalunha cairia 23,4% com a independência, perdendo € 50,5 bilhões. As importações explodiriam, enquanto as exportações minguariam, abrindo um déficit de 15,3% do PIB. "De região mais rica da Espanha, a Catalunha se tornaria uma nação mais pobre."

Por isso, alguns analistas espanhóis julgam que a pressão independentista é, na realidade, um jogo de cena para obter mais vantagens de Madri. O objetivo seria arrancar do governo de Rajoy a criação de um Fisco catalão, que arrecadaria e gerenciaria os impostos, enviando ao Tesouro uma cota em retribuição pelos serviços prestados pelo governo central. Em resposta, Rajoy recusou-se a negociar novas concessões e usou um discurso conciliador. "Tenho a convicção de que a gravíssima crise atual será superada pela corresponsabilidade e pela coesão, e não pela divisão ou pela instabilidade constitucional", afirmou em nota.

Enfraquecido pela crise, porém, Rajoy terá de enfrentar uma longa batalha - e não apenas com os catalães. No País Basco, o clamor por soberania também vem ganhando mais força. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaCrises em empresasDesempregoDívida públicaEspanhaEuropaPiigs

Mais de Economia

Governo reduz novamente previsão de economia de pente-fino no INSS em 2024

Lula encomenda ao BNDES plano para reestruturação de estatais com foco em deficitárias

Pacheco afirma que corte de gastos será discutido logo após Reforma Tributária

Haddad: reação do governo aos comentários do CEO global do Carrefour é “justificada”