Economia

Montadoras mostram confiança, mas veem riscos à frente

Setor prevê expansão de 3,5 a 4,5 por cento nas vendas em 2013 sobre 2012


	Robôs soldam carros em fábrica da Ford: apesar de previsões otimistas do setor, a montadora vê 2013 com cautela devido ao menor ritmo de expansão do mercado interno
 (Reuters/Paulo Whitaker)

Robôs soldam carros em fábrica da Ford: apesar de previsões otimistas do setor, a montadora vê 2013 com cautela devido ao menor ritmo de expansão do mercado interno (Reuters/Paulo Whitaker)

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2012 às 15h33.

São Paulo - O setor automotivo ingressa em 2013 numa situação mais positiva que em 2012, com estoques controlados, inadimplência dando sinais de trégua, crescimento do país começando a acelerar e um novo regime automotivo que contém importações e força mais investimento em produção local.

Se por um lado as dificuldades de 2012 --que levaram o governo a reduzir impostos e a incentivar financiamentos para a aquisição de veículos-- ficaram para trás, os esperados problemas de ociosidade devem ficar apenas para 2014 em diante.

A expectativa oficial da indústria responsável por 23 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país é de renovação de recorde de vendas em 2013, pelo sétimo ano consecutivo, para entre 3,94 milhões e 3,98 milhões de veículos, uma alta de 3,5 a 4,5 por cento sobre 2012.

O setor ainda deve passar por uma recuperação de produção, com alta de 4,5 por cento, para 3,51 milhões de unidades, ante queda de 1,5 por cento em 2012, o primeiro recuo desde 2002.

Mesmo com a expectativa de crescimento em 2013, pode haver dificuldades para a venda de veículos leves à frente, devido à antecipação de compras causada pelo desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor.


"O problema é que quanto mais tempo o governo mantém o desconto no IPI, mais ele rouba demanda do futuro", disse o analista do setor automotivo latino-americano da consultoria internacional IHS, Guido Vildozo.

O IPI menor --o remédio usado para incentivar as vendas em 2012-- tem cada vez menos efeito e não será suficiente sozinho para incentivar as vendas em 2013, segundo analistas, que consideram que o desempenho do setor dependerá muito mais da retomada da economia que do amparo de incentivos provisórios do governo.

De olho nesse efeito e para evitar uma súbita alta nos preços que poderia ocorrer com um retorno do imposto cheio logo no início de 2013, o governo optou na quarta-feira por fazer uma retirada gradual do desconto no IPI até junho. Assim, no caso dos modelos 1.0, a alíquota zero acaba em 31 de dezembro e será elevada para 2 por cento entre janeiro e março e para 3,5 por cento entre abril e junho do próximo ano.

CAPACIDADE CRESCE

Apesar de 2012 caminhar para sofrer a primeira queda em uma década na produção de veículos --de acordo com previsão da associação de montadoras, a Anfavea--, o setor encerrou novembro com quadro de empregados 4 por cento maior que um ano antes e a entrada em operação da primeira leva de grandes projetos recentes de investimentos em produção.


Analistas consultados pela Reuters consideram difícil uma situação em que a indústria de veículos do Brasil enfrente problemas de capacidade ociosa já em 2013, apesar de citarem desafios para os anos seguintes, quando grandes projetos de expansão produtiva vão entrar em operação.

"Há um risco de excesso de capacidade, mas isso depende de como os anos a partir de 2014 vão se comportar em termos de crescimento da economia", afirmou o analista Vildozo, da IHS.

"Teoricamente, isso não deve ser um problema em 2013, porque o Brasil está gerando um volume grande de empregos, com primeiros compradores de carros chegando ao mercado. Além disso, a acessibilidade da compra de automóveis segue melhorando, com o cenário de juros baixos." A japonesa Toyota e a sul-coreana Hyundai inauguraram fábricas de veículos compactos entre agosto e setembro, adicionando cerca de 220 mil veículos por ano à capacidade de produção nacional de 4,3 milhões de unidades anuais.

No começo de 2013, a francesa Renault ampliará a capacidade de sua fábrica de 200 mil para 320 mil veículos, enquanto a chinesa Chery deve terminar no fim do próximo ano a construção de sua primeira unidade no Brasil para 150 mil veículos.

Em 2014, a entrada em operação de novas linhas de produção acelera. A chinesa JAC deve iniciar a operação de sua primeira unidade no país, de 100 mil unidades; a Nissan estreia fábrica com capacidade para 200 mil carros; e a Fiat inaugura atividades de fábrica em Pernambuco projetada para 250 mil unidades.


"A capacidade produtiva do país só tende a crescer. De 2014 a 2017 a tendência é só de aumento, o mercado é muito promissor", afirmou o analista do setor automotivo da consultoria Tendências, Rodrigo Baggio. Segundo ele, nesse período, a capacidade vai crescer cerca de 500 mil a 600 mil unidades anuais, um aumento de 10 a 15 por cento por ano.

"Investimentos como os de Chery, JAC e Nissan claramente foram retomados graças ao novo regime automotivo, porque elas dependem atualmente de modelos importados", disse Baggio.

OTIMISMO CAUTELOSO

Apesar do boom produtivo, o cenário não é livre de incertezas.

O diretor de assuntos corporativos da Ford, Rogelio Golfarb, citou recentemente que a montadora encara 2013 com uma postura de "cautela", diante do ritmo menor de crescimento no mercado interno em relação a anos anteriores, quando a alta nas vendas era de dois dígitos.

Mas ele ressaltou que, diferentemente de muitos países, "não há dúvidas" de que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do em 2013 será maior que 2012. "O Brasil é um país privilegiado. Não estamos discutindo quando o país vai crescer, mas quanto vamos crescer."


Por enquanto, a indústria trabalha com perspectiva de que as vendas veículos novos no mercado interno, incluindo leves e pesados, vão alcançar cerca de 6 milhões nos próximos 10 anos, uma expansão de 50 por cento, o que tem motivado a corrida de investimentos em produção local em um mundo que não cresce.

"É sustentável pensar nesse volume, seja pelo crescimento econômico, seja pela mobilidade social que está acontecendo no país", disse recentemente o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini.

"Levando em consideração que o país tem um automóvel para 6 habitantes e a Argentina, por exemplo, tem um para quatro, faltam 15 milhões de veículos no Brasil", completou.

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