Economia

Moeda comum entre Brasil e Argentina vai substituir o real? Tire suas dúvidas

Projeto, ainda embrionário, visa fomentar o comércio e a integração regionais. Com nova divisa, ideia é que transações entre Brasil e Argentina não precisariam ser convertidas em dólar

Moeda sur: o projeto já levanta várias dúvidas sobre sua viabilidade e como a moeda comum funcionaria (simonmayer/Getty Images)

Moeda sur: o projeto já levanta várias dúvidas sobre sua viabilidade e como a moeda comum funcionaria (simonmayer/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 23 de janeiro de 2023 às 12h15.

Última atualização em 23 de janeiro de 2023 às 12h59.

Em artigo publicado no jornal argentino Perfil no fim de semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández escreveram que vão avançar nas discussões sobre a criação de uma moeda sul-americana comum, que poderá ser usada em trocas financeiras e comerciais entre os países.

A possível criação da nova moeda, que o governo brasileiro sugere chamar de sur, será debatida em encontro bilateral na Casa Rosada, sede do governo argentino, em Buenos Aires, nesta segunda-feira. Apesar de embrionário, o projeto já levanta várias dúvidas sobre sua viabilidade e como a moeda comum funcionaria.

A nova moeda vai substituir o real ou o peso, como o euro substituiu as moedas nacionais? Poderá ser usada por turistas? O Globo preparou perguntas e respostas com o que se sabe até agora. Veja abaixo.

A nova moeda sur vai substituir o real ou o peso?

Não. Se criada, a sur será uma moeda paralela às moedas nacionais. A ideia é usá-la apenas em fluxos financeiros e comerciais, reduzindo os custos das operações e a vulnerabilidade externa, explicaram Lula e Fernández no artigo publicado no Perfil. Não será, portanto, como o euro, que substituiu o marco alemão e o escudo português, por exemplo.

O governo brasileiro pedirá, inclusive, que isso fique claro no acordo a ser firmado entre os dois países para avanços nos estudos.

A sur poderá ser usada por turistas que visitam Argentina e Brasil?

A princípio não. A ideia é que a sur não seja usada em operações do dia a dia, como compras de mercado e pagamento de ingressos. Assim, não será usada nem pelos cidadãos locais nem por turistas estrangeiros.

Qual é o objetivo da criação da moeda comum?

O objetivo inicial é fomentar o comércio regional e reduzir a dependência em relação ao dólar, de acordo com o jornal britânico Financial Times, que publicou reportagem sobre o assunto no domingo. autoridades brasileiras também dizem, reservadamente, que o projeto visa a barrar a influência da China, que tem tomado espaço do Brasil na economia argentina.

O país vizinho é o terceiro principal destino das exportações brasileiras (4,6% de participação) e a terceira principal origem das nossas importações.

Como a moeda funcionaria na prática?

A ideia do governo brasileiro é que a sur seja semelhante a uma Unidade Real de Valor (URV), ou seja, um parâmetro econômico para transações financeiras e comerciais entre os dois países. Assim, Brasil e Argentina não precisariam recorrer ao dólar ou moedas de terceiros para as transações bilaterais.

Hoje, quando é feita uma importação de produto brasileiro pela Argentina, ela precisa recorrer a suas reservas em dólar para efetuar a transação. Com a sur, um caminhão brasileiro comprado pela Argentina, por exemplo, teria seu valor em pesos convertido em sur, que depois seria convertido em reais.

O fabricante brasileiro, portanto, receberia o valor em reais e o comprador argentino faria o desembolso em peso, sem intermediação do dólar.

Por que evitar o uso do dólar seria importante para a Argentina?

O país enfrenta grave escassez de dólar. Há mais de uma dezena de cotações diferentes da moeda americana, com objetivo de reter a saída da divisa. Também já foram adotadas medidas restritivas ao uso do dólar, como encarecimento de taxas de cartão de crédito para compras no exterior.

Mesmo com todas essas medidas, a economia argentina passa por dificuldades. No ano passado, a inflação do país foi de 94,8%, a maior em 32 anos. E o governo ainda deve mais de US$ 40 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), referentes a um socorro feito em 2018.

A nova moeda poderá ser usada por outros países da América do Sul?

Segundo o ministro da Economia argentino Sergio Massa, que falou com o FT, outros países da região poderão ser convidados a fazer uso da moeda, caso o projeto vingue. O jornal britânico estima que uma união monetária que cubra toda a América Latina represente cerca de 5% do PIB global. A zona do euro abrange 14% da economia mundial.

Quanto tempo a criação de uma moeda comum pode levar?

Não se sabe. Para efeito de comparação, o projeto de criação do euro levou cerca de 35 anos para ser implementado, lembrou Massa em entrevista ao FT. Ele disse que o acordo a ser firmado entre Brasil e Argentina será o primeiro passo nessa direção.

Que tipos de estudos serão feitos?

De acordo com Massa, serão estudados todos os parâmetros necessários para a criação de uma moeda comum, como questões fiscais, o tamanho das economias, o papel dos bancos centrais, entre outros.

Já houve outros projetos de criação de uma moeda comum na América do Sul?

Sim. O assunto chegou a ser discutido entre os governos de Brasil e Argentina na época dos governos de Jair Bolsonaro e Mauricio Macri. A moeda comum se chamaria peso real. Mas houve oposição do Banco Central do Brasil à ideia. Agora, os dois países estariam dispostos a avançar no projeto.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaGoverno LulaMoedaspeso-argentinoReal

Mais de Economia

Média de preços dos presentes de Natal está abaixo da inflação em SP

Câmara revoga novo seguro DPVAT e limita bloqueio de emendas

Senado aprova taxação de 15% sobre lucro de multinacionais

Câmara conclui votação do primeiro projeto do pacote de corte de gastos; texto vai ao Senado