Economia

Milionário é incluído em pesquisa e 'muda' a renda do país

Ipea verificou que, por ser um ponto fora da curva, profissional antecipou uma recuperação mais vigorosa da massa salarial dos trabalhadores ocupados

Dinheiro: segundo a Pnad, a massa de renda real ficou em R$ 184,716 bilhões no quarto trimestre de 2016 (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

Dinheiro: segundo a Pnad, a massa de renda real ficou em R$ 184,716 bilhões no quarto trimestre de 2016 (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de outubro de 2017 às 09h38.

Rio - Um milionário vem dando trabalho aos técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O profissional, que declara ter uma renda de R$ 1 milhão por mês, passou a integrar a amostra da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) em dezembro do ano passado. O IBGE nega que a entrada do milionário tenha influenciado de forma relevante os números, mas o Ipea verificou que, por ser um ponto fora da curva, antecipou uma recuperação mais vigorosa da massa salarial dos trabalhadores ocupados no País.

O peso de cada informante na Pnad é determinado pelo bairro e cidade onde mora. A pesquisa tem tratamento estatístico para corrigir casos extremos, mas esse informante teria entrado na amostra com um peso maior do que o previsto, por conta da região onde reside.

Pela lógica da amostragem, residentes de bairros de classe alta tendem a ter um peso menor na pesquisa por representarem uma fatia pequena da população do País. Se um milionário aparece num bairro com características mais populares, ele acaba ganhando um peso maior do que deveria por ocupar uma vaga que representaria uma parcela maior da população.

"Já aconteceu outras vezes de pegar um informante fora da curva, mas com peso menor. Desta vez calhou de entrar com peso maior. Mas ele não influenciou os resultados. Já estamos trabalhando para minimizar os impactos que esse tipo de eventualidade possa vir a ter nos resultados da pesquisa no futuro", afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Rodízio. Classificado na pesquisa como empregador, o milionário atua no setor de transportes e mora na região metropolitana de São Paulo, mas não teve sua identidade revelada em função do anonimato estatístico previsto em lei. Por conta do rodízio de domicílios previsto na metodologia da pesquisa, ele aparece em cinco meses prestando informações à Pnad Contínua até que deixe a amostra, em dezembro deste ano.

Pelos cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o milionário não teve impacto significativo nos dados sobre a renda média do brasileiro, mas aumentou em cerca de R$ 2 bilhões o resultado da massa de salários em circulação na economia quando começou a aparecer na pesquisa. O crescimento, segundo o Ipea, equivalente a 1 ponto porcentual do incremento registrado no quarto trimestre de 2016.

"Ele afeta muito pouco a renda, mas altera a massa quando multiplica a renda dele pelo peso que ele tem na amostra. Não muda a trajetória da pesquisa, a leitura permanece de recuperação lenta e gradual no mercado de trabalho. A massa teria crescido menos sem ele, mas a tendência de alta continuaria a mesma. Isso explica por que a massa salarial teria respondido de forma mais rápida do que a média salarial", avaliou Sandro Sacchet de Carvalho, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea.

Segundo a Pnad, a massa de renda real ficou em R$ 184,716 bilhões no quarto trimestre de 2016, um avanço de 2,16% em relação ao terceiro trimestre daquele ano, já descontada a inflação. No mesmo período, a renda média real subiu 1,75%, de R$ 2.061 para R$ 2.097. "Ele afetou quando entrou na amostra, no último trimestre de 2016, e só vai voltar a afetar agora quando sair, no primeiro trimestre de 2018, mas vai gerar o efeito contrário, de redução na massa", estimou Carvalho.

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