Mercado desmonta apostas em alta da Selic
Se o mercado questionou decisão do BC de manter a Selic estável após sinalizar o contrário, as críticas também deveriam ser esperadas para a ata da reunião
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 20h53.
Não poderia ser diferente. Se o mercado questionou a decisão do Banco Central de manter a Selic estável depois de sinalizar o contrário nas semanas anteriores, repetindo o “cavalo de pau” de agosto de 2011, as críticas também deveriam ser esperadas para a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira.
Para os analistas, o BC reforçou uma postura mais branda, ou "dovish" como se diz no mercado, em relação à inflação. O documento, visto como em linha com os sinais mais amplos de mudança na política econômica, seria uma repetição do erro de política monetária de cinco anos atrás, segundo o economista José Marcio Camargo, sócio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos.
A alta da Selic projetada pelo mercado para os Copoms de março e abril, que estava em, respectivamente, 23,6 e 16,4 pontos ontem, caiu para 16,15 e 11,50 pontos hoje após a ata. Considerando-se que os juros no mercado também embutem outros riscos, como os políticos, e não apenas a expectativa para a Selic, as projeções de alta já são apenas marginais e se aproximam de zero.
Foi uma “tentativa canhestra” de justificar a decisão do Copom de não subir o juro apesar da piora das expectativas de inflação, diz Camargo. Para ele, o BC ignora a piora das expectativas, que são “o fundamento do regime de metas de inflação.”
Camargo viu na ata vários sinais de um BC menos comprometido em usar a alta de juros para conter a inflação. Um deles, no parágrafo 22, foi a retirada da expressão “expectativas de inflação”, substituída por “incertezas geradas pelos baixos preços do petróleo e suas implicações para empresas do setor e países produtores, bem como para os mercados financeiros em geral, com riscos para a estabilidade financeira global.”
Para Camargo, outro sinal de menor comprometimento foi ter passado a dizer que a política monetária está “vigilante”, e não mais “especialmente vigilante”, como na ata anterior. Um terceiro sinal foi dizer que o BC vai continuar monitorando o cenário para definir seus próximos passos , mas sem definir um prazo. Na ata anterior, o BC dizia claramente que seria “até sua próxima reunião.”
Camargo diz que, ainda que as incertezas sobre a China e o petróleo tenham aumentado, como relata o BC na ata do Copom, isso não justifica ter mantido a Selic estável, pois não há garantia de que a turbulência externa ajuda a diminuir a inflação no Brasil. Pode até atrapalhar, pois o maior risco externo, se for concretizado, tende a pressionar o dólar, gerando mais inflação, e não menos, diz o economista.
Também para o economista do BBVA, Enestor dos Santos, a análise de que a queda do petróleo e outras matérias primas ajudará a reduzir a inflação não é tão óbvia, pois a baixa das commodities poderia gerar desvalorização do real e aumento dos preços domésticos. “Vejo um BC um pouco apressado em mostrar que o impacto vai derrubar inflação e demasiado peso no setor internacional.”
Camargo, da Opus, considera um equívoco a decisão do BC e também a mudança de rota do governo como um todo, ao tentar estimular o crédito. Para ele, a população já está muito endividada e o baixo crescimento se deve à falta de confiança, não de crédito. O governo deveria fazer reformas e reduzir os custos da economia, e não aumentar com elevações de impostos e do salário mínimo. “Estamos estimulando a inflação e não a produção”, diz o economista.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, também questiona o fato de o BC colocar ênfase no cenário externo e desprezar o fato de a inflação estar se desviando do centro da meta. Para ele, o mercado tende a zerar todas as apostas em altas de juros e mais à frente poderá passar a considerar até mesmo cortes. Além de a mensagem do BC na ata ter se tornado mais branda, ela é coerente com os sinais de mudança na política econômica, afirma Padovani. Para ele, há um “novo ambiente”, que favorece uma política mais dovish por parte do BC.
--Com a colaboração de Mario Sergio Lima.
Não poderia ser diferente. Se o mercado questionou a decisão do Banco Central de manter a Selic estável depois de sinalizar o contrário nas semanas anteriores, repetindo o “cavalo de pau” de agosto de 2011, as críticas também deveriam ser esperadas para a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira.
Para os analistas, o BC reforçou uma postura mais branda, ou "dovish" como se diz no mercado, em relação à inflação. O documento, visto como em linha com os sinais mais amplos de mudança na política econômica, seria uma repetição do erro de política monetária de cinco anos atrás, segundo o economista José Marcio Camargo, sócio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos.
A alta da Selic projetada pelo mercado para os Copoms de março e abril, que estava em, respectivamente, 23,6 e 16,4 pontos ontem, caiu para 16,15 e 11,50 pontos hoje após a ata. Considerando-se que os juros no mercado também embutem outros riscos, como os políticos, e não apenas a expectativa para a Selic, as projeções de alta já são apenas marginais e se aproximam de zero.
Foi uma “tentativa canhestra” de justificar a decisão do Copom de não subir o juro apesar da piora das expectativas de inflação, diz Camargo. Para ele, o BC ignora a piora das expectativas, que são “o fundamento do regime de metas de inflação.”
Camargo viu na ata vários sinais de um BC menos comprometido em usar a alta de juros para conter a inflação. Um deles, no parágrafo 22, foi a retirada da expressão “expectativas de inflação”, substituída por “incertezas geradas pelos baixos preços do petróleo e suas implicações para empresas do setor e países produtores, bem como para os mercados financeiros em geral, com riscos para a estabilidade financeira global.”
Para Camargo, outro sinal de menor comprometimento foi ter passado a dizer que a política monetária está “vigilante”, e não mais “especialmente vigilante”, como na ata anterior. Um terceiro sinal foi dizer que o BC vai continuar monitorando o cenário para definir seus próximos passos , mas sem definir um prazo. Na ata anterior, o BC dizia claramente que seria “até sua próxima reunião.”
Camargo diz que, ainda que as incertezas sobre a China e o petróleo tenham aumentado, como relata o BC na ata do Copom, isso não justifica ter mantido a Selic estável, pois não há garantia de que a turbulência externa ajuda a diminuir a inflação no Brasil. Pode até atrapalhar, pois o maior risco externo, se for concretizado, tende a pressionar o dólar, gerando mais inflação, e não menos, diz o economista.
Também para o economista do BBVA, Enestor dos Santos, a análise de que a queda do petróleo e outras matérias primas ajudará a reduzir a inflação não é tão óbvia, pois a baixa das commodities poderia gerar desvalorização do real e aumento dos preços domésticos. “Vejo um BC um pouco apressado em mostrar que o impacto vai derrubar inflação e demasiado peso no setor internacional.”
Camargo, da Opus, considera um equívoco a decisão do BC e também a mudança de rota do governo como um todo, ao tentar estimular o crédito. Para ele, a população já está muito endividada e o baixo crescimento se deve à falta de confiança, não de crédito. O governo deveria fazer reformas e reduzir os custos da economia, e não aumentar com elevações de impostos e do salário mínimo. “Estamos estimulando a inflação e não a produção”, diz o economista.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, também questiona o fato de o BC colocar ênfase no cenário externo e desprezar o fato de a inflação estar se desviando do centro da meta. Para ele, o mercado tende a zerar todas as apostas em altas de juros e mais à frente poderá passar a considerar até mesmo cortes. Além de a mensagem do BC na ata ter se tornado mais branda, ela é coerente com os sinais de mudança na política econômica, afirma Padovani. Para ele, há um “novo ambiente”, que favorece uma política mais dovish por parte do BC.
--Com a colaboração de Mario Sergio Lima.