Mercado de flores sobrevive à crise
Expoflora, em Holambra, interior de São Paulo, é palco e lançamentos do setor, que não para de crescer mesmo em tempos de crise financeira
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 11h45.
Última atualização em 25 de agosto de 2017 às 15h51.
Do primeiro contato com as mudas até o início da comercialização da planta foram oito anos de trabalho. Agora, com produção anual estimada em 30 mil unidades, o produtor de plantas ornamentais Celso Fontana está pronto para atender à demanda pela Hoya Kerrii, conhecida como cacto-coração: uma única folha enraizada, vendida em vasinhos de 6 ou 11 cm de diâmetro. "Trouxemos as primeiras mudas da Holanda e, por se tratar de uma planta originária da Tailândia e não um produto desenvolvido em laboratório, não precisamos pagar royalties", explica Fontana.
Ele vai aproveitar a Expoflora, exposição de flores e plantas que começa hoje e vai até 24 de setembro, em Holambra (SP), para apresentar o cacto-coração, pouco encontrado no Brasil. A feira , que recebeu 328 mil visitantes no ano passado, é palco de lançamentos do setor, que não para de crescer mesmo em tempos de crise financeira.
Para este ano, a previsão do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) é de avanço de 9% em todo o País, com faturamento de R$ 7,2 bilhões, acima dos R$ 6,6 bilhões de 2016. Considerando apenas as cooperativas de Holambra, que respondem por 45% da comercialização nacional, o crescimento do setor deve chegar a 11%
"Em épocas de crise nunca tivemos quedas grandes nas vendas. Além das datas festivas, que tradicionalmente têm consumo maior, quem já costuma ter flores em casa não quer abrir mão disso", diz Kees Schoenmaker, presidente do Ibraflor e sócio de um dos principais grupos produtores de Holambra, o Terra Viva.
É das estufas de lá que está saindo a versão em miniatura dos tradicionais antúrios vermelhos, com flores que chegam a ter apenas 2 cm. Neste caso, o pagamento de royalty pela produção a partir de mudas importadas é obrigatória.
A oferta de plantas em tamanho reduzido, como já acontece com as orquídeas, vem ganhando força, com vistas ao consumidor que tem pouco - ou nenhum - espaço para manter um jardim. E, com preços também menores, ajuda a melhorar os números do setor. "Em épocas de dificuldade financeira o consumidor de flores ajusta o preço da planta a seu orçamento, sem deixar de comprar", afirma a gerente de vendas do Terra Vida, Bia Mazzer. O miniantúrio, por exemplo, deve chegar ao varejo por preço em torno de R$ 12.
A planta também estará na Expoflora, um bom canal de divulgação de plantas - novas ou com produção já estabelecida - para o consumidor. "Mais do que vendas expressivas, a feira traz muita visibilidade", diz Bia.
A Terra Viva é parceira tradicional da Expoflora. Desde 1983, é montado ali um campo de flores silvestres para receber visitantes da feira. "As pessoas têm a ideia de que a produção de flores é uma coisa caseira e, quando chegam à fazenda, se surpreendem com a estrutura", conta Bia. Quase todos os 150 produtos do grupo são cultivados em estufas climatizadas.
O empenho dos produtores para aumentar a clientela é justificado: há espaço para crescer, mesmo nos mercados estabelecidos, como São Paulo. De acordo com o Ibraflor, o consumo anual de flores no Brasil é de R$ 26,50 por pessoa, bem distante dos R$ 150 dos europeus.