A mensagem de Buffett
Num momento em que todos estão encantados com o crescimento da China, o maior investidor do mundo decide aplicar 26 bilhões de dólares numa ferrovia americana. Em se tratando de Warren Buffett, é bom pensar no que isso significa
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 09h33.
Warren Buffett construiu seu patrimônio da maneira mais difícil que se conhece na vida dos negócios: tomando decisões simples. É algo que, na prática, muito pouca gente consegue. Deveria ser justamente o contrário, pois procurar soluções simples parece claramente preferível a procurar soluções complicadas, mas não é assim que os grandes decisores se comportam nas empresas -- seja porque não conseguem entender o que é uma coisa simples, seja porque, mesmo tendo entendido, convencem a si próprios de que sua competência, prestígio e sucesso nos resultados só se sustentam com ideias e ações de alta complexidade. Simples, para Buffett, é tudo aquilo que é evidente pela lógica comum -- ou seja, tudo aquilo que uma pessoa normal não tem trabalho para entender. Uma de suas convicções fundamentais é comprar ações que estejam baratas de preferência a ações que estejam caras, dentro do raciocínio, universalmente aplicado, segundo o qual é melhor pagar menos do que pagar mais por produtos que sejam equivalentes. Outra é concentrar seus investimentos em empresas que produzam, comprovadamente, coisas de consumo garantido, fácil e maciço -- e que façam isso há muito tempo. É assim que Buffett se tornou, por exemplo, o maior acionista da Coca-Cola. No ano passado, investiu cerca de 4,5 bilhões de dólares na Wrigleys americana, que vem fabricando e vendendo chicletes há 119 anos. Acha um bom negócio ser acionista da General Electric, empresa que, ao lado de equipamentos de ponta, continua a fabricar lâmpadas, locomotivas, geladeiras e outros produtos de grande antiguidade.
O que estaria um investidor como Warren Buffett, então, fazendo num negócio como a compra da Burlington Northern Santa Fe -- uma estrada de ferro? Trata-se, na verdade, do maior investimento já feito por sua empresa, a Berkshire Hathaway, num montante de 26 bilhões de dólares. A ferrovia, que opera nos Estados Unidos e tem conexões para Canadá e México, transporta basicamente produtos que são comercializados há séculos e têm consumo permanente -- carvão, cereais, madeira --, o que combina com o perfil de Buffett. Mas tirar do bolso esse dinheiro todo para aplicar num negócio que depende criticamente do dinamismo econômico existente à sua volta, justo num momento em que a economia americana inspira índices baixíssimos de confiança? Ao anunciar a transação, na semana passada, Buffett disse que está fazendo "uma aposta com todas as fichas nos Estados Unidos". É uma atitude de prudência prestar atenção nisso. O mundo, como se diz com frequência cada vez maior, caminha para ser um "G1" -- e esse "1" é a China. O valor do dólar continua a se desfazer. A imagem da economia americana, exposta diariamente, mostra consumo em baixa, setores inteiros em crise, falências, desemprego, queda nos padrões de vida e por aí afora. Mas ainda parece cedo para decretar que os Estados Unidos estão a caminho de se tornar um país irrelevante, ou perto disso, na economia mundial. Mr. Buffett, pelo menos, não está convencido de que seja assim.
Warren Buffett construiu seu patrimônio da maneira mais difícil que se conhece na vida dos negócios: tomando decisões simples. É algo que, na prática, muito pouca gente consegue. Deveria ser justamente o contrário, pois procurar soluções simples parece claramente preferível a procurar soluções complicadas, mas não é assim que os grandes decisores se comportam nas empresas -- seja porque não conseguem entender o que é uma coisa simples, seja porque, mesmo tendo entendido, convencem a si próprios de que sua competência, prestígio e sucesso nos resultados só se sustentam com ideias e ações de alta complexidade. Simples, para Buffett, é tudo aquilo que é evidente pela lógica comum -- ou seja, tudo aquilo que uma pessoa normal não tem trabalho para entender. Uma de suas convicções fundamentais é comprar ações que estejam baratas de preferência a ações que estejam caras, dentro do raciocínio, universalmente aplicado, segundo o qual é melhor pagar menos do que pagar mais por produtos que sejam equivalentes. Outra é concentrar seus investimentos em empresas que produzam, comprovadamente, coisas de consumo garantido, fácil e maciço -- e que façam isso há muito tempo. É assim que Buffett se tornou, por exemplo, o maior acionista da Coca-Cola. No ano passado, investiu cerca de 4,5 bilhões de dólares na Wrigleys americana, que vem fabricando e vendendo chicletes há 119 anos. Acha um bom negócio ser acionista da General Electric, empresa que, ao lado de equipamentos de ponta, continua a fabricar lâmpadas, locomotivas, geladeiras e outros produtos de grande antiguidade.
O que estaria um investidor como Warren Buffett, então, fazendo num negócio como a compra da Burlington Northern Santa Fe -- uma estrada de ferro? Trata-se, na verdade, do maior investimento já feito por sua empresa, a Berkshire Hathaway, num montante de 26 bilhões de dólares. A ferrovia, que opera nos Estados Unidos e tem conexões para Canadá e México, transporta basicamente produtos que são comercializados há séculos e têm consumo permanente -- carvão, cereais, madeira --, o que combina com o perfil de Buffett. Mas tirar do bolso esse dinheiro todo para aplicar num negócio que depende criticamente do dinamismo econômico existente à sua volta, justo num momento em que a economia americana inspira índices baixíssimos de confiança? Ao anunciar a transação, na semana passada, Buffett disse que está fazendo "uma aposta com todas as fichas nos Estados Unidos". É uma atitude de prudência prestar atenção nisso. O mundo, como se diz com frequência cada vez maior, caminha para ser um "G1" -- e esse "1" é a China. O valor do dólar continua a se desfazer. A imagem da economia americana, exposta diariamente, mostra consumo em baixa, setores inteiros em crise, falências, desemprego, queda nos padrões de vida e por aí afora. Mas ainda parece cedo para decretar que os Estados Unidos estão a caminho de se tornar um país irrelevante, ou perto disso, na economia mundial. Mr. Buffett, pelo menos, não está convencido de que seja assim.