Consumo: professor do Provar/FIA explicou que, no Brasil, 10% dos mais ricos são responsáveis por 45% do consumo nacional (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de janeiro de 2014 às 14h10.
São Paulo - Dois indicadores fundamentais para o comportamento do consumo no país apresentam melhora, mas os benefícios ainda não apareceram nas vendas do varejo, segundo o professor do conselho do Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA), Claudio Felisoni de Angelo.
Conforme pesquisa do Provar/FIA, em parceria com a Felisoni Consultores Associados, no orçamento das famílias para o primeiro trimestre, 9% ficarão disponíveis para outros gastos, além da alimentação, educação, crediário, habitação, transporte, saúde, cuidados pessoais e vestuário. O porcentual é bem melhor do que os 7,9% do quarto trimestre de 2013, mas ainda aquém dos 11,4% do primeiro trimestre do ano passado.
"O comportamento segue a linha da melhora da taxa da inadimplência (base dados Banco Central), que esperamos recuo de 5% na média do quarto trimestre de 2013 para 4,2% no primeiro trimestre de 2014", declarou. "A percepção de se manter no emprego também está melhorando, mas mesmo com todos esses fatores, não há a conversão em vendas efetivas. As pessoas estão mais cautelosas em termos de consumo", ressaltou Felisoni.
Ele não vê espaço para novas medidas de estímulo ao consumo em 2014, pois há uma relação direta em pressão sobre preços (ou avanço da inflação), o que também pressiona a renda e prejudica o consumo.
"O espaço de manobra do governo para ações desse tipo é muito curto, o que pode ajudar no crescimento pífio das vendas no varejo ampliado (base de dados do IBGE) em 2014", projetou. Felisoni manteve o avanço de 4%, com viés de baixa para 2013, mas não quis cravar um porcentual para 2014. Apenas salientou que será um crescimento bem menor do que o apresentado no ano passado.
Felisoni explicou que, no Brasil, 10% dos mais ricos são responsáveis por 45% do consumo nacional. Nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, o porcentual chega a 25%. "Então, é natural que estímulos ao consumo como desoneração fiscal, redução da taxa de juros, crie um ambiente favorável de expansão de consumo. Mas o consumidor brasileiro tem uma renda média de menos de R$ 2 mil/mês. O oxigênio é relativamente curto". Para ele, o crescimento sustentável do consumo não depende somente de estímulos, mas do avanço da capacidade produtiva, o qual ele não aguarda grandes investimentos neste ano.
Ainda segundo o professor, a Copa do Mundo e as eleições podem ser propulsores das vendas, mas mesmo assim, não contribuirão para o crescimento vigoroso das vendas totais no varejo no ano. "Materiais esportivos, TVs de tela grande, viagens e turismo devem ser beneficiados pelos eventos, mas as vendas de automóveis, imóveis e materiais de construção devem sofrer", falou o especialista.
Com relação à inflação, Felisoni acha que a taxa ficará nos mesmos patamares de 2013. "O governo deve segurar avanços", disse. Questionado se seria por questões eleitorais, o professor foi enfático. "Inflação não é cabo eleitoral, apesar de vez em quando ser usada para isso. A questão é que hoje é a população brasileira quem não aceita mais a inflação", disse.