Economia

Matt Damon, da Water.org: “quero baratear os custos de acesso à água”

Organização co-fundada pelo autor fornece micro-crédito para famílias sem acesso à água potável, que ainda é escasso para 850 milhões em todo o mundo

Matt Damon: “As pessoas pobres pagam mais pela água proporcionalmente do que a classe média" (Ruben Sprich/Reuters)

Matt Damon: “As pessoas pobres pagam mais pela água proporcionalmente do que a classe média" (Ruben Sprich/Reuters)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 22 de março de 2018 às 16h52.

Última atualização em 22 de março de 2018 às 16h54.

Se você assistiu à transmissão do Oscar, provavelmente viu algum comercial em que o ator Matt Damon aparecia segurando um cálice da cerveja Stella Artois, fabricada pelo grupo AB Inbev. A ação era parte de uma campanha da Water.org, uma organização de ajuda humanitária para pessoas sem acesso à água potável, fundada pelo ator Matt Damon e pelo engenheiro Gary White. Em parceria com a cervejaria, a ação é a continuidade de uma campanha global de arrecadação de fundos para ajudar na missão da Water.org — promover o microcrédito para que pessoas possam se conectar à rede pública de água e esgoto.

“As pessoas pobres pagam mais pela água proporcionalmente do que a classe média, e ainda assim não têm dinheiro para arcar diretamente com a instalação de água. Mas elas podem pagar por um empréstimo pequeno, que vai baratear os custos de acesso à água”, diz Matt Damon, em entrevista a EXAME.

Matt Damon é um conhecido ator de Hollywood, que fez sucesso pelo filme Gênio Indomável, obra que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original, ao lado do ator Ben Affleck. Entre suas atuações mais reconhecidas estão as trilogias Bourne e 11 Homens e 1 Segredo e o Resgate do Soldado Ryan. Ele se juntou a Gary White em 2008 para fundar a Water.org, que nasceu da união das organizações H2O Africa, co-fundada por Damon, e da WaterPartners.

A campanha da Water.org aproveitou-se de vários acontecimentos como o Dia da Água, celebrado nesta quinta-feira, e o Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília esta semana, para tratar de um grande problema: 850 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso à água no mundo e 2,3 bilhões não têm saneamento básico. Em perspectiva, são 1 em cada 9 pessoas com dificuldade em obter água potável e 1 em 3 que não têm um banheiro adequado. O que é um aspecto muito comum na vida da classe média — como tomar um copo d’água ou ir ao banheiro — é algo que exige muito tempo e esforço para boa parte da população global. No Brasil, segundo as estimativas da organização, são 5 milhões de pessoas sem água tratada e 25 milhões que não têm saneamento básico.

“Nós queríamos ir além de só cavar poços. Percebemos que havia milhões de pessoas sem acesso a água e que seria difícil solucionar isso utilizando os meios tradicionais de caridade, porque não havia tanto dinheiro entrando para isso. Mas podíamos utilizar os fundos já disponíveis de maneira melhor”, diz a EXAME Gary White, presidente da Water.org. Segundo dados da organização, na média 20% da renda de quem não tem acesso à água é comprometida com a busca ou a compra do recurso. Cerca de 1 milhão de pessoas morrem todos os anos por problemas com água de má qualidade ou pela falta de saneamento adequado.

Segundo Damon, essa ajuda é especialmente benéfica para as mulheres, geralmente as responsáveis por buscar água em regiões onde o acesso é restrito. Essa atividade toma em média 6 horas diárias para essas mulheres e meninas. “Uma vez que há tempo livre porque não é mais preciso passar os dias buscando por água, elas podem voltar a estudar, trabalhar. Há um aumento na renda familiar, que consegue pagar mais facilmente pelo empréstimo. É incrível, é a diferença entre passar uma vida procurando por água e poder fazer planos, sonhar, realizar potencial”, diz Damon.

Atualmente, a Water.org está presente em 13 países e já ajudou mais de 9 milhões de pessoas, com 22 milhões de empréstimos no valor total de 722 milhões de dólares. A organização começou a trabalhar no Brasil recentemente, mas já tem iniciativas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “No Brasil, eu conheci uma mulher que conseguiu um empréstimo e agora tem água encanada em casa. Antes disso, ela comprava água de um vendedor que cobrava 13 vezes mais o que ela paga pela água na torneira. Isso mostra o quanto está voltando pra essas pessoas”, afirmou White.

Campanhas no Brasil

As ações publicitárias da Water.org com a Stella Artois vão seguir no ar durante o restante do mês de março e todo o mês de abril, como parte da campanha #1cálice5anos, que vende o tradicional cálice da Stella Artois, em edição especial. O copo pode ser adquirido no site da cerveja ou em redes de supermercado por 29,90 reais. Parte do dinheiro arrecadado é doado para a Water.org, que reverte a quantia no equivalente a 5 anos de água. A iniciativa entre a Stella Artois e a Water.org surgiu em 2015 e ajudou mais de 1 milhão de pessoas a ter acesso a água desde então. O plano é atingir mais 1 milhão em 2018.

Lá fora, a campanha de 2018 foi iniciada em fevereiro, na final do campeonato de futebol americano, o Superbowl, com um vídeo estrelando o próprio Matt Damon. Na noite do Oscar, quando a campanha comercial foi lançada no Brasil, a Stella Artois atuou em parceria com o canal televisivo TNT, doando fundos para todas as vezes que a palavra “água” fosse dita — lembrando que o vencedor do prêmio de Melhor Filme foi justamente A Forma da Água. O termo foi dito 327 vezes e garantiu o equivalente a 1.635 anos de água potável para uma família.

“Essa é uma preocupação global da Stella Artois, de sensibilizar para essa temática. Por aqui, a ação no Oscar foi uma iniciativa local para encontrarmos um momentos de conversar com o público”, afirma Felipe Santini Ferraz, diretor de marca da Stella Artois no Brasil. Outras campanhas que acontecerão durante o mês incluem retirar toda a água do canal OFF, conhecido pelos esportes aquáticos, ou oferecer garrafas sem água em carros da empresa de transporte privado Cabify, com a mensagem “faça a água chegar a quem mais precisa”.

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