Economia

Maia: Com pandemia, reformas terão de ser discutidas em outro patamar

Presidente da Câmara afirmou que há um "conflito de posições" entre a equipe econômica e "o que pensa o presidente" Jair Bolsonaro

Governo: Maia elogiou "boa relação" do governo federal com partidos do bloco conhecido como Centrão (Lula Marques/Divulgação)

Governo: Maia elogiou "boa relação" do governo federal com partidos do bloco conhecido como Centrão (Lula Marques/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de maio de 2020 às 11h37.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 12h06.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em transmissão ao vivo do Santander nesta quinta-feira (7) estar convencido de que, com o endividamento público caminhando para "90%, 95%" do Produto Interno Bruto (PIB) devido às medidas para combater a crise do novo coronavírus, reformas como a administrativa e a tributária terão de ser discutidos "em outro patamar" no segundo semestre.

"Para controlar uma relação dívida/PIB maior, o remédio talvez tenha que ser maior, também", disse, referindo-se à repactuação do tamanho do Estado brasileiro e, principalmente, às despesas com salários de novos servidores públicos. Ele ponderou, contudo que o momento para promover essas discussões não é este, pois a prioridade agora é buscar soluções de curto prazo para os efeitos da pandemia de covid-19.

Sobre a votação do socorro a Estados e municípios, com um alívio financeiro total de R$ 125 bilhões - R$ 60 bilhões em repasses diretos da União -, Maia alertou sobre como a contrapartida do congelamento dos reajustes para determinadas categorias não traz qualquer economia em um momento de queda de arrecadação. Relatou ainda, que a Câmara decidiu "não entrar em atrito com o Senado" na inclusão de professores entre as categorias imunes ao congelamento.

O presidente da Câmara reforçou, por outro lado, ser positivo que o governo federal tenha iniciado uma "boa relação" com partidos do bloco conhecido como Centrão, que votaram em acordo com o Planalto nessa matéria.

"Organizar essa base de forma transparente, aberta, acho que ajuda o governo. O governo estava sem partido para pedir verificação de votação nas matérias de interesse do governo", comentou Maia. "Formar uma base é importante com partidos que têm influência e experiência no Congresso."

O deputado não crê, no entanto, que os partidos que aderiram à base do governo, como o Progressistas, vão "mudar a sua agenda".

Ministério da economia x Bolsonaro

Maia afirmou que há um "conflito de posições" e uma "divisão" no governo federal entre a equipe econômica, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e "o que pensa o presidente" Jair Bolsonaro. "A crise política atrapalha. Estamos tentando reduzir o tensionamento", disse. "A Câmara vem tentando contribuir no combate ao coronavírus."

Na avaliação de Maia, os problemas provocados pela crise sanitária e econômica da pandemia de covid-19 se acentuam ainda com os conflitos políticos no Palácio do Planalto, evidenciado recentemente pelas saídas dos agora ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) da Saúde e Sérgio Moro da Justiça e Segurança Pública.

Para ele, a sociedade fica ainda mais preocupada em relação à gestão da crise e a soluções futuras para os efeitos da pandemia quando olha o conflito político em Brasília.

"Tanto do Supremo Tribunal Federal quanto do Congresso têm vindo reações de não estimular o conflito, uma crise política nesse momento", disse Maia. "A reação nunca tem sido uma resposta dura a algumas posições mais duras do presidente."

No início de sua fala na live, o presidente da Câmara comentou que, quando o surto do novo coronavírus começou na China, todos os países demoraram a se preparar. "O Brasil faz parte disso. (Mas) não é uma crítica ao governo."

Maia alertou sobre como, se a saída da crise não for bem organizada, o custo da dívida será "amargo" para a sociedade. "Daqui para frente, não faremos nada que não seja articulado com a equipe econômica", garantiu. "Não tem como fazer milagre. A conta dessa crise terá de ser paga."

Como a retomada da economia não será "simples", será preciso "diálogo com o governo", acrescentou. Ele enxerga, contudo, a possibilidade de a mobilização precipitada pelos efeitos da pandemia gerar um "realinhamento" para melhorar marcos regulatórios para investimentos.

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