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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h43.
Por Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos*
Passado o pior momento da crise financeira internacional (que, definitivamente, não foi uma "marolinha"...), a economia brasileira retomou seu crescimento no segundo semestre de 2009 e parece apropriado traçar o possível cenário deste ano de eleições.
Depois de um período de inflação absolutamente sob controle, o mês de janeiro terminou com notícias menos tranquilas: ocorreu uma apreciação do dólar americano a partir da metade do mês e o tradicional "repique" inflacionário de início de ano contou com o acréscimo dos custos de importação, além dos problemas causados por um recorde de chuvas na região centro-sul, que certamente contribuiu para a elevação dos preços dos hortifrutículas.
A apreciação do dólar, conquanto benéfica para os exportadores, sinaliza na direção de um aumento da percepção de risco na economia mundial. Por um lado, o enorme déficit público dos países do hemisfério norte, em particular das economias de alguns países europeus, provocou uma mudança de posição nos portfólios da maioria dos investidores internacionais, preocupados com a possibilidade de default na dívida soberana desses países. Os resultados divulgados no início de fevereiro mostram, de maneira clara, a extensão dos danos sofridos pela economia europeia, mesmo na Alemanha e na França, bem como a lenta retomada do crescimento dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, o governo chinês vem manifestando preocupação em reduzir o ritmo de crescimento da economia, modificando por vezes consecutivas o depósito compulsório dos bancos junto ao banco central e sinalizando na direção de um controle mais efetivo do crédito no país. Essas medidas poderão redundar em redução na velocidade do crescimento econômico da China, que se constituiria num problema adicional para a economia mundial. Por todas essas razões, a volatilidade se acentuou.
Como consequência desse quadro e a partir dos resultados da execução fiscal de 2009, em que ocorreu uma grande redução do superávit primário e foi registrado um resultado fiscal negativo da ordem de 3% do PIB, parece claro que haverá uma elevação dos juros básicos ainda neste primeiro semestre.
Essa elevação, contudo, dependerá basicamente da exata dimensão do problema fiscal: diante de uma melhoria do quadro, o Banco Central poderá atuar de forma mais suave, promovendo uma aceleração gradual da taxa SELIC. Considerando que a realização das eleições presidenciais em outubro sinaliza na direção da postergação de reformas estruturais que ainda se fazem necessárias, resta esperar que as amarras da Lei de Responsabilidade Fiscal e da legislação eleitoral venham a contribuir para uma melhor execução fiscal, o que certamente permitirá uma menor elevação dos juros. No entanto, parece claro que o atual patamar da taxa básica vai subir dos 8,75% a.a. atuais, para um patamar de 11% a 11,5% no final do exercício.