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Lucro de empresas deve ter leve recuperação no segundo trimestre

Mercado espera resultados melhores que os do primeiro trimestre, mas ainda muito menores que os observados no segundo trimestre de 2008

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2009 às 10h36.

O mercado espera que o lucro das empresas brasileiras registre uma leve recuperação neste segundo trimestre. A percepção dos analistas é de que a fase mais aguda da crise já ficou para trás, mas as companhias abertas ainda devem demorar para retomar os patamares de lucratividade do período pré-crise.

Segundo números da consultoria Economática, fatores extraordinários impediram que o primeiro trimestre deste ano fosse ainda pior que os três meses anteriores. O lucro de 291 empresas com ações listadas na BM&FBovespa alcançou 18,8 bilhões de reais entre janeiro e março, um avanço de 46,8% sobre o período outubro-dezembro. No entanto, se for desconsiderado o prejuízo de 10,8 bilhões de reais registrado no quarto trimestre por apenas cinco empresas que tiveram baixas contábeis ou perdas financeiras (Braskem, TAM, Sadia, Aracruz e Cesp), o lucro teria sido 20,3% menor entre janeiro e março.

A geração de caixa das empresas também comprova que a recuperação, na realidade, ainda não começou. O ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) das 291 empresas teve um crescimento de 17,9%, para 33,3 bilhões de reais. Um olha mais atento sobre os números, entretanto, mostra que essa expansão não representa uma melhoria do resultado operacional das companhias. Se forem excluídas apenas a Itaúsa e a Cesp, o ebtida das empresa teria registrado uma queda de 10,3% no primeiro trimestre.

A comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado também explicita os efeitos da crise sobre as empresas brasileiras. A queda do ebitda – o indicador que reflete mais fielmente o resultado operacional das empresas - foi de 23,1%, enquanto o lucro líquido encolheu ainda mais: 26,2%.

O que esperar do segundo trimestre

A corretora Ativa mantém a cautela em relação ao futuro das empresas abertas, mas vê indícios de recuperação neste segundo trimestre. A Ativa prevê um aumento no nível de produção e vendas, principalmente nos setores relacionados às commodities destinadas ao mercado asiático, nos que receberam incentivos fiscais do governo e nas empresas de varejo com tíquete médio baixo. "Acreditamos que o segundo trimestre de 2009 começará a mostrar uma desaceleração da queda anual de desempenho operacional e uma leve recuperação trimestral", afirmou.

Entre as empresas, a corretora aposta em bons resultados para o setor de telecomunicações (GVT e Net), energia (AES Tietê e Cesp), shopping centers (BRMalls), consumo (Natura e AmBev), tecnologia (Totvs), varejo (Pão de Açúcar, Lojas Americanas) e logística (ALL).

Para José Góes, economista e analista da corretora Wintrade, a melhora aparente nos resultados é reflexo dos indícios de melhora na economia, que traz de volta a confiança dos investidores. Como consequência, os números das empresas devem vir melhores neste trimestre, mas ainda com uma recuperação gradual.

Ajuste dos estoques quase no fim

Com a brusca desaceleração generalizada da economia mundial, os estoques das companhias não conseguiram se ajustar a tempo de prevenir grandes perdas nos últimos dois trimestres. Alguns meses mais tarde, a adaptação ao cenário mais adverso parece encaminhada e as indústrias já se preparam para o momento de aquecimento do consumo.

As companhias ligadas às commodities foram as que mais sentiram a desaceleração dentro do país, em especial Vale, Petrobras e siderúrgicas, na visão de Góes. Segundo ele, tais empresas retardaram os investimentos em resposta ao desaquecimento econômico e houve um erro de previsão para o estoque, já que não era esperada uma queda tão brusca.

"O ajuste de estoque parece que está na sua fase final, o que indica que novos pedidos podem chegar às indústrias. Porém, é importante destacar que a dinâmica e a intensidade dessa recuperação ainda não estão delimitados", explicou a Ativa.

Mesmo com os sinais de aumento no nível de produção e de vendas, a perspectiva ainda é de que ocorra uma recuperação lenta e gradual, tanto na economia real quanto nos resultados das companhias.

Volta do crédito

Os analistas também estão otimistas em relação à melhora do crédito, que secou durante os períodos mais agudos da crise. Desde abril, os bancos brasileiros vêm apontando para uma inversão da tendência de diminuição do crédito e melhoraram as condições para os tomadores. Para a Ativa, a demanda por crédito segue fraca, mas o aumento dos prazos dos empréstimos e a redução dos juros deverão levar a ganhos de participação para os bancos que possuem provisões mais robustas para possíveis perdas.

Ainda que uma melhora tenha sido observada, os bancos brasileiros foram apontados como uma das surpresas negativas no primeiro trimestre. Conforme lembrou a corretora do Santander, que trabalha de forma independente do banco, os resultados do setor financeiro vieram abaixo do esperado. Com a normalização do ambiente macroeconômico, a expectativa é que os bancos voltem a ter lucros robustos.

Efeitos do real mais forte

Outra mudança significativa no cenário atual foi o movimento de valorização do real frente ao dólar, revertendo a tendência observada a partir do segundo semestre de 2008. Com a cotação da divisa americana de volta ao patamar dos 2 reais, empresas com dívidas nessa moeda devem se favorecer, enquanto que os balanços das exportadoras podem sair prejudicados.

Jayme Alves, analista de investimentos da Spinelli, acredita que as exportadores que conseguirem aproveitar o arrefecimento da crise para vender mais poderão compensar a queda do dólar. Além disso, muitas exportadoras possuem dívidas em dólar ou fecham contratos de "hedge" para se proteger de oscilações da moeda americana.

"Operacionalmente, não dá para saber o que vai pesar mais: a queda do dólar sobre as receitas em dólar ou o ligeiro aumento de vendas", explicou. Para José Góes, os preços mais baixos das exportações também podem ser compensados caso as companhias passem a negociar em outra moeda, como o euro.

Perspectivas e desempenhos setoriais

Uma melhora sustentável nos resultados, porém, só deve aparecer mesmo conforme a economia real der sinais mais efetivos de recuperação. Por enquanto, fica a expectativa de uma melhora ainda lenta. Voltar aos patamares elevados de antes da crise financeira se agravar continua sendo uma possibilidade mais remota.

"A gente saiu do fundo do poço, os números melhoraram marginalmente, mas voltar a patamares elevados, principalmente o das economias desenvolvidas de antes da crise, pode demorar um pouco", explicou Góes.

Os setores mais voltados ao mercado interno foram aqueles que apresentaram os melhores resultados, em especial as companhias ligadas a serviços públicos, segundo os analistas consultados. A corretora Ativa apontou cinco setores como donos de melhorias operacionais mais significativas: açúcar e álcool, aviação, consumo, construção civil e logística.

Para a equipe do Santander, poucas empresas divulgaram resultados abaixo das estimativas - mas as expectativas também não eram otimistas. "Os setores de commodities, como esperado, ficaram com a pior performance. Mineração foi muito decepcionante, enquanto petróleo e gás surpreenderam positivamente, com os resultados acima do esperado da Petrobras", ressaltou.

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