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Irmandade de Mursi deve pagar por desvalorização da moeda

Vida no Egito está prestes a ficar mais difícil para a população que vai ter que suportar o peso da inflação provocada por uma queda no valor da moeda

Mohamed Mursi, presidente do Egito: queda da libra e a inflação que a acompanha vão complicar a tarefa de Mursi, que tenta reviver uma economia fragilizada (Alberto Pizzoli/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2013 às 09h54.

Cairo - A vida no Egito está prestes a ficar mais difícil para a população que vai ter que suportar o peso da inflação provocada por uma queda no valor da moeda. À medida que as eleições se aproximam, a Irmandade Muçulmana do presidente Mohamed Mursi pode ter que pagar um preço político.

Depois de uma queda de 3,2 por cento no valor da libra egípcia contra o dólar nesta semana, alguns importadores e comerciantes disseram que estão trabalhando com uma queda ainda maior e que a incerteza será refletida na alta dos preços.

Em um país que importa a maior parte de seus alimentos, inclusive itens básicos como açúcar, chá e óleo de cozinha, isso será muito sentido. Cerca de dois quintos dos egípcios vivem na linha de pobreza com menos de 2 dólares por dia e dependem de artigos subsidiados pelo Estado, como pão, para viver.

Embora os preços dos itens subsidiados permaneçam iguais, o custo de outros bens importados deve subir, aumentando ainda mais a fúria e o ressentimento que nunca está muito longe da superfície, e elevando o potencial para a agitação.

"Seremos obrigados a elevar os preços -não é escolha nossa, não é avidez corporativa- ou fechamos", disse Sherif Abouzeid, gerente-executivo da Global Counter and Trade Offset Co., que importa chá da Índia.

"As pessoas estão desesperadas. Elas mal estão conseguindo sobreviver e mal conseguem alimentar suas famílias. É com esse tipo de cliente que trabalhamos. Agora, mesmo a xícara de chá deles vai ficar mais cara." A libra manteve a queda na quarta-feira, chegando a 6,39 com relação ao dólar, em comparação a 6,185 na semana passada.


Depois que Hosni Mubarak foi derrubado, o Banco Central usou as reservas externas do Egito para defender a moeda. Até a semana passada, a libra tinha perdido apenas 6 por cento de seu valor nos 23 meses de instabilidade política desde a queda de Mubarak.

Dando indícios de que não tinha mais reservas suficientes para defender a libra, o Banco Central no domingo introduziu um novo sistema para vender dólares e preservar o que sobrou de moeda estrangeira.

As reservas caíram de 36 bilhões de dólares na véspera do levante que tirou Mubarak do poder para cerca de 15 bilhões de dólares em novembro, o suficiente para cobrir três meses de importações do país de 83 milhões de habitantes.

A queda da libra e a inflação que a acompanha vão complicar a tarefa de Mursi, que tenta reviver uma economia fragilizada por dois meses de agitações.

A política de confronto da nova democracia do Egito já surge como um importante fator de influência.

Diante de uma reação nas ruas à sua medida de aprovar rapidamente uma Constituição que muitos enxergam como repressiva, no mês passado Mursi adiou o aumento dos impostos que pode ser parte de um pacote de austeridade necessário para garantir um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mursi se encontra diante de uma escolha difícil: o empréstimo do FMI é visto como vital para tirar o país de sua crise financeira e evitar uma queda incontrolável do valor da moeda. Mas para obter o empréstimo, Mursi certamente terá que levar adiante medidas impopulares.

Qualquer uma das opções trará custos políticos grandes.

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Cairo - A vida no Egito está prestes a ficar mais difícil para a população que vai ter que suportar o peso da inflação provocada por uma queda no valor da moeda. À medida que as eleições se aproximam, a Irmandade Muçulmana do presidente Mohamed Mursi pode ter que pagar um preço político.

Depois de uma queda de 3,2 por cento no valor da libra egípcia contra o dólar nesta semana, alguns importadores e comerciantes disseram que estão trabalhando com uma queda ainda maior e que a incerteza será refletida na alta dos preços.

Em um país que importa a maior parte de seus alimentos, inclusive itens básicos como açúcar, chá e óleo de cozinha, isso será muito sentido. Cerca de dois quintos dos egípcios vivem na linha de pobreza com menos de 2 dólares por dia e dependem de artigos subsidiados pelo Estado, como pão, para viver.

Embora os preços dos itens subsidiados permaneçam iguais, o custo de outros bens importados deve subir, aumentando ainda mais a fúria e o ressentimento que nunca está muito longe da superfície, e elevando o potencial para a agitação.

"Seremos obrigados a elevar os preços -não é escolha nossa, não é avidez corporativa- ou fechamos", disse Sherif Abouzeid, gerente-executivo da Global Counter and Trade Offset Co., que importa chá da Índia.

"As pessoas estão desesperadas. Elas mal estão conseguindo sobreviver e mal conseguem alimentar suas famílias. É com esse tipo de cliente que trabalhamos. Agora, mesmo a xícara de chá deles vai ficar mais cara." A libra manteve a queda na quarta-feira, chegando a 6,39 com relação ao dólar, em comparação a 6,185 na semana passada.


Depois que Hosni Mubarak foi derrubado, o Banco Central usou as reservas externas do Egito para defender a moeda. Até a semana passada, a libra tinha perdido apenas 6 por cento de seu valor nos 23 meses de instabilidade política desde a queda de Mubarak.

Dando indícios de que não tinha mais reservas suficientes para defender a libra, o Banco Central no domingo introduziu um novo sistema para vender dólares e preservar o que sobrou de moeda estrangeira.

As reservas caíram de 36 bilhões de dólares na véspera do levante que tirou Mubarak do poder para cerca de 15 bilhões de dólares em novembro, o suficiente para cobrir três meses de importações do país de 83 milhões de habitantes.

A queda da libra e a inflação que a acompanha vão complicar a tarefa de Mursi, que tenta reviver uma economia fragilizada por dois meses de agitações.

A política de confronto da nova democracia do Egito já surge como um importante fator de influência.

Diante de uma reação nas ruas à sua medida de aprovar rapidamente uma Constituição que muitos enxergam como repressiva, no mês passado Mursi adiou o aumento dos impostos que pode ser parte de um pacote de austeridade necessário para garantir um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mursi se encontra diante de uma escolha difícil: o empréstimo do FMI é visto como vital para tirar o país de sua crise financeira e evitar uma queda incontrolável do valor da moeda. Mas para obter o empréstimo, Mursi certamente terá que levar adiante medidas impopulares.

Qualquer uma das opções trará custos políticos grandes.

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