Contêineres em porto: a infraestrutura é o calcanhar de aquiles do Brasil (Martin Pollard/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 21 de junho de 2021 às 15h33.
Última atualização em 21 de junho de 2021 às 16h44.
O Brasil foi o país da América Latina que teve a maior queda de investimentos estrangeiros em 2020. Segundo o Monitor de Tendências de Investimentos Globais divulgado nesta segunda-feira, 21, pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad na sigla em inglês), o Investimento Estrangeiro Direto foi 62% menor no país no ano passado em comparação a 2019.
Com o resultado, em 2020, o Brasil recebeu o menor valor em investimentos estrangeiros das últimas duas décadas. No ano, entraram 24,8 bilhões de dólares no país, enquanto em 2019, o investimento estrangeiro havia sido de 65,4 bilhões de dólares.
Com isso, no ano passado o Brasil caiu da sexta posição, que ocupava em 2019 no ranking dos países que mais recebem investimento estrangeiro direto, para o 11º lugar.
A região total da América Latina e Caribe, segundo o relatório, teve uma redução de 45% nos investimentos estrangeiros, para 88 bilhões de dólares em 2020, a maior queda entre as regiões emergentes do mundo, que incluem também o continente africano e parte dos países da Ásia.
Depois do Brasil, o país da América Latina que teve a maior redução proporcional na entrada de recursos foi a Colômbia, com queda de 46,3% nos investimentos.
Segundo o diretor de investimentos e empresas da Unctad, James Zhan, a pandemia afetou amplamente o investimento em setores relevantes em relação ao desenvolvimento sustentável na região, com retração do investimento em infraestrutura em mais de 75%. "Isso aumenta a vulnerabilidade da região e representa um grande obstáculo para alcançar os ODS”, afirmou o oficial.
O Investimento Direto Estrangeiro registrou uma queda global em 2020 de 35%. O total no ano foi de cerca de 1 trilhão de dólares, enquanto em 2019, o investimento estrangeiro havia sido de 1,5 trilhão de dólares. O nível é o mais baixo desde 2005 e 20% menor em comparação a 2009, ano imediatamente posterior à crise financeira global.
Apesar da contração significativa sofrida pelo Brasil e pelos demais países da América Latina e do Caribe, na comparação regional, a queda nos investimentos foi puxada principalmente pelos países desenvolvidos e afetou com menos intensidade o grupo geral dos emergentes. As economias consideradas desenvolvidas juntas tiveram uma redução de 58% nos investimentos estrangeiros.
As economias classificadas como "em transição", grupo que inclui principalmente países do leste europeu, também tiveram redução semelhante.
Enquanto isso, o grupo das economias em desenvolvimento teve uma queda total de apenas 8%, resultado impulsionado principalmente pela alta dos investimentos de 3,8% nos países asiáticos em desenvolvimento.
Em 2020, a China teve alta de 5,7% nos investimentos estrangeiros, Hong Kong, um aumento de 61,7%, a Índia, de 26,7%, e os Emirados Árabes Unidos, de 11,2%.
No ano passado, o grupo das economias emergentes passou a ser o destino de dois terços dos investimentos diretos no mundo, um salto proporcional em relação a 2019, quando os países eram a destinação de pouco menos da metade dos recursos.
Segundo o relatório da Unctad, a expectativa é que os fluxos globais de investimento estrangeiro cheguem em 2021 ao menor patamar antes de iniciar a recuperação. A projeção é que o ano termine com um aumento de 10% a 15%.
“Isso ainda deixaria o IED cerca de 25% abaixo do nível de 2019. As previsões atuais mostram um novo aumento em 2022 que, no limite superior das projeções, traz o IED de volta ao nível de 2019 ”, projeta o diretor de investimentos e empresas do órgão.
Apesar da projeção de recuperação global, as regiões da América Latina e África não devem acompanhar o restante do mundo, segundo o relatório, que avalia que uma retomada substancial do investimento estrangeiro nas regiões é improvável no curto prazo.
A expectativa é que a recuperação dos investimentos seja desigual entre os países. O órgão espera que o crescimento global seja impulsionado pelas economias desenvolvidas por conta da forte atividade de fusões e aquisições e dos incentivos a investimento público.
Na Ásia, o órgão prevê que os investimentos permaneçam resilientes após o destaque como destino de investimentos internacionais durante a pandemia.
Apesar das projeções, o relatório deixa claro que as perspectivas são altamente incertas e dependerão principalmente do ritmo da recuperação econômica e de potenciais recaídas em relação à pandemia da covid-19, do impacto de pacotes de gastos para a recuperação sobre os investimentos estrangeiros e das pressões de políticas.
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