Invasão da China no setor elétrico está só começando
A recente invasão do setor elétrico do Brasil por empresas chinesas em busca de aquisições e projetos gigantescos está só no início, afirmaram especialistas
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2016 às 16h41.
São Paulo - A recente invasão do setor elétrico do Brasil por empresas chinesas em busca de aquisições e projetos gigantescos está só no início, afirmaram à Reuters especialistas próximos a investidores orientais, que veem mais companhias a caminho do país e novos negócios a serem fechados no curto e médio prazo.
As expectativas sobre transações envolvendo chinesas têm crescido após o acordo preliminar da State Grid para a compra da fatia da Camargo Corrêa na CPFL Energia por 5,8 bilhões de reais, anunciado na sexta-feira.
Fontes do governo brasileiro disseram à Reuters nesta quarta-feira que os chineses têm outros 20 bilhões de reais disponíveis para o negócio caso os demais acionistas da CPFL também queiram exercer o direito de vender suas participações.
Além disso, a China Three Gorges (CTG), que na semana passada concluiu a compra de duas hidrelétricas em São Paulo por 13,8 bilhões de reais, afirmou na terça-feira que buscará oportunidades em geração solar e eólica no Brasil.
A diretora da consultoria especializada em negócios com chineses Vallya, Larissa Wachholz, afirmou à Reuters que sabe de ao menos "três ou quatro" companhias em preparação para a entrada no Brasil.
"A State Grid e a CTG não ficarão sozinhas. Outras virão, já estão se preparando para isso... são empresas bastante capitalizadas, que têm acesso a financiamentos de baixo custo e incentivos do governo chinês para buscarem projetos no exterior", disse.
O diretor da consultoria Upside Finance, Humberto Gargiulo, disse que os chineses olham ativos em geração, transmissão e distribuição de energia e que chegou a assessorar duas empresas com forte interesse em linhas elétricas colocadas à venda pela Eletrosul, subsidiária da Eletrobras.
"Só não saíram duas vendas porque ela (Eletrosul) colocou uma série de restrições para os investidores. Os chineses não gostaram e pararam o processo", afirmou.
Ele também estimou que a State Grid possui fôlego para fazer mais compras no Brasil mesmo após a transação bilionária com a CPFL.
"Se eles derem um tempo, é mais por conta de gerir o negócio do que por problema financeiro ou falta de liquidez".
O movimento dos orientais em busca de ativos no Brasil mexeu com ações de elétricas locais --o Índice de Energia Elétrica da BM&FBovespa acumulou alta de quase 5 por cento na segunda e na terça-feira, após o anúncio do negócio com a CPFL, enquanto o índice Ibovespa caiu 0,75 por cento.
"Faz tempo que eu não via um ambiente tão favorável assim para fusões e aquisições... acho que tem muito espaço no curto e médio prazo", afirmou o sócio especialista em M&A da KPMG Paulo Guilherme Coimbra.
Procurada, a State Grid disse que possui "planos de longo prazo" para o setor elétrico do Brasil e "está sempre buscando novas oportunidades de investimento no mercado".
ESTRATÉGIA MAIOR
No longo prazo, os chineses visam entrar em novos projetos no Brasil, e não somente em aquisições, um caminho que já tem sido trilhado pela State Grid, que constrói atualmente diversas linhas de transmissão no país.
Esse movimento, inclusive, é visto por especialistas como uma estratégia de Pequim para viabilizar a entrada de outras empresas chinesas no Brasil --principalmente de engenharia, construtoras e fornecedoras de equipamentos.
"Sem dúvida existe essa expectativa de que ao entrar em um novo mercado que você passa a conhecer melhor, consegue trazer uma gama maior de produtos e serviços, e em algumas dessas tecnologias a China é referência", afirmou Larissa, da Vallya.
Algumas dessas empresas já chegaram, inclusive, alojando-se no prédio da State Grid no Rio de Janeiro, no qual a elétrica investiu mais de 200 milhões de reais.
O endereço, que virou praticamente um quartel-general dos interesses elétricos chineses no Brasil, já abriga escritórios do China Development Bank, da construtora SEPCO, que pertence ao grupo PowerChina, além do grupo NARI, que produz equipamentos elétricos.
A State Grid disse que a maior parte de seus fornecedores é locais e que seu prédio "está aberto a qualquer empresa que tenha interesse em alugar espaços comerciais".
NOVO MOMENTO
O avanço das chinesas vem em um momento em que o setor elétrico brasileiro sofre com a recessão do país e o alto endividamento das empresas, que têm anunciado diversos planos de vendas de ativos para gerar caixa.
O movimento marca ainda uma virada frente ao cenário de poucos anos atrás-- em 2011, Eletrobras e Cemig chegaram a disputar com a Three Gorges a compra de uma fatia na elétrica portuguesa EDP, afinal levada pela CTG por 2,7 bilhões de euros.
Naquele momento, de forte expansão do setor de energia, havia também uma oposição à entrada dos chineses em alguns segmentos da indústria, como a distribuição, o que travou o avanço de conversas travadas em 2012 para a compra pela State Grid de ativos da espanhola Iberdrola no Brasil.
São Paulo - A recente invasão do setor elétrico do Brasil por empresas chinesas em busca de aquisições e projetos gigantescos está só no início, afirmaram à Reuters especialistas próximos a investidores orientais, que veem mais companhias a caminho do país e novos negócios a serem fechados no curto e médio prazo.
As expectativas sobre transações envolvendo chinesas têm crescido após o acordo preliminar da State Grid para a compra da fatia da Camargo Corrêa na CPFL Energia por 5,8 bilhões de reais, anunciado na sexta-feira.
Fontes do governo brasileiro disseram à Reuters nesta quarta-feira que os chineses têm outros 20 bilhões de reais disponíveis para o negócio caso os demais acionistas da CPFL também queiram exercer o direito de vender suas participações.
Além disso, a China Three Gorges (CTG), que na semana passada concluiu a compra de duas hidrelétricas em São Paulo por 13,8 bilhões de reais, afirmou na terça-feira que buscará oportunidades em geração solar e eólica no Brasil.
A diretora da consultoria especializada em negócios com chineses Vallya, Larissa Wachholz, afirmou à Reuters que sabe de ao menos "três ou quatro" companhias em preparação para a entrada no Brasil.
"A State Grid e a CTG não ficarão sozinhas. Outras virão, já estão se preparando para isso... são empresas bastante capitalizadas, que têm acesso a financiamentos de baixo custo e incentivos do governo chinês para buscarem projetos no exterior", disse.
O diretor da consultoria Upside Finance, Humberto Gargiulo, disse que os chineses olham ativos em geração, transmissão e distribuição de energia e que chegou a assessorar duas empresas com forte interesse em linhas elétricas colocadas à venda pela Eletrosul, subsidiária da Eletrobras.
"Só não saíram duas vendas porque ela (Eletrosul) colocou uma série de restrições para os investidores. Os chineses não gostaram e pararam o processo", afirmou.
Ele também estimou que a State Grid possui fôlego para fazer mais compras no Brasil mesmo após a transação bilionária com a CPFL.
"Se eles derem um tempo, é mais por conta de gerir o negócio do que por problema financeiro ou falta de liquidez".
O movimento dos orientais em busca de ativos no Brasil mexeu com ações de elétricas locais --o Índice de Energia Elétrica da BM&FBovespa acumulou alta de quase 5 por cento na segunda e na terça-feira, após o anúncio do negócio com a CPFL, enquanto o índice Ibovespa caiu 0,75 por cento.
"Faz tempo que eu não via um ambiente tão favorável assim para fusões e aquisições... acho que tem muito espaço no curto e médio prazo", afirmou o sócio especialista em M&A da KPMG Paulo Guilherme Coimbra.
Procurada, a State Grid disse que possui "planos de longo prazo" para o setor elétrico do Brasil e "está sempre buscando novas oportunidades de investimento no mercado".
ESTRATÉGIA MAIOR
No longo prazo, os chineses visam entrar em novos projetos no Brasil, e não somente em aquisições, um caminho que já tem sido trilhado pela State Grid, que constrói atualmente diversas linhas de transmissão no país.
Esse movimento, inclusive, é visto por especialistas como uma estratégia de Pequim para viabilizar a entrada de outras empresas chinesas no Brasil --principalmente de engenharia, construtoras e fornecedoras de equipamentos.
"Sem dúvida existe essa expectativa de que ao entrar em um novo mercado que você passa a conhecer melhor, consegue trazer uma gama maior de produtos e serviços, e em algumas dessas tecnologias a China é referência", afirmou Larissa, da Vallya.
Algumas dessas empresas já chegaram, inclusive, alojando-se no prédio da State Grid no Rio de Janeiro, no qual a elétrica investiu mais de 200 milhões de reais.
O endereço, que virou praticamente um quartel-general dos interesses elétricos chineses no Brasil, já abriga escritórios do China Development Bank, da construtora SEPCO, que pertence ao grupo PowerChina, além do grupo NARI, que produz equipamentos elétricos.
A State Grid disse que a maior parte de seus fornecedores é locais e que seu prédio "está aberto a qualquer empresa que tenha interesse em alugar espaços comerciais".
NOVO MOMENTO
O avanço das chinesas vem em um momento em que o setor elétrico brasileiro sofre com a recessão do país e o alto endividamento das empresas, que têm anunciado diversos planos de vendas de ativos para gerar caixa.
O movimento marca ainda uma virada frente ao cenário de poucos anos atrás-- em 2011, Eletrobras e Cemig chegaram a disputar com a Three Gorges a compra de uma fatia na elétrica portuguesa EDP, afinal levada pela CTG por 2,7 bilhões de euros.
Naquele momento, de forte expansão do setor de energia, havia também uma oposição à entrada dos chineses em alguns segmentos da indústria, como a distribuição, o que travou o avanço de conversas travadas em 2012 para a compra pela State Grid de ativos da espanhola Iberdrola no Brasil.