Comércio fechado em Recife, Pernambuco: crise do coronavírus fez preços despencarem (Andréa Rêgo Barros/PCR/Fotos Públicas)
Ligia Tuon
Publicado em 10 de junho de 2020 às 09h13.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 10h46.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou queda de 0,38% em maio ante recuo de 0,31% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Trata-se do menor índice desde agosto de 1998, quando ficou em -0,51%.
O resultado foi pressionado principalmente pela queda de 4,56% nos preços dos combustíveis, que fazem parte de Transportes, o grupo com maior variação negativa entre os demais (-1,9%). Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo instituto, cinco tiveram deflação em maio (veja tabela mais abaixo).
“A gasolina é o principal subitem em termos de peso dentro do IPCA e, caindo 4,35%, acabou puxando o resultado dos transportes para baixo, assim como as passagens aéreas, que tiveram uma queda de 27,14% e foram a segunda maior contribuição negativa no IPCA de maio”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov no material de divulgação do Instituto.
No acumulado de 12 meses até março, o IPCA teve alta de 1,88%, de 2,40% antes, abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de recuo de 0,46% em maio, acumulando em 12 meses avanço de 1,80%.
O recuo na gasolina veio menor do que o esperado, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. "Esperávamos que este subitem exibisse variação de -6%. Esse desvio colabora para reforçar nossa perspectiva de aceleração para o IPCA de junho, para o qual temos perspectiva de avanço de 0,23%, pautado exatamente em premissas de avanço da gasolina", diz.
O grupo Alimentação também surpreendeu para melhor, já que subiu apenas 0,24% em maio ante avanço de 1,79% no mês anterior. O movimento, segundo a Necton, é uma grata surpresa, uma vez que a alimentação era uma fonte de preocupação:
"A maior demanda por comida em domicílio apontava para uma situação curiosa, onde os preços do índice caíam, mas o consumidor não sentia, uma vez que justamente o que este consome mais em tempos de pandemia subia de maneira contínua", diz André Perfeito, economista-chefe da corretora.
Dentro do grupo Alimentação, os destaques foram os preços de itens como a cenoura (-14,95%) e as frutas (-2,10%), destacou o IBGE, o que contribuiu para que a alimentação no domicílio passasse de 2,24% para 0,33%. Entre as altas, cebola (30,08%), a batata-inglesa (16,39%) e o feijão carioca (8,66%) foram os principais destaques. As carnes subiram 0,05%, após quatro meses consecutivos de queda.
Para a consultoria 4E, o comportamento dos preços entre os grupos do IPCA é reflexo dos esforços para conter a expansão da pandemia do novo coronavírus, sobretudo a partir da segunda quinzena de março: "acreditamos que, para 2020, o IPCA se encerre abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação", disse em nota.
Variação (%) Abril | Variação (%) maio | |
---|---|---|
Índice Geral | -0.31 | -0.38 |
Alimentação e Bebidas | 1.79 | 0.24 |
Habitação | -0.1 | 0.25 |
Artigos de Residência | -1.37 | 0.58 |
Vestuário | 0.1 | -0.58 |
Transportes | -2.66 | -1.9 |
Saúde e Cuidados Pessoais | -0.22 | -0.1 |
Despesas Pessoais | -0.14 | -0.04 |
Educação | 0 | 0.02 |
Comunicação | -0.2 | 0.24 |
Impacto (p.p.) abril | Impacto maio | |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 0.35 | 0.05 |
Habitação | -0.02 | -0.04 |
Artigos de Residência | -0.05 | 0.02 |
Vestuário | 0 | -0.03 |
Transportes | -0.54 | -0.38 |
Saúde e Cuidados Pessoais | -0.03 | -0.1 |
Despesas Pessoais | -0.01 | 0 |
Educação | 0 | 0 |
Comunicação | -0.1 | 0.01 |
(Com informações da Reuters)