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Inflação da energia corrói renda no país

Na indústria, a alta dos preços, especialmente da energia elétrica, pode comprometer os planos de recuperação após um período crítico em razão da pandemia de covid-19

No período de 12 meses até julho deste ano, eletricidade aumentou 20,09%, maior alta desde setembro de 2018. (brunorbs/Getty Images)
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GabrielJusto

Publicado em 4 de setembro de 2021 às 11h31.

Essencial no dia a dia de famílias e empresas, um grupo de produtos do setor de energia está corroendo a recuperação da economia. Os preços da energia elétrica, da gasolina e do óleo diesel deram um salto no fim do ano passado e, desde então, não param de subir. Em julho, eles foram os principais responsáveis pela inflação, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - último divulgado pelo IBGE. O cenário vislumbrado para 2022 é ainda mais preocupante, segundo especialistas, principalmente diante da crise energética e da perspectiva de reajustes que impactam a conta de luz.

"O contágio da alta dos preços da energia elétrica e dos combustíveis é amplo na economia. É difícil de medir porque muitas variáveis influenciam, como a concorrência e a pressão nos custos. Mas uma certeza nós temos: o impacto é muito maior do que o materializado no orçamento familiar e na inflação", diz André Braz, coordenador adjunto do Índice de Preços ao Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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A energia elétrica é usada pela indústria e também pelas empresas prestadoras de serviço. A indústria automobilística, por exemplo, utiliza muita energia em seus robôs para montar os carros. "Se a energia fica mais cara, a indústria aumenta o seu custo e uma parte disso vai para o preço final. A mesma coisa acontece com o combustível", afirma Braz. Ele lembra que o óleo diesel movimenta a frota dos caminhões que trazem os produtos para os centros urbanos. O combustível movimenta também os ônibus urbanos, que transportam as pessoas para o trabalho.

Entre todos os produtos do grupo de energia, a gasolina e o diesel são, atualmente, os grandes vilões de preços, com altas de 39,65% e 36,35%, respectivamente, no período de 12 meses até julho deste ano. Nesse intervalo de tempo, os dois combustíveis se valorizaram mais do que o filé mignon (33,56%), considerado um produto de luxo. Já a eletricidade aumentou 20,09%, maior alta desde setembro de 2018.

"A pressão dos preços desse grupo de produtos funciona como um imposto, porque afeta todo mundo. Por enquanto, há acesso a crédito. As pessoas estão pegando dinheiro emprestado para manter as contas em dia. Mas, no ano que vem, a inadimplência tende a crescer e aí, sim, podemos perder bastante", diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Na indústria, a alta dos preços, especialmente da energia elétrica, pode comprometer os planos de recuperação após um período crítico em razão da pandemia de covid-19. O setor estava retomando os níveis de produção de 2013, quando foi pego pela crise hídrica e pela alta da tarifa de eletricidade.

"A principal preocupação é o aumento de custos, repassado para o preço dos produtos. Isso diminui a demanda. Por isso, pode afetar a retomada da economia e a recuperação da produção e do emprego industrial", afirma Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres.

Margem menor

Gustavo Cardoso, sócio da fábrica DM Vidros, no interior de São Paulo, conta que já tinha energia contratada a um preço mais baixo para todo o ano de 2021. Mas vai ser obrigado a comprar novo suprimento para o ano que vem, justamente neste momento de sobrevalorização do megawatt-hora (MWh). Na tentativa de conseguir um preço melhor, tem apresentado uma proposta de contratação num prazo maior, até 2025. Mesmo assim, não tem tido muito sucesso nas negociações.

"Vamos reduzir a margem, porque não conseguimos repassar o aumento de custo para nossos clientes. Tivemos de mudar nossa estratégia no curto prazo. Com o combustível mais caro, fomos obrigados também a priorizar os clientes mais próximos", disse ele.

No orçamento das famílias, além da eletricidade e dos combustíveis automotivos, tem pesado o preço do gás de cozinha, que, em algumas cidades, já custa mais de R$ 100. O botijão de gás ficou 29,29% mais caro no período de 12 meses até julho, segundo o IPCA. Essa é a maior alta registrada desde maio de 2003. Como consequência, está subindo também a inflação do carvão vegetal (6,64%), utilizado por famílias mais pobres para cozinhar, principalmente, quando o preço do botijão de gás sobe.

A valorização do botijão afeta, por exemplo, trabalhadores que recorreram ao comércio de refeições para sobreviver à crise. André Luís Silva vende quentinhas em calçadas no centro do Rio. Neste ano, começou a perder dinheiro com combustível. Duas vezes por semana, ele pega carona com um amigo para trabalhar.

O lucro diminuiu também com a alta do gás de cozinha. "Cheguei a ficar sem trabalhar porque não tinha dinheiro para o comprar o gás. Tive de pegar emprestado com o vizinho para poder fazer dinheiro", disse Silva.

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