Economia

Indústria de alta tecnologia tem desempenho melhor, mas está sob risco

Os segmentos cujo uso de tecnologia é mais intenso aumentaram de 6,6% no último semestre, enquanto a indústria de baixa complexidade registrou queda de 1,6%

No entanto, o melhor desempenho guarda o forte risco de desindustrialização nacional devido ao uso de peças importadas pelos fabricantes (Germano Lüders/EXAME)

No entanto, o melhor desempenho guarda o forte risco de desindustrialização nacional devido ao uso de peças importadas pelos fabricantes (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2011 às 14h57.

Brasília – Análise sobre a produção da indústria brasileira feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que o crescimento industrial variou conforme o grau de complexidade tecnológica.

Os segmentos cujo uso de tecnologia é mais intenso, como fabricação de aviões, equipamentos médico-hospitalares, relógios, computadores, televisores e DVD-players, tiveram aumento de produção de 6,6% no último semestre na comparação com o 1º semestre de 2010. O desempenho é bem superior ao verificado na indústria de baixa complexidade, que registrou queda de 1,6%. De acordo com o Iedi, há uma escada na performance dos setores: os segmentos de média-alta tecnologia cresceram 2,5%; e a indústria de média-baixa tecnologia subiu em 2,3%.

O câmbio e a estabilidade de preços dos componentes no mercado internacional explicam a diferença na evolução dos indicadores industriais. Os setores de menor intensidade tecnológica sofreram com a concorrência direta de produtos importados, já os setores com maior complexidade se aproveitaram do real apreciado para importar componentes de baixo valor. “Na medida em que eles importam peças a preços mais baixos, têm custos menores e, assim, conseguem manter produtos a preços baixos e ter uma produção ainda crescente”, avalia o economista chefe do Iedi, Rogério Souza.

Segundo ele, o melhor desempenho, no entanto, guarda o forte risco de desindustrialização nacional. Cada vez mais, os fabricantes utilizam peças importadas de fornecedores estrangeiros e as cadeias produtivas no Brasil diminuem de tamanho. “Não é sustentável manter os nossos níveis de produção por esse fator. Não existe prática no mundo que para estimular um setor mantenha o câmbio valorizado por muito tempo. As consequências são mais graves”, alertou o economista.

De acordo com o Iedi, os setores de alta e média intensidade tecnológica são os que estão mais deficitários na balança comercial dos bens da indústria manufatureira. A projeção do Iedi é que este ano a indústria (não incluída a agroindústria e a extrativista mineral) acumule um déficit comercial de US$ 55 bilhões. O valor, se confirmado, representa uma trajetória negativa nos resultados. Em 2008, o déficit foi de cerca de US$ 7 bilhões; em 2009, mais de US$ 8 bilhões; e, no ano passado, US$ 35 bilhões.

O governo tem atuado para reverter a importação de produtos de maior valor agregado. Já anunciou o uso das compras do Ministério da Saúde para estimular a fabricação no Brasil de fármacos; estendeu aos tablets os benefícios da Lei do Bem e incluiu no Programa Brasil Maior incentivos para inovação tecnológica. Até o final deste mês, o governo deve anunciar novos benefícios no Programa de Incentivos ao Setor de Semicondutores (Padis).

Segundo o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, a ideia é que o programa seja “muito agressivo”.

“Nós queremos dar melhores condições internacionais para atrair essa indústria que já está de olho no Brasil”, disse após solenidade em Brasília, na última terça-feira (16), sobre o programa Ciência sem Fronteira.

De acordo com Mercadante, o país é o 7º mercado mundial de tecnologia de informática e comunicação (mercado de US$ 165 bilhões). O governo quer utilizar a inclusão digital de 69 milhões de alunos da escola pública como atrativo para a instalação da indústria no país.

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