Milhares de carros novos são vistos no pátio da GM, em São Bernardo do Campo, São Paulo (Mauricio Lima/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2014 às 17h41.
Montevidéu - A indústria automobilística, fonte de trabalho para milhares de latino-americanos e forte captadora de investimento estrangeiro, mantém-se como a locomotiva da economia regional, mas os problemas se acumulam para o setor em um contexto de demanda instável.
Nos últimos dois anos, a situação da indústria na região tem perdido fôlego, à exceção do México, que tem sua produção alavancada com a recuperação dos Estados Unidos.
Brasil em dificuldades
O Brasil é o quarto mercado para venda de automóveis no mundo e sétimo maior exportador. Mas o fraco crescimento econômico tem afetado a indústria automobilística.
A produção entre setembro de 2013 e o mesmo mês deste ano chegou a 2,13 milhões de veículos, uma queda de 14,4% em relação ao período anterior.
Ao mesmo tempo, as vendas no mercado interno caíram 7,4% nesse período. O setor, que emprega quase 150.000 pessoas, reduziu seus postos de trabalho em 1%. O maior problema está nas exportações: a queda é de 38,5% nos primeiros nove meses do ano em relação ao período anterior.
"Com a fraca demanda da Argentina, estamos trabalhando na abertura de novos mercados, especialmente com a Colômbia", disse o presidente da associação de fabricantes Anfavea, Luiz Moan.
Venezuela na pior situação
A indústria de produção de veículos na Venezuela enfrenta a pior situação: a montagem está praticamente paralisada.
A escassez de divisas resultante do controle cambial limita as importações de insumos e a produção despencou: em 2013 foi de apenas 72.000 veículos, mais de 30% abaixo do registrado em 2012.
Entre 2006 e 2013, o setor automobilístico sofreu uma contração de 58,2%, segundo dados da Câmara Automobilística local.
A indústria opera abaixo dos 5% de sua capacidade de produção de 250 mil unidades por ano, e algumas fábricas estão paradas há cinco meses.
Na Argentina, as quedas da demanda interna, em um contexto de dificuldades econômicas, e da demanda externa, com a redução das compras do Brasil - destino de 80% das exportações argentinas - afetam profundamente a fabricação de veículos no país, tradicional base exportadora de marcas europeias.
As vendas no mercado interno caíram de pouco mais de 750 mil unidades entre janeiro e setembro de 2013 para 500 mil no mesmo período do ano passado, segundo a Associação de Concessionárias.
Fontes do mercado consultadas pela AFP estimam que a queda da produção nos primeiros nove meses de 2014 é de 24,2% em relação ao ano passado e que a redução das exportações alcança um percentual parecido.
Em 2013, em um contexto de impossibilidade de poupança em dólares, muitos argentinos optaram por comprar veículos para alocar suas economias.
O governo lançou no mesmo ano um plano de estímulo que teve como maior virtude "estipular um piso para a queda do mercado", disse à AFP Dante Sica, diretor da consultoria abeceb.com.
Segundo sindicatos, cerca de 15.000 trabalhadores do setor devem ter as atividades suspensas por alguns dias do mês.
Sica estima que em 2015 a produção vai avançar 2,6%.
Exceção mexicana
"A produção de veículos leves continua superando níveis históricos no México", segundo a Associação Mexicana da Indústria Automobilística.
Entre janeiro e setembro, o México produziu 2,4 milhões de unidades, 7,5% a mais do que o mesmo período do ano anterior.
O México é o quarto exportador e oitavo fabricante de veículos no mundo: 83% da produção é exportada, principalmente para os Estados Unidos.
Enquanto no restante do continente as montadoras penam para manter os níveis de produção e empregos, no México as empresas do ramo exportaram quase dois milhões de veículos até o final de setembro, 8,7% a mais do que em 2013. O setor contratou 8,9% a mais no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2013.
Analistas estimam que o país será o principal fornecedor de carros para os EUA em 2015.
Dinâmicas díspares
No Chile e na Colômbia, dois mercados de menor escala para o setor, a dinâmica é díspar.
No Chile, importador de veículos principalmente da Ásia, do Brasil e do México, as vendas caíram 7,6% nos primeiros nove meses do ano. Em 2013 foi registrado um recorde de quase 380.000 unidades comercializadas, segundo a Associação Nacional Automobilística.
Já na Colômbia, segundo um estudo publicado em abril pelo BBVA Research, as vendas devem crescer entre 2014 e 2015 de 302.000 para 314.000 veículos, graças à expansão da economia, às baixas taxas de juros e à queda de preços pelos Tratados de Livre Comércio (TLC) que o país assinou com os Estados Unidos e com a União Europeia.