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Índice de inflação da indústria resistirá ao coronavírus?

Indicador que monitora 23 setores da indústria da transformação deve mostrar desaceleração da atividade

Fábrica em Xangai: coronavírus paralisou produção de uma série de empresas do setor industrial chinês (Aly Song/File Photo/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2020 às 05h50.

Última atualização em 5 de março de 2020 às 07h33.

São Paulo — Será conhecido nesta quinta-feira, 5, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que inclui os preços das indústrias extrativas e de transformação, referente ao mês de janeiro.

Divulgado pelo IBGE , o indicador de inflação monitora os preços de produtos na “porta da fábrica”, ou seja, sem impostos e fretes, de 23 setores das indústrias de transformação. Sua evolução pode ganhar uma atenção extra no começo deste ano em função do enfraquecimento da atividade no país e do avanço do surto de coronavírus pelo mundo.

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Pelo fato de monitorar o preço tanto de produtos recebidos por produtores nacionais que estão na base da cadeia produtiva quanto dos que estão no topo, como produtores de bens de consumo, o IPP permite que os analistas identifiquem movimentos de transmissão de aumento de preços em cadeia.

Com a paralisação parcial de parte importante da indústria chinesa, da qual o Brasil importa componentes usados pela indústria — como partes e peças para veículos, máquinas e equipamentos –, o setor produtivo nacional sofre com o risco de escassez.

O país asiático, maior comprador de matérias-primas brasileiras, de minério de ferro a soja, informou no último fim de semana que o índice de atividade industrial Purchasing Managers’ Index (PMI) despencou de 50 em janeiro para 35,7 em fevereiro – índice mais baixo da história. Leituras abaixo de 50 indicam contração do setor.

No caso de haver um choque negativo de oferta relevante no curto prazo, esse movimento tende a elevar o IPP e os preços da economia em geral. Tal cenário, segundo a Guide Investimentos, pode colocar em xeque metas de produção e projetos de investimento de importantes empresas brasileiras. Setores atrelados ao câmbio também costumam impulsionar a alta no IPP quando há variações relevantes no real em relação do dólar.

Ainda é cedo, no entanto, para que o efeito do coronavírus comece a aparecer no IPP, segundo André Furtado Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas. “Esse índice é divulgado com defasagem de 2 meses. Não creio que esse resultado venha influenciado pelo câmbio e pelos efeitos do coronavírus”, diz.

O indicador acumulou alta de 5,19% no ano passado, bem abaixo dos 9,64% registrados em 2018, por conta principalmente do câmbio e do preço das proteínas. O resultado deste começo de ano deve refletir também a atividade aquém do esperado dos principais setores produtivos da economia no quarto trimestre de 2019, quando o PIB desacelerou para 0,5% ante 0,6% no período anterior, como divulgou o IBGE na quarta-feira, 3.

No ano, o crescimento da economia brasileira ficou em 1,1%, abaixo da expectativa de cerca de 1,3%. O governo também afirmou que, com o número mais baixo e o impacto do coronavírus, deve reduzir também a projeção de crescimento para 2020, hoje em 2,4%.

A epidemia de coronavírus pode ainda não refletir nos resultados de inflação de hoje, mas, ainda que o número de casos diminua, deve continuar sendo assunto na indústria no restante do ano.

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