Rio de Janeiro - A prévia de junho da Sondagem da Indústria de Transformação registra queda de 3,4% do Índice de Confiança da Indústria (ICI) em relação ao resultado final de maio, considerando-se dados livres de influência sazonal.
Com o resultado, o índice atingiu 87,6 pontos – o menor desde os 86,4 pontos de maio de 2009 (86,4).
Os dados referentes ao ICI foram divulgados hoje (25), pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o resultado, o indicador mantém trajetória de queda iniciada em janeiro passado.
Como já ocorreu em maio, o resultado de junho reflete a piora tanto das avaliações sobre o momento presente quanto das expectativas em relação aos meses seguintes.
Segundo o Ibre, o Índice da Situação Atual (ISA) recuou 2,1%, para 90,4 pontos; enquanto o Índice de Expectativas (IE) caiu 4,9%, para 84,8 pontos.
Os dados preliminares de junho indicam, ainda, redução de 0,8 ponto percentual no Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), para 83,5% – menor nível desde novembro de 2011, quando a indicador acusou 83,3%.
Para a prévia de junho da Sondagem da Indústria, foram consultadas 806 empresas entre os dias 2 e 18 deste mês.
O resultado final da pesquisa será divulgado na próxima segunda-feira, dia 30 de junho.
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1. Quem se salva e quem afunda
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1/9 (Germano Lüders/EXAME.com)
Sob todos os ângulos, 2012 não tem sido um ano fácil para a indústria brasileira. A palavra da vez usada para assustar o governo é desindustrialização. O índice de produção industrial do IBGE mostra uma redução de 3% nos três primeiros meses do ano, com 15 dos 27 ramos investigados apresentando queda. Quem desceu, foi com força. A produção de automóveis, por exemplo, baixou mais de 20%. Já quem subiu, foi mais contido: apenas a fabricação de equipamentos médico-hospitalares e ópticos ultrapassou dois dígitos, chegando a 14,1%. Mas há a expectativa de que a partir de julho as coisas melhorem um pouco para o setor. Nada exagerado, claro. O desempenho já foi fraco (1,6 %) em 2011 e o cenário internacional parece ainda mais desfavorável agora. Mas porque esperar notícias boas somente a partir de julho? Historicamente, é no segundo semestre que a atividade industrial ganha fôlego, embora esse preceito tenha sido levemente abalado desde a crise de 2008. “Mas já estamos agora na sexta baixa da Selic e os efeitos ainda deverão ser sentidos”, afirma o economista Rogério de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Obviamente, nem todos os setores devem participar da partilha do bolo que poderá fazer o setor crescer 2% este ano, como espera a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para tentar descobrir quem fará bater o coração da indústria de transformação nacional e quem ficará definhando, a EXAME.com ouviu especialistas e analistas do setor. Confira a seguir.
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2. Veículos Automotores: SOBE
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2/9 (Vanderlei Almeida/AFP)
Privilegiada quando se trata de medidas protecionistas, as fabricantes de automóveis devem esperar um futuro menos sufocante no segundo semestre. Apesar dos pátios cheios – o que fez a produção despencar 20% no primeiro trimestre deste ano – dados da CNI já apontam uma adequação dos estoques a demanda em março, o que deve voltar a elevar a produção no segundo semestre. Pesa contra o setor a alta inadimplência, atualmente em 5,7%, a maior já detectada pelo Banco Central, causando arrocho das financeiras na hora de conceder crédito. “Mas os bens de alto valor agregado respondem bem à queda dos juros, porque um automóvel você paga em muitos meses. Havendo crédito, vai haver um impulso”, afirma o gerente executivo de pesquisa e competividade da CNI, Renato da Fonseca.
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3. Perfumaria, sabões e produtos de limpeza: SOBE
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3/9
Os brasileiros estão se cuidando mais e os empresários do setor estão rindo à toa. Tanto que dentre todos os empreendedores ouvidos pela CNI em pesquisa mensal que mede a confiança em 35 ramos da indústria, de transformação ou não, nenhum tem expectativa mais positiva para o futuro que os de perfumaria e higiene, registrando o pico de 63,1 pontos (na pesquisa da CNI, números acima de 50 indicam otimismo e, abaixo disso, visão negativa do empresário). Eles não podem nem mesmo reclamar do presente. Enquanto a indústria sente a queda de 3% no trimestre, perfumes, sabonetes, cremes e produtos de limpeza aumentaram 6,9% no mesmo período, a segunda maior alta dentre todos os setores da transformação.
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4. Alimentos e Bebidas: SOBE
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4/9 (Dercilio)
Assim como itens de perfumaria, alimentos e bebidas são componentes que respondem diretamente à renda do trabalhador, ainda não afetada apesar das turbulências internacionais e das dificuldades da indústria. O rendimento médio real do trabalhador aumentou 5,6% entre janeiro e março comparado ao ano passado, segundo o IBGE. “Esse processo deve desacelerar. Mas mesmo crescendo menos, vai continuar positivo. Crescer a taxas menores não é um problema”, afirma o economista do IEDI, Rogério de Souza. A expectativa da Consultoria Tendências é que quem fabrica alimentos tenha um crescimento médio de 2,6% e bebidas, 3,7%, este ano. As duas projeções estão acima de toda a indústria, além de superior à economia, no caso de bebidas, já que as projeções de analistas do mercado para o PIB giram em torno de 3,2%, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central.
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5. Equipamentos hospitalares e de saúde: SOBE
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5/9 (Marcelo Breyne)
O campeão do ano em crescimento ainda tem razões para continuar bem na fita. Indústrias estrangeiras como Siemens e GE têm anunciado expansão da produção interna, e o governo medidas para impulsionar um setor cuja balança comercial ainda é extremamente negativa. O crescimento da produção nacional vem acompanhando um setor de saúde em expansão, principalmente particular. “Equipamentos de saúde estão crescendo junto com a rede privada, e o crescimento dos planos serve de fomento para esses negócios”, afirma Gilberto Braga, professor de finanças do IBMEC.
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6. Vestuário e calçados: DESCE
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6/9 (Tim Boyle/Getty Images)
Com o consumo no Brasil ainda forte, o empreendedor pode querer ter uma loja de tênis ou roupas, mas definitivamente não é um bom momento para montar uma fábrica inteira. Patinando há anos e levando uma lavada de produtos chineses, o Brasil simplesmente não consegue competir com o que vem de fora em termos de calçados e vestuário, com preços que podem chegar à quase metade de um similar nacional, segundo o Sindivestuário. Mesmo o governo se empenhanhdo por uma taxa de câmbio a patamares mais altos, os problemas para o setor são crônicos e devem continuar no segundo semestre, avaliam especialistas.
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7. Têxtil: DESCE
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7/9 (Paulo Francisco/VEJA)
A indústria têxtil caminha na mesma direção de roupas e calçados. “São setores muito intensivos em mão-de-obra e o preço está subindo bastante. Com certeza, irão continuar sofrendo por um bom tempo”, avalia a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro. O custo unitário do trabalho – índice que mede o quanto se paga aos empregados - subiu 8,1% em janeiro deste ano comparado a 2011. A produção têxtil já caiu 7,5% no primeiro trimestre, com variação média anual de -5,9% entre 2009 e 2011. E nada indica que as coisas vão melhorar, o que só leva a crer que o impacto desta indústria será apenas de puxar a produção de toda a indústria para baixo.
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8. Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação: DESCE
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8/9 (Jair Magri/Guia Quatro Rodas)
O brasileiro pode querer sempre mais e mais novos eletroeletrônicos de todos os tipos, mas provavelmente vai adquirir importados na hora de comprar. Mesmo com o governo fazendo o máximo para ajudar com o câmbio – que se mantém acima de R$ 1,90 – o cenário incerto lá fora continuará fazendo com que empresas estrangeiras, mais alinhadas tecnologicamente e competitivas, olhem com atenção especial o mercado doméstico brasileiro. “O Brasil não tem um padrão de competitividade em produtos eletrônicos como em alguns bens intermediários ou não duráveis, como alimentos”, afirma Aloizio Campelo Jr, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Com isso, a queda média anual de 7,8% nos últimos três anos e de 13,1% neste primeiro trimestre pode até ser arrefecida, pelo dólar, mas dificilmente terá final feliz.
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9. Madeira: DESCE
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9/9 (Henrique/Wikimedia Commons)
O Brasil tem florestas a perder de vista, mas há tempos quem transforma este bem para ser usado por outras indústrias vem sofrendo em variados graus, que vão da demonização da exploração de madeira à conhecida burocracia brasileira. “Para pegar qualquer empréstimo oficial, você precisa de certificado ambiental. Mas os órgãos de fiscalização não têm capacidade de emitir isso tudo com certa agilidade”, afirma Renato da Fonseca, da CNI.
O aumento na produção de 6,4% neste primeiro trimestre é um resultado a se comemorar, mas deverá ser difícil de manter. É mais provável que, diante de bom começo, o setor termine o ano com registros bem mais modestos, embora ainda possa surpreender.