Economia

Imperfeições da globalização, segundo Stiglitz

Por que não se deve deixar tudo por conta da mão invisível do mercado, segundo um economista que é prêmio Nobel

Joseph Stiglitz

Joseph Stiglitz

DR

Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 14h28.

Usando exemplos colhidos em pesquisas e viagens a países tão diversos como Rússia, Etiópia ou Brasil, em Globalization and Its Discontents (A Globalização e Seus Descontentes), Joseph Stiglitz propõe uma cirurgia radical no Fundo Monetário Internacional, na Organização Mundial do Comércio e no Banco Mundial -- o trio que, segundo ele, governa a globalização.

Especialista em "informação assimétrica", hoje um dos ramos mais prestigiados da pesquisa econômica nos Estados Unidos, Stiglitz se dedicou a estudar as crises ocorridas nos mercados incompletos -- países ou setores da economia que por não dispor de informações precisas sobre o risco inerente a seu negócio vêem-se constrangidos a aceitar pressões como altas taxas de juro e crédito escasso. Como se vê nos trechos do livro, o homem que levou o Nobel de Economia no ano passado é um crítico feroz da chamada mão invisível do mercado:

A mão invisível

"Por trás da ideologia do mercado livre existe um modelo, freqüentemente atribuído a Adam Smith, que sustenta que as forças do mercado levam a economia a resultados eficientes como se guiada por uma mão invisível. Um dos maiores feitos da ciência econômica moderna é demonstrar como, e sob que condições, a conclusão de Smith é correta. Acontece que tais condições são altamente restritivas. De fato, avanços mais recentes da teoria econômica demonstram que sempre que a informação é imperfeita e os mercados incompletos, o que significa dizer sempre, e especialmente em países em desenvolvimento, a mão invisível trabalha com maior grau de imperfeição.

Os países em desenvolvimento

Mesmo se a teoria da mão invisível de Smith fosse relevante para economias industrialmente avançadas, as condições requeridas não seriam satisfatórias em países em desenvolvimento. O sistema de mercado claramente requer direitos de propriedade e tribunais que os reconheçam, mas freqüentemente tais instituições inexistem em países em desenvolvimento. O sistema de mercado requer competição e informação perfeita. Mas a competição é limitada e a informação está longe de ser perfeita -- e mercados competitivos com um bom nível de funcionamento não podem ser estabelecidos da noite para o dia.


A globalização 

A experiência dos Estados Unidos no século 19 fornece um bom paralelo para a globalização de hoje (...). Naquela época, quando os custos de transporte e comunicação caíram e os mercados locais se expandiram previamente, novas economias nacionais se formaram, e com elas vieram empresas nacionais, fazendo negócios por todo o país. Mas não se permitiu que tais mercados se desenvolvessem compulsivamente (...). O governo federal começou então a regular o sistema financeiro, estabelecendo salários mínimos e condições de trabalho e, finalmente, fornecendo sistemas de proteção ao desemprego e bem-estar para lidar com os problemas postos pelo sistema de mercado. O governo federal desempenhou um papel central não apenas na promoção do crescimento americano (...) mas também criando condições que fornecessem uma oportunidade mínima a todos os americanos.

Governo mundial

Infelizmente, não temos um governo mundial, que deva satisfações ao povo de cada país, para supervisionar o processo de globalização num esquema comparável à trilha nos quais os governos nacionais guiaram o processo de nacionalização. Mas dispomos de um sistema que pode ser chamado de governança global sem governo global, aquele no qual algumas poucas instituições, o Banco Mundial, o FMI e a OMC (...) dominam a cena, mas nos quais muitos daqueles afetados por suas decisões são deixados quase sem voz. É hora de mudar algumas das regras que governam a ordem econômica mundial (...). A globalização pode ser reformatada, e quando o for, quando for gerenciada com propriedade e justiça, com todos os países tendo voz nas políticas que os afetem, há a possibilidade de que ajudará a criar uma economia global na qual o crescimento não seja apenas mais sustentável e menos volátil, mas que seus frutos sejam distribuídos mais equitativamente."

Acompanhe tudo sobre:EconomistasGlobalizaçãoJoseph Stiglitz

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor