História de duas economias vai definir expansão pós-confinamento
Países dependentes de manufatura devem se recuperar rapidamente, enquanto atividades e países mais relacionados ao segmento de serviços ficam para trás
Ligia Tuon
Publicado em 28 de abril de 2020 às 06h01.
Última atualização em 28 de abril de 2020 às 06h01.
A reativação da economia mundial corre o risco de avançar sem um ingrediente chave: o consumidor.
Fazer com que empresas retomem operações e reabrir fábricas é uma coisa. Convencer consumidores a encarar o coronavírus e sair para fazer compras, comer, viajar ou assistir a eventos esportivos é outra.
“Nada sobre reabrir a economia será fácil, mas reiniciar empresas será menos complicado do que reiniciar a demanda agregada”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics.
O resultado: uma reativação desigual da economia global, com a manufatura e países dependentes do setor se recuperando rapidamente, enquanto atividades e países mais relacionados ao segmento de serviços ficam para trás.
Esse fator deve manter a pressão de governos e bancos centrais para que mantenham medidas de apoio, à medida que suas economias se recuperam da mais profunda crise mundial desde a Grande Depressão.
Banco do Japão, Federal Reserve e Banco Central Europeu têm reuniões de política monetária nesta semana, e investidores vão ficar de olho em outras possíveis medidas para ajudar as economias.
A recuperação de alguns países deve ser “um pouco mais em forma de V, porque há um pouco mais de manufatura, um pouco mais de tecnologia”, disse Catherine Mann, economista-chefe do Citigroup e ex-economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. “Pode ser uma Coreia do Sul ou Taiwan. E depois há outras economias que são extremamente dependentes do turismo”, disse em entrevista à Bloomberg TV. Estas últimas, segundo ela, podem registrar uma recuperação em L, caso da Tailândia ou Cingapura.
A retomada dos EUA provavelmente será gradual. Alguns estados planejam reabrir alguns setores mais cedo do que outros, disseram economistas do Deutsche Bank Securities em relatório de 24 de abril.
Até o final do ano, os EUA terão recuperado apenas cerca de 40% da produção e do emprego perdidos durante a crise, disseram os economistas da Deutsche.
Não é apenas o medo de contágio que pode manter os consumidores fora dos shoppings. A ansiedade em relação à perda do emprego e a redução das economias também pode levá-los a segurar os gastos, dizem economistas.
A retomada econômica desigual está ocorrendo na China, onde o surto de coronavírus começou.
“Houve uma retomada orientada por políticas de fábricas no lado da oferta, mas o cenário para uma recuperação da demanda é mais misto”, disse Selena Ling, chefe de pesquisa e estratégia de tesouraria do Oversea-Chinese Banking. “Fala-se em demanda reprimida da China por alguns bens de luxo de alta qualidade”, acrescentou. “Mas a demanda geral no nível das ruas é mais moderada.”
(Com a colaboração de Steve Matthews, Saleha Mohsin e Christoph Rauwald).