Uma herança bendita de Lula?
A reforma da Infraero é uma rara boa ideia do governo. Para sair do papel, será preciso vencer a verdadeira oposição - a "base aliada" do próprio governo
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 14h18.
Querem a reforma o presidente da Infraero, brigadeiro Cleonilson Nicácio, e o seu superior hierárquico, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que contam com a aprovação do Palácio do Planalto para a faxina, indispensável e urgente, que pretendem executar na empresa. Não querem a reforma, entre muitos outros, os líderes do próprio governo Lula no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, o senador Romero Jucá e o deputado Henrique Alves, os dois do PMDB. A partir daí, travou tudo. No seu estágio mais recente, a disputa encaminhava-se seja para um recuo do governo, com a desidratação das mudanças, seja para o pagamento de uma indenização ao PMDB na forma de mais cargos no primeiro escalão, para compensar as perdas e danos que a reforma provocará em seu patrimônio. O centro da questão não poderia estar mais claro: com as modificações, vão para o espaço os cargos que ocupavam na Infraero o irmão e a cunhada do senador Jucá, a ex-senhora Alves e um bando de agregados, representantes ou sócios de peixes graúdos do PMDB e de outros partidos que apoiam o governo. Com os cargos vão-se também, é claro, as oportunidades de negócio, as influências e o prestígio político.
A experiência mostra que não se pode contar com o presidente Lula para esse tipo de coisa. Ele já escolheu, há muito tempo, de que lado está - é o lado que melhor atende aos seus interesses, e em geral isso significa atender aos interesses dos políticos que lhe dão apoio. Mas dentro da ideia geral de que tudo é possível, desde que não seja comprovadamente impossível, há espaço para torcer pelo sucesso da reforma da Infraero. Seria um avanço notável - uma herança bendita que Lula deixaria para os seus sucessores. Pela reforma do brigadeiro Nicácio e do ministro Jobim, os atuais 109 "cargos em comissão", para os quais os políticos podem nomear quem bem entendem - e que já somaram, por mais difícil que seja imaginar, um total de 240 -, ficam reduzidos a apenas 12. Verifica-se, pela aritmética mais simples, que a empresa tinha nesses cargos 20 vezes mais gente do que realmente precisava. Na verdade, quem precisava deles eram só os políticos da "base aliada"; 81 estavam ocupados, até agora, por pessoas que eles indicaram. A reforma também estabelece que, dos cinco diretores da Infraero, quatro terão de ser funcionários de carreira, providência que faria a administração pública brasileira dar um notável salto de qualidade se fosse estendida a todas as suas áreas. O conjunto de mudanças, enfim, deixa a empresa com os sistemas de governança que se espera de uma companhia séria.
Querem a reforma o presidente da Infraero, brigadeiro Cleonilson Nicácio, e o seu superior hierárquico, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que contam com a aprovação do Palácio do Planalto para a faxina, indispensável e urgente, que pretendem executar na empresa. Não querem a reforma, entre muitos outros, os líderes do próprio governo Lula no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, o senador Romero Jucá e o deputado Henrique Alves, os dois do PMDB. A partir daí, travou tudo. No seu estágio mais recente, a disputa encaminhava-se seja para um recuo do governo, com a desidratação das mudanças, seja para o pagamento de uma indenização ao PMDB na forma de mais cargos no primeiro escalão, para compensar as perdas e danos que a reforma provocará em seu patrimônio. O centro da questão não poderia estar mais claro: com as modificações, vão para o espaço os cargos que ocupavam na Infraero o irmão e a cunhada do senador Jucá, a ex-senhora Alves e um bando de agregados, representantes ou sócios de peixes graúdos do PMDB e de outros partidos que apoiam o governo. Com os cargos vão-se também, é claro, as oportunidades de negócio, as influências e o prestígio político.
A experiência mostra que não se pode contar com o presidente Lula para esse tipo de coisa. Ele já escolheu, há muito tempo, de que lado está - é o lado que melhor atende aos seus interesses, e em geral isso significa atender aos interesses dos políticos que lhe dão apoio. Mas dentro da ideia geral de que tudo é possível, desde que não seja comprovadamente impossível, há espaço para torcer pelo sucesso da reforma da Infraero. Seria um avanço notável - uma herança bendita que Lula deixaria para os seus sucessores. Pela reforma do brigadeiro Nicácio e do ministro Jobim, os atuais 109 "cargos em comissão", para os quais os políticos podem nomear quem bem entendem - e que já somaram, por mais difícil que seja imaginar, um total de 240 -, ficam reduzidos a apenas 12. Verifica-se, pela aritmética mais simples, que a empresa tinha nesses cargos 20 vezes mais gente do que realmente precisava. Na verdade, quem precisava deles eram só os políticos da "base aliada"; 81 estavam ocupados, até agora, por pessoas que eles indicaram. A reforma também estabelece que, dos cinco diretores da Infraero, quatro terão de ser funcionários de carreira, providência que faria a administração pública brasileira dar um notável salto de qualidade se fosse estendida a todas as suas áreas. O conjunto de mudanças, enfim, deixa a empresa com os sistemas de governança que se espera de uma companhia séria.
O caso da Infraero explica, melhor do que qualquer tese, por que há tanta resistência no Brasil à ideia da privatização. Ela acaba com a "privatização" ilegal que existe hoje - e que só beneficia quem manda no governo.