Hábitos dos super ricos aumentam desigualdade, diz estudo
Quando a renda se concentra no topo e indústrias dependem mais dos super-ricos, desigualdade é alimentada em efeito bola de neve, diz estudo de Harvard
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de setembro de 2014 às 10h12.
São Paulo – Os hábitos de consumo dos super-ricos podem parecer uma mera curiosidade para o resto da população, mas talvez estejam alimentando a concentração de renda de forma estrutural em um efeito ‘bola de neve’.
A hipótese foi lançada recentemente por um estudo de Nathan Wilmers, da Universidade de Harvard .
O processo funciona da seguinte forma: quando alguém atinge um alto nível de renda, o ganho que ela tem com determinado bem ou serviço fica cada vez mais concentrado na margem e mais insensível à mudança de preço, especialmente se o bem está relacionado a status.
Ninguém toma um vinho de 5 mil reais esperando que ele seja exatamente 10 vezes melhor do que um de R$ 500 - mas quando você é um bilionário, qual é o seu incentivo para economizar?
O que Nathan fez foi analisar se os setores que dependem muito destes nichos de super-ricos (pessoas com renda acima de US$ 150 mil) reproduzem essa desigualdade na sua própria estrutura através de fatores como aluguéis e disputa pelos trabalhadores mais qualificados com os nichos menos favorecidos.
A resposta é sim: “a dependência de uma indústria em consumidores de elite está associada com um aumento da desigualdade de salários dentro dessa indústria, mesmo desconsiderando variações relacionadas a ocupação, educação e outras particularidades”, diz o estudo.
E como a desigualdade de renda e de consumo está aumentando dramaticamente na maior parte do mundo (e talvez até no Brasil ) justamente pela concentração de riqueza na ponta, isso cria uma “bola de neve”, um círculo vicioso que aumenta esse divisão:
“Na medida em que a economia americana se torna mais dependente de consumidores de elite, essa dependência pode polarizar ainda mais a estrutura de salários”, diz o texto.
Desigualdade e crescimento
Nathan não é o primeiro a falar sobre os efeitos econômicos negativos da alta da desigualdade, tema que voltou para a ordem do dia.
No entanto, a tese mais levantada até agora era que uma renda concentrada demais na mão dos mais ricos se movimenta menos e diminui o crescimento - já que ao contrário dos mais pobres, seu consumo encontra eventualmente um limite natural.
Este é o argumento defendido por gente como o prêmio Nobel Joseph Stiglitz e confirmada recentemente por um trabalho do FMI. A inovação de Nathan foi investigar o efeito do próprio consumo de elite, e não da falta dele.
Além da desigualdade intra-indústria, Nathan também cita o "efeito superstar": quem tem dinheiro sobrando não vai buscar um advogado ou médico excepcional para cuidar dos seus investimentos ou da sua saúde, e sim sempre apenas o melhor do melhor.
Dessa forma, o aumento do fosso entre um punhado de "melhores" e os meramente bons acompanha e alimenta a concentração de renda nas classes mais altas, um efeito ampliado pelo alcance da tecnologia.