Economia

Hábitos dos super ricos aumentam desigualdade, diz estudo

Quando a renda se concentra no topo e indústrias dependem mais dos super-ricos, desigualdade é alimentada em efeito bola de neve, diz estudo de Harvard

Mulher caminha na frente de anúncio de loja de jóias em Beverly Hills, nos Estados Unidos (Patrick Fallon/Bloomberg)

Mulher caminha na frente de anúncio de loja de jóias em Beverly Hills, nos Estados Unidos (Patrick Fallon/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 25 de setembro de 2014 às 10h12.

São Paulo – Os hábitos de consumo dos super-ricos podem parecer uma mera curiosidade para o resto da população, mas talvez estejam alimentando a concentração de renda de forma estrutural em um efeito ‘bola de neve’.

A hipótese foi lançada recentemente por um estudo de Nathan Wilmers, da Universidade de Harvard.

O processo funciona da seguinte forma: quando alguém atinge um alto nível de renda, o ganho que ela tem com determinado bem ou serviço fica cada vez mais concentrado na margem e mais insensível à mudança de preço, especialmente se o bem está relacionado a status.

Ninguém toma um vinho de 5 mil reais esperando que ele seja exatamente 10 vezes melhor do que um de R$ 500 - mas quando você é um bilionário, qual é o seu incentivo para economizar?

O que Nathan fez foi analisar se os setores que dependem muito destes nichos de super-ricos (pessoas com renda acima de US$ 150 mil) reproduzem essa desigualdade na sua própria estrutura através de fatores como aluguéis e disputa pelos trabalhadores mais qualificados com os nichos menos favorecidos.

A resposta é sim: “a dependência de uma indústria em consumidores de elite está associada com um aumento da desigualdade de salários dentro dessa indústria, mesmo desconsiderando variações relacionadas a ocupação, educação e outras particularidades”, diz o estudo.

E como a desigualdade de renda e de consumo está aumentando dramaticamente na maior parte do mundo (e talvez até no Brasil) justamente pela concentração de riqueza na ponta, isso cria uma “bola de neve”, um círculo vicioso que aumenta esse divisão: 

“Na medida em que a economia americana se torna mais dependente de consumidores de elite, essa dependência pode polarizar ainda mais a estrutura de salários”, diz o texto.

Desigualdade e crescimento

Nathan não é o primeiro a falar sobre os efeitos econômicos negativos da alta da desigualdade, tema que voltou para a ordem do dia.

No entanto, a tese mais levantada até agora era que uma renda concentrada demais na mão dos mais ricos se movimenta menos e diminui o crescimento - já que ao contrário dos mais pobres, seu consumo encontra eventualmente um limite natural.

Este é o argumento defendido por gente como o prêmio Nobel Joseph Stiglitz e confirmada recentemente por um trabalho do FMI. A inovação de Nathan foi investigar o efeito do próprio consumo de elite, e não da falta dele.

Além da desigualdade intra-indústria, Nathan também cita o "efeito superstar": quem tem dinheiro sobrando não vai buscar um advogado ou médico excepcional para cuidar dos seus investimentos ou da sua saúde, e sim sempre apenas o melhor do melhor.

Dessa forma, o aumento do fosso entre um punhado de "melhores" e os meramente bons acompanha e alimenta a concentração de renda nas classes mais altas, um efeito ampliado pelo alcance da tecnologia.

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