Economia

Há um jeito dos EUA crescerem 4%, mas Trump não vai gostar

Adam Ozimek e Mark Zandi, da Moody’s Analytics, dão sugestão economicamente coerente mas politicamente complicada para o presidente americano

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante evento na Casa Branca, em Washington. 30/06/2017  REUTERS/Jim Bourg (REUTERS/Jim Bourg/Reuters)

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante evento na Casa Branca, em Washington. 30/06/2017 REUTERS/Jim Bourg (REUTERS/Jim Bourg/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 12h09.

Última atualização em 4 de agosto de 2017 às 14h01.

São Paulo - A economia dos Estados Unidos não está nada mal.

Foi anunciado nesta sexta-feira (04) que a taxa de desemprego em julho caiu para seu menor nível em 16 anos, com criação de vagas e aumento de salários acima do esperado.

A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) anualizada com ajuste sazonal acelerou para 2,6% entre abril e junho, mas o FMI espera que tanto 2017 e 2018 fechem em 2,1%.

O presidente Donald Trump não está satisfeito com isso. Seu Orçamento só fecha se o país crescer 3%, algo que a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, considera "bastante desafiador".

Mas na campanha e no site oficial da Casa Branca, a promessa vai ainda mais longe: a volta dos 4% anuais ou até mais, algo que não acontece desde o ano 2000, após uma década de boom tecnológico.

Um dos obstáculos atuais, compartilhados com a maior parte do mundo desenvolvido (e cada vez mais também com os emergentes), é o envelhecimento da população, com menos trabalhadores e mais aposentados.

Aumentar a produtividade é a melhor opção, mas ninguém sabe exatamente porque ela estagnou e nenhuma mudança de política seria por si só transformadora nessa seara.

Outra solução é possível, de acordo com uma análise feita por Adam Ozimek e Mark Zandi, da agência de classificação de risco Moody’s Analytics, para o site ProPublica.

Cada aumento de 1% na população americana de imigrantes eleva o PIB em 1,15%. Então uma forma simples de chegar aos 4% que Trump deseja é acolher 8 milhões de novos imigrantes por ano.

Seria algo sem precedentes na história americana. Este número era próximo de 2 milhões por ano no final dos anos 90 e início dos anos 2000, e hoje está mais próximo de 1 milhão por ano.

O cálculo considera que estes novos imigrantes teriam um perfil similar aos atuais. O lado ruim é que eles costumam trabalhar em setores menos produtivos do que os nativos, mas o lado bom é que eles costumam ser mais jovens, e portanto ajudariam a segurar o declínio da força de trabalho.

Complexidade

A análise não considera os reflexos negativos de uma mudança desta magnitude, como por exemplo o a pressão exercia sobre os serviços de educação e saúde.

Mas também não considera possíveis efeitos multiplicadores, já que imigrantes tem uma probabilidade maior do que nativos de abrir negócios, se movimentar pelo país e comprar casas, por exemplo.

Também vale notar que um maior crescimento não significa que todo mundo sairia ganhando. Há um certo consenso de que o desemprego não aumentaria, mas é possível que pessoas menos qualificadas tenham que enfrentar mais competição e aceitar salários mais baixos.

Trump usou o discurso contra imigração como uma de suas marcas na campanha e segue prometendo um muro na fronteira com o México.

Ele também acaba de apoiar um projeto que restringiria o fluxo atual de 1 milhão para 50 mil por ano, com prioridade para imigrantes bem qualificados e que falam inglês.

Deportar os atuais 11,3 milhões de imigrantes sem documentos, como Trump já prometeu, causaria um baque de US$ 8 trilhões na economia americana nos próximos 14 anos segundo o mesmo estudo da Moody's.

E isso sem contar o pesadelo logístico e o alto custo de efetivamente tirar essas pessoas do país. Já legalizá-los teria impacto positivo de US$ 2 trilhões no mesmo período, porque a documentação possibilitaria que os imigrantes ampliassem suas opções de trabalho, e com isso a produtividade geral.

Histórico

Em abril, um grupo de 1.470 economistas (incluindo 6 vencedores do Prêmio Nobel) enviou uma carta aberta a Trump e outros líderes políticos americanos defendendo os benefícios da imigração.

O tema não ainda não está resolvida na teoria econômica e as interações são complexas demais para serem capturadas em um modelo único, mas a maior parte dos estudos tende a apontar que a imigração é positiva no balanço.

Uma pesquisa da Universidade de Chicago com dezenas de economistas consagrados em 2013 fez a seguinte pergunta: o americano médio estaria em melhor situação se um número maior de trabalhadores estrangeiros de baixa qualificação pudesse entrar no país todo ano?

50% disseram que sim, 28% demonstraram incerteza e 9% discordaram. Quando a pergunta é sobre o efeito da entrada de imigrantes bem qualificados, aparece um consenso: 89% concordam (fortemente ou não) que o efeito é positivo e 5% estão incertos.

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