Ministro da Economia, Paulo Guedes (Adriano Machado/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 27 de julho de 2020 às 16h37.
Última atualização em 27 de julho de 2020 às 18h27.
A troca de três cargos importantes para a formulação de políticas econômicas do governo em meio à crise causada pela pandemia, e num momento decisivo para a retomada da agenda de reformas, traz preocupações. Porém, ainda é cedo para acender o sinal amarelo, dizem analistas ouvidos pela EXAME.
Com o diretor do Secretaria de Fazenda, Caio Megale, em seus últimos dias no governo Bolsonaro, subiu para três o número de baixas que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, tem em menos de um mês.
Antes dele, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, pediu exoneração na última sexta-feira, e o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, no início de julho.
Soma-se a esses três, ainda, a saída do secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, eleito presidente do Banco dos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Xangai.
Mansueto
A primeira queda foi a de Mansueto Almeida, um dos quadros técnicos herdados pelo governo Bolsonaro da gestão de Michel Temer, que fixou o cargo no final de julho e vai para a iniciativa privada.
"Essas rotatividades depois de um ano e meio de governo são relativamente normais, mas de certa forma, o Mansueto foi a baixa mais importante por conta de tudo que ele representava na negociação com o Congresso. De fato, é o que mais fará falta", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
O seu substituto será Bruno Funchal, atual diretor de Programas na secretaria Especial da Fazenda do Ministério da Economia. O nome foi bem recebido pelo mercado, já que Funchal foi secretário de Fazenda do Espírito Santo de 2017 a 2018 no governo de Paulo Hartung, uma referência em ajuste fiscal.
Segundo Vale, embora Funchal seja um profissional de "excelente qualidade", sem Mansueto, a equipe carece de mais formuladores de política econômica: "O Mansueto é um formulador nato", diz. Um dos fiadores da política fiscal do governo, Mansueto também é conhecido pela habilidade de articulação com os parlamentares.
Por enquanto, o mercado reagiu bem ao nome de Funchal à frente do Tesouro, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton: "A 'prova dos 9' são os juros ainda baixos na parte longa da curva".
Para ele, não há um clima de "abandonar o barco" no ar: "O problema não é eles saírem, mas sim quem vão colocar no lugar", diz.
Megale
Antes do último cargo, Megale chefiava a secretaria de Desenvolvimento da Indústria e do Comércio, Serviços e Inovação, que liga o Ministério da Economia ao setor privado. Ainda no ano passado, chegou a ocupar o cargo de assessor especial de Guedes na interlocução com o setor produtivo.
Sobre Megale, Perfeito destaca que o executivo, no governo desde o período de transição, ajudou a negociar a proposta de socorro a estados e municípios em função da crise do coronavírus neste ano.
Megale saiu com a justificativa de que já havia tido experiência suficiente nos quatro anos no setor público. Ele também foi secretário da Fazenda do município de São Paulo de 2017 a 2018 na gestão João Doria. Ainda não foi definido um substituto para a sua função.
Novaes
Parte da função de Megale como assessor do ministro deve ser desempenhada a partir de agora por Rubem Novaes, segundo informações anunciadas na imprensa com base em fontes da pasta. O presidente Jair Bolsonaro pode anunciar um novo nome para o BB ainda nesta segunda-feira.
Defensor da privatização do BB, Novaes disse em entrevista à EXAME, no fim de maio, que os planos nesse sentido estavam "paralisados" por conta da pandemia. Segundo ele, sua demissão se deu, pois o executivo entende que o banco "precisa de renovação para enfrentar os momentos de muitas inovações no sistema bancário".
A jornalistas, Novaes disse depois que não se adaptou “à cultura de privilégios, compadrio e corrupção de Brasília” e por isso entregou o cargo.
A equipe econômica precisou dar um verdadeiro cavalo de pau em seus planos para o país com a chegada da covid-19, que obrigou economistas de filosofia liberal e defensores da austeridade a pensarem em ações estatais de estímulo com alto custo fiscal.
"A grande questão seria se o Guedes saísse, mas após indas e vindas, ele se acomodou de vez no governo, está aceitando as diretrizes como são dadas por Bolsonaro cada vez mais, e está acomodando o desejo dos militares de alguma forma", diz Vale. "Se Guedes não sai, o mercado, por hora, fica relativamente tranquilo, o resto da equipe você consegue rearranjar", diz.
A calmaria mesmo em meio à reorganização de cargos-chave para o ministério deve continuar até que o governo volte de uma vez às discussões sobre a agenda de reformas estruturantes, há cinco meses paralisada pela pandemia. O mercado aposta que esse clima seja melhor definido no segundo semestre.