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Guedes propõe 'revolução' na economia, diz Delfim Netto

Ele considera a reforma da Previdência crucial e pede um voto de confiança no governo para tentar inverter as políticas que criaram um “Estado obeso”

Para Delfim Neto, a política econômica nas últimas décadas “acabou com a inflação, mas matou o crescimento” ao usar juros altos para segurar os preços e aumento de impostos para equilibrar as contas públicas (ARQUIVO/WIKIMEDIA COMMONS/Divulgação)
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Clara Cerioni

Publicado em 22 de dezembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 22 de dezembro de 2018 às 08h00.

São Paulo - O programa do governo Jair Bolsonaro, elaborado pelo futuro ministro Paulo Guedes , traz uma reorganização do Estado que representará “uma revolução” para a economia, diz o ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto. Ele considera a reforma da Previdência crucial e pede um voto de confiança nas propostas do novo governo, vistas como uma tentativa de inverter as políticas que, nos últimos 20 anos, criaram um “Estado obeso” e muito regulado.

Para ele, a política econômica nas últimas décadas “acabou com a inflação, mas matou o crescimento” ao usar juros altos para segurar os preços e aumento de impostos para equilibrar as contas públicas. Delfim alerta que o Brasil vem crescendo sistematicamente abaixo da média do mundo e está em vias de atingir o “subdesenvolvimento relativo”.

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“Não há nenhuma razão” para se dizer que as propostas de Guedes não vão dar certo, afirmou o economista de 90 anos em entrevista à Bloomberg, no seu escritório em São Paulo. Na ocasião, ele repetiu por cinco vezes a necessidade de um voto de confiança no governo, mesmo ainda havendo dúvidas sobre algumas propostas. “Talvez seja até meio cansativo insistir nisso, mas temos de dar uma chance para que ele experimente, porque vale a pena.”

Para que nova equipe tenha sucesso, é preciso aprovar uma reforma razoável da Previdência. E, no curto prazo, o melhor é aproveitar a já discutida proposta do governo de Michel Temer, que Delfim Netto considera "a menos desidratada de todas as possíveis”. Fatiá-la seria uma decepção, disse, pois dessa forma não se consegue impedir que a despesa cresça R$ 50 bilhões por ano.

“Se o governo não tirar da frente esse entulho, se não mostrar para a sociedade que, de fato, ele vai fazer esse negócio rolar, as expectativas excelentes que hoje existem vão se inverter”, afirmou. “Se não fizer a reforma da Previdência, o setor privado vai recolher os trens.”

Humildade

Delfim avalia que o governo precisará ter um pouco de humildade para negociar as reformas com o Congresso a fim de aproveitar o início de mandato com popularidade em alta, que pode gerar uma lua de mel com duração entre sete e 10 meses.

Apesar dos elogios e do voto de confiança, o economista faz reparos a algumas medidas do novo governo. Ele diz que o fim do Ministério do Trabalho deveria ser levado com muito cuidado, pois defende que o país precisa de sindicatos fortes e equilíbrio entre “o capital e a urna”. A curiosidade é que Delfim nasceu num 1º de maio, Dia do Trabalho e, quando ministro no regime militar, foi um dos alvos preferenciais de protestos dos trabalhadores.

Ideias como a chamada “Escola sem Partido” e propostas para os indígenas ventiladas pelo grupo de Bolsonaro também merecem críticas do ex-ministro. E a mistura de política com religião, segundo ele, é “muito inconveniente". “Religião é da vida privada e política é da vida pública."

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