Economia

Guedes: É ingenuidade achar que país vai crescer 4% "do dia para a noite"

Ministro da Economia admitiu que o crescimento da economia está lento, mas disse que avanço será maior no próximo ano

Paulo Guedes: ministro da Economia disse que decreto da ditadura poderia ser invocado caso manifestações populares aumentem no Brasil (Amanda Perobelli/Reuters)

Paulo Guedes: ministro da Economia disse que decreto da ditadura poderia ser invocado caso manifestações populares aumentem no Brasil (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de outubro de 2019 às 19h07.

Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 19h55.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira (30) que é ingenuidade achar que a economia brasileira vai crescer de 3% a 4% "do dia para a noite". "Quem promete um crescimento desse está mentindo", disse Guedes. Ele participou do painel de encerramento do Estadão Summit, na capital paulista.

A avaliação do ministro toma como ponto de partida o histórico da economia brasileira que percorreu, desde o governo militar, uma trajetória descendente de sua economia até chegar à queda do momento atual. "O crescimento é lento, mas deve ser mais que o dobro no ano que vem", disse, acrescentando que em 2020 o PIB deverá crescer acima de 2%.

Guedes listou uma série de medidas tomadas pelo governo e que tem propiciado o ambiente para o crescimento, baixa inflação, redução de taxa de juro e investimentos que chegam. Ele disse que em uma semana será aprovada a MP do Saneamento, que vai trazer "uma onda" de investimentos ao País.

Para Guedes, tudo isso tem acontecido porque as tomadas vão no sentido da consolidação fiscal com fundamentos sólidos. "Saímos de um período em que se achava que gastos do governo levavam ao crescimento", disse. Ele afirmou também que o governo não está fazendo nada superficial e que o empurrão do FGTS é permanente. "Acho que vocês vão sentir logo o bafo deste crescimento", disse.

Guedes disse que, embora se tenha a impressão de que as coisas não estão andando e que as reformas estão demorando, as coisas estão acontecendo. Ele disse, por exemplo, que o governo está criando um Conselho Fiscal da República e que o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, será o primeiro diretor-executivo deste Conselho Fiscal.

Guedes admitiu que a reforma da Previdência demorou porque houve choques entre a equipe econômica, que acabava chegar ao poder, e o Congresso.

"Tudo virá no devido tempo"

Guedes disse que as próximas reformas estão sendo construídas em parceria com o Congresso Nacional. Ele destacou que essas reformas virão "no devido tempo" - citando, por exemplo, o pacto federativo - e acrescentou "que o devido tempo talvez será em uma semana".

"O Congresso está abraçando as reformas, ao contrário das opiniões aqui embaixo", disse, completando: "Está havendo acoplamento interessante e construtivo (com o Legislativo)".

Segundo o ministro, mesmo no caso da reforma tributária - onde há uma proposta em cada Casa - a ideia é reunir a discussão em uma comissão mista, onde o governo deve apresentar uma ideia de IVA (Imposto sobre valor agregado) dual, ou seja, um federal e outro para Estados e municípios.

O ministro voltou a criticar a forma como as contas públicas estaduais são tratadas, de forma a retratar uma situação melhor do que a de fato. Ele citou o caso de Goiás. Segundo Guedes, o Estado estava quebrado, a despeito de o Tribunal de Contas Estadual (TCE) não mostrar isso na aprovação das contas.

O ministro afirmou que, nas conversas com o Tribunal de Contas da União (TCU), chegou à conclusão de que o órgão federal tem que se tornar uma referência para os estaduais. Disse ainda que os próprios TCEs pediram para ser conectados ao TCU no novo desenho de pacto federativo.

Bolsonaro é um homem reativo

Guedes disse que o presidente Jair Bolsonaro é um homem reativo que, por vezes, erra na forma de se expressar. E acrescentou que ele não deve mudar.

"Eu conversava com alguém que perguntou se o presidente vai mudar. O presidente não muda, é um homem reativo. Atacou, bomba de volta. Atacou, bomba de volta. Eu já me preparei para ir assim até o fim do governo", disse, completando que "seria ótimo" se a convivência fosse "mais pacífica".

O mais recente ruído entre Executivo e Judiciário foi por meio de um vídeo postado na conta do Twitter do presidente em que ele se compara a um leão atacado por hienas — uma delas, o STF. O vídeo, que foi apagado da conta de Bolsonaro, levou o chefe de Estado a pedir desculpas públicas ao presidente do Supremo, José Antonio Dias Toffoli.

Para Guedes, o presidente erra na forma como se expressa, mas ponderou que há um certo desrespeito na forma como ele é tratado. "Vocês têm que focar ou na forma ou na substância. Cada um escolhe o que quer focar. O presidente às vezes é desafortunado na forma de expressão. Agora, eu queria ver alguém ser submetido ao bombardeio a que esse homem é submetido. Falo até consternado de ver. Um homem que recebe 60 milhões de votos merece respeito. Tem gente que usa linguagem muito mais beligerante, muito mais selvagem", disse.

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