Economia

Governo usará BNDES e Fundo Soberano para abater dívida

Por enquanto, a criação ou elevação de alíquotas de impostos ficou de fora, embora não tenha sido descartada


	Michel Temer: por enquanto, a criação ou elevação de alíquotas de impostos ficou de fora, embora não tenha sido descartada
 (Reuters/Ueslei Marcelino)

Michel Temer: por enquanto, a criação ou elevação de alíquotas de impostos ficou de fora, embora não tenha sido descartada (Reuters/Ueslei Marcelino)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2016 às 13h57.

Brasília - O governo do presidente interino Michel Temer anunciou nesta terça-feira duas medidas econômicas com efeito imediato, envolvendo o BNDES e o Fundo Soberano e que somam cerca de 42 bilhões de reais, e outra que depende do aval do Congresso para limitar despesas primárias, incluindo desembolsos com saúde e educação.

Por enquanto, a criação ou elevação de alíquotas de impostos ficou de fora, embora não tenha sido descartada.

"Num primeiro momento, não estamos contemplando aumento de impostos", afirmou a jornalistas o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acrescentando que poderia haver "em algum momento" a necessidade de se estabelecer alguma tributação "temporária".

Em relação às medidas que dependem apenas do próprio Executivo, o BNDES pagará 40 bilhões de reais neste ano à União como parte de sua dívida, e outras duas parcelas anuais de 30 bilhões de reais cada em 2017 e 2018, com efeitos na dívida pública.

O presidente interino disse, durante reunião com líderes partidários, que esses desembolsos não afetarão a capacidade do banco de fomento de financiar a produção no país e que o pré-pagamento do BNDES significará economia anual de cerca de 7 bilhões de reais aos cofres públicos.

Também será extinto imediatamente o Fundo Soberano do país, com a destinação de seu patrimônio de cerca de 2,4 bilhões de reais para abater a dívida pública.

Os ativos do fundo correspondem, em boa parte, a ações do Banco do Brasil que serão vendidas. Segundo Meirelles, isso ocorrerá levando em conta a evolução dos preços e a demanda do mercado.

Os papéis do BB chegaram a cair quase 5% após a notícia. Às 13:36, recuavam 2,67%.

Os mercados financeiros reagiram com otimismo cauteloso às medidas, citando poucas com efeito para reanimar a economia no curto prazo e eventuais dificuldades no Congresso.

"São medidas importantes no que diz respeito ao médio prazo, mas não são suficientes e ainda muito brandas diante do tamanho do desequilíbrio fiscal", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Não vai dar para fugir de aumento de impostos", acrescentou.

Na noite de sexta-feira, o governo anunciou que pediria ao Congresso autorização para fechar 2016 com déficit primário recorde de 170,5 bilhões de reais. O projeto de lei deve ser avaliado pelo Congresso nesta terça-feira.

Aval do Congresso

O governo também anunciou nesta manhã uma Proposta de Emenda a Constituição (PEC) para limitar o crescimento das despesas públicas primárias com base na inflação do ano anterior, incluindo os desembolsos com saúde e educação, medida que precisará do aval do Congresso.

"Estamos limitando (as despesas) ao crescimento real zero", afirmou o ministro da Fazenda.

A PEC ainda não foi finalizada e deverá ficar pronta em até duas semanas. O desafio de aprová-la vem no momento em que o governo enfrenta seu primeiro revés político, com a exoneração do ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, conhecido por sua forte articulação política no Congresso.

Em coletiva de imprensa, o ministro da secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, afastou as preocupações e disse que o governo conta com quórum para aprovar as medidas que apresentará aos parlamentares.

Meirelles estimou que, com a adoção do teto, haverá nos próximos três anos queda de 1,5 a 2% das despesas públicas em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). "Isso é reversão fortíssima e muito importante da trajetória de despesas", disse.

Previdência para depois 

Em sua fala, Temer citou a necessidade de reforma da Previdência, mas disse que uma proposta será apresentada apenas quando houver "concordância da maioria".

"Não irei fazer reforma da Previdência sem ter concordância com a sociedade", disse.

Entre os temas que já tramitam no Congresso e que serão prioridade, Temer mencionou projeto que flexibiliza obrigações da Petrobras no pré-sal e outro que define critérios rígidos para escolha de diretores de fundos de pensão e estatais.

No cargo há 12 dias desde o afastamento da presidente Dilma Rousseff em meio a processo de impeachment, Temer disse que o primeiro grande teste de seu governo será a votação, prevista para esta terça, da nova meta fiscal de rombo de 170,5 bilhões de reais das contas públicas neste ano.

Temer voltou a defender a unificação do país e disse que, embora compreenda a interinidade de seu governo, "essa interinidade não significa que o país deve parar".

Sem mencionar diretamente a operação Lava Jato, Temer disse que não pode invadir a competência de outro poder, e que "a Constituição determina a moral pública".

"Não vamos impedir apuração com vistas à moralidade pública e administrativa", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:BNDESMDB – Movimento Democrático BrasileiroMichel TemerMinistério da FazendaPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileiros

Mais de Economia

Governo sobe previsão de déficit de 2024 para R$ 28,8 bi, com gastos de INSS e BPC acima do previsto

Lula afirma ter interesse em conversar com China sobre projeto Novas Rotas da Seda

Lula diz que ainda vai decidir nome de sucessor de Campos Neto para o BC

Mais na Exame