Governo erra na política monetária, diz ex-ministro
Embora considere a aprovação da reforma da Previdência como certa, ele avalia que as mudanças vão ser suficientes apenas no curto prazo
Reuters
Publicado em 11 de maio de 2017 às 16h23.
São Paulo - O governo do presidente Michel Temer acerta ao encampar a reforma da Previdência , mas falha na condução da política monetária , que ainda tem mantido os juros básicos em níveis muito elevados e, assim, prejudicado a recuperação da economia brasileira, segundo o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Embora considere a aprovação da reforma da Previdência como certa, ele avalia que as mudanças vão ser suficientes apenas no curto prazo, para um período de até seis anos.
Dessa forma, o vencedor da eleição presidencial de 2018 vai ter de se debruçar novamente sobre o tema se não quiser que as contas públicas saiam de novo do controle.
"Eu não me preocupo mais. A reforma da Previdência está aprovada por uma simples razão: essa elite política que está aí --formada por PMDB, PSDB e pelo próprio Temer-- ou aprova ou está destruída", disse Mendonça de Barros em entrevista à Reuters na quarta-feira. "Se não aprovar a Previdência, o país desmorona".
A mudança no sistema previdenciário é apontada como fundamental para colocar as contas públicas em ordem e fazer o país entrar em rota de crescimento novamente, depois de dois anos seguidos de forte recessão. Para garantir a aprovação, Temer já fez série de concessões em busca de mais apoio parlamentar.
Na terça-feira, a comissão especial da Câmara dos Deputados encerrou a votação dos destaques e agora o texto segue para o plenário da Casa.
Historicamente ligado ao PSDB, Mendonça de Barros tem sido presente no debate econômico nos últimos anos. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ministro das Comunicações, um dos responsáveis pela privatização da Telebras.
O lado que o governo Temer está errando na condução da economia é a política monetária, acrescentou Mendonça de Barros. Para ele, a Selic já poderia estar em 8 por cento, muito longe dos 11,25 por cento de agora e ajudando na retomada da atividade ao estimular o consumo por meio de juros menores.
Na avaliação dele, se o Banco Central tivesse sido mais agressivo no corte da taxa básica de juros desde o início, a economia brasileira estaria com desempenho melhor, o que ajudaria a sustentar o discurso reformista do governo.
"O BC inverteu a lógica, de primeiro aprovar a Previdência para depois reduzir os juros. A lógica não é essa. Os juros caem para ajudar a aprovar (as reformas)", afirmou.
O BC começou o atual ciclo de redução dos juros em outubro passado, já tendo feito dois cortes de 0,25 ponto cada na Selic, dois de 0,75 ponto e um de 1 ponto. Segundo a pesquisa Focus, o mercado acredita que a taxa fechará este ano a 8,50 por cento.
Desafio
Com a aprovação da reforma da Previdência, Mendonça de Barros disse que se encerra a primeira etapa do governo Temer, formada por um tripé: aprovação de reformas, ancoragem de expectativas da economia e lidar com o estouro da bolha no consumo.
A segunda etapa do governo Temer será a de acelerar o crescimento econômico. Na avaliação dele, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil pode avançar entre 3,5 e 4 por cento no ano que vem.
"Esse crescimento é suficiente para mudar a expectativa da sociedade, mas a questão de transformar isso num crescimento de mais longo prazo é do próximo presidente da República", afirmou.
Nesse cenário de retomada econômica em 2018, Mendonça de Barros acredita que um candidato com perfil de centro-direita deve se beneficiar na eleição presidencial.
"O mercado tem um 'call' majoritário de que as coisas vão andar bem. E eu acho que o Temer entendeu esse papel de pinguela já dito pelo Fernando Henrique", afirmou.
"O governo atual é uma transição para o período de 'despetização' da economia", acrescentou, referindo-se ao governos do PT entre 2003 e 2016.