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Governo Bolsonaro foi ingênuo na relação com EUA, diz presidente da FPA

Deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que comanda a Frente Parlamentar da Agricultura, aliada de Bolsonaro, diz que é necessário ser pragmático

Donald Trump; Jair Bolsonaro (Alan Santos/PR/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 10h37.

Última atualização em 13 de dezembro de 2019 às 10h59.

O governo de Jair Bolsonaro foi “voluntarista e ingênuo“ ao se alinhar totalmente aos Estados Unidos e busca mudar de rumo sendo mais pragmático, disse o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) que comanda a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), com mais de 280 integrantes e aliada de Bolsonaro.

Segundo Moreira, dois fatos desencadearam uma revisão de políticas: a manutenção da proibição da carne in natura brasileira entrar nos EUA e a decisão de Donald Trump de priorizar a Argentina no processo de acessão à OCDE, após endossar publicamente a candidatura do Brasil.

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“Ali terminou o limite da nossa ingenuidade”, disse em entrevista no escritório da Bloomberg em Brasília. “A ingenuidade é que o fato de eu dizer que eu gosto de ti significa que tu tem que gostar de mim na mesma intensidade. Eu gosto, mas [tu] não gosta tanto assim.”

Como um dos principais líderes do próspero setor de agronegócios do Brasil, Moreira disse que está ajudando o governo a definir uma nova abordagem, sem fornecer detalhes.

Em outubro, os EUA informaram o Brasil que manteriam a proibição de importações de carne bovina in natura. O país suspendeu as importações em 2017, alegando questões sanitárias. No mês passado, o Ministério da Agricultura manifestou confiança de que os EUA removeriam a proibição.

A decisão de Trump, no mês passado, de restabelecer tarifas de aço e alumínio brasileiros, que pegou o governo Bolsonaro de surpresa, foi um balde de água fria nas expectativas de que seriam retomadas em breve as importações de carne.

Segundo Moreira, o jogo duro de Trump reflete a pressão dos agricultores americanos, que competem com os exportadores brasileiros nos mercados globais.

“Os americanos estão perdendo mercado todo dia e não têm mais como aumentar muito a produção deles”, afirmou.

Enquanto isso, disse, o Brasil possui tecnologia e terras não exploradas, o que permite aumentar drasticamente a produtividade e atender à crescente demanda mundial por alimentos, especialmente da China. “Levava três anos e dois meses para produzir 240 quilos de carne bovina. Agora, leva apenas um ano e oito meses.”

Europa

O potencial agrícola do Brasil também afeta sua relação com a Europa, afirmou Moreira. Por um lado, países como França e Irlanda estão colocando obstáculos ao processo de implementação do acordo assinado em junho passado entre União Europeia e Mercosul.

Ele argumentou que culpam o presidente Jair Bolsonaro pelos recentes incêndios na Amazônia, por medo da alta competitividade dos agricultores brasileiros. Por outro lado, os países europeus não têm escolha a não ser colocar em prática o acordo para garantir o acesso a produtos agrícolas abundantes e acessíveis. “É uma questão de segurança alimentar”, disse Moreira.

O deputado gaúcho diz que os agricultores brasileiros se beneficiarão de um projeto de lei recente apoiado pelo governo que busca derrubar restrições à propriedade de terras por estrangeiros para estimular a agricultura.

O projeto, atualmente no Senado, busca facilitar a compra de terras por empresas e cidadãos de outros países. Moreira avalia que os limites que ainda constam no projeto de lei em nome da soberania nacional serão afrouxados à medida em que os estrangeiros criem investimentos e emprego. “Vai ser aprovado, ainda com muitas restrições, mas na medida em que as cidades forem se beneficiando, vai sendo distensionado.”

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