(Jonathan Ernst/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 18h30.
Ao defender um gigantesco pacote de alívio econômico de US$ 1,9 trilhão, o presidente dos EUA, Joe Biden, e assessores afirmaram que vários economistas concordavam que agora é a hora de investir pesado no combate à pandemia.
Mas, na última semana, uma série de economistas proeminentes e ex-formuladores de políticas - do democrata Lawrence Summers ao republicano Douglas Holtz-Eakin - levantaram questões sobre o tamanho do pacote. Alguns observadores da economia nos mercados financeiros também sinalizaram dúvidas.
Embora não discordem de que os EUA precisam de ajuda adicional, destacaram os potenciais custos do gasto extra: economicamente, há o risco de uma inflação mais acelerada e de uma bolha no mercado acionário; politicamente, isso poderia reduzir a disposição do Congresso em apoiar ações fiscais futuras para lidar com prioridades de longo prazo, como gastos com infraestrutura e combate à mudança climática.
Biden voltou a defender um pacote de larga escala na sexta-feira.
Cerca de 10 milhões de americanos continuam desempregados por causa da crise de Covid-19. Quase 40% dos desempregados estão sem trabalhar há 27 semanas ou mais, e a incerteza sobre o vírus ou a distribuição de vacinas continua a segurar contratações e a atividade.
Parte do ceticismo sobre o tamanho do plano do presidente é explicada por simples aritmética. O hiato do produto - a diferença entre onde a economia está e onde deveria caso não houvesse pandemia - mostrou déficit de cerca de US$ 665 bilhões no quarto trimestre do ano passado, segundo dados do Escritório de Orçamento do Congresso. Biden mira um pacote de estímulo quase três vezes maior.
Talvez o economista que mais surpreendeu ao levantar questões sobre o pacote tenha sido Summers, professor da Universidade Harvard que há décadas participa da elaboração de políticas do Partido Democrata. Summers foi secretário do Tesouro sob o o governo do presidente Bill Clinton e assessor econômico sênior de Barack Obama.
Em entrevistas à Bloomberg Television e em comentários ao Washington Post, Summers concordou com autoridades do governo Biden que os riscos de fazer pouco superam os de fazer muito. E admitiu que economia teria se saído muito melhor se o governo Obama tivesse pressionado por - e conseguido aprovar - um pacote fiscal muito maior em 2009, em vez do programa de US$ 787 bilhões no qual desempenhou um papel fundamental na formulação.
Mas Summers argumentou que a equipe de Biden precisa estar ciente dos riscos assumidos com o plano ambicioso.
Em entrevista ao programa “State of the Union” da CNN no domingo, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, reconheceu que a inflação muito rápida é um risco que precisa ser considerado. Mas argumentou que as autoridades têm ferramentas para lidar com esse perigo caso se materialize.
Até o momento, pelo menos, investidores não parecem muito preocupados com uma forte alta da inflação. O mercado projeta inflação média de 2,2% na próxima década, de acordo com negociações no mercado de títulos do Tesouro dos EUA. Embora o número tenha aumentado em relação à mínima pós-pandemia de apenas 0,55% calculada em março passado, ainda é modesto para os padrões históricos.
O ex-diretor do Escritório de Orçamento do Congresso Holtz-Eakin concorda que a inflação não é uma preocupação especial no momento. O que preocupa o presidente do American Action Forum é o risco de instabilidade financeira, à medida que uma enxurrada de capital empurra o mercado de ações e os preços de outros ativos para níveis insustentáveis, o que pode abrir caminho para um crash. Foi o que ocorreu em 2000, com os preços das ações, e em 2007, com os imóveis.