Gabriel Galípolo: futuro presidente do Banco Central também afirmou que há incômodo entre os diretores da autoridade monetária com desancoragem das expectativas de inflação (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 12h16.
Última atualização em 2 de dezembro de 2024 às 12h39.
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, voltou a afirmar nesta segunda-feira, 2, que o ambiente macroeconômico, com desancoragem das expectativas de inflação, desemprego baixo e dólar em alta apontam para uma " política monetária mais apertada por mais tempo do que se imaginava". Na prática, ele disse que os juros devem subir ainda mais e ficar nesse patamar por um período maior.
“A economia se revela mais dinâmica do que se esperava, com desemprego na mínima, somado a moeda mais desvalorizada”, afirmou Galípolo, em evento com investidores. “Isso sugere política monetária mais apertada por mais tempo do que se imaginava”.
A desancoragem das expectativas de inflação no país começou em abril, após o governo alterar as metas fiscais e prometer zerar o déficit fiscal somente a partir de 2025.
Desde então, a mediana das expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, 2025 e 2026 subiu significativamente. O futuro presidente do BC também afirmou que esse processo traz bastante incômodo para os diretores da autoridade monetária.
"Esse é um processo de desancoragem que já está há um tempo. Que já nos incomoda há bastante tempo", disse Galípolo.
Como consequência do processo de desancoragem das expectativas, as projeções para os juros também subiram significativamente nos últimos meses. Até abril, a previsão era de a Selic voltaria para um dígito já em 2025. O boletim Focus do BC, divulgado nesta segunda, entretanto, mostra que isso só deve ocorrer, no melhor dos cenários, em 2027.
A mediana das expectativas do mercado aponta que os juros, atualmente em 11,25% ao ano, subirão nos próximos meses até chegar a 13,25% ao ano em março e terminarão 2025 acima de 12,5% ao ano.
A piora da percepção dos agentes econômicos também foi afetada pela decisão do governo de anunciar um pacote que promete reduzir os gastos públicos em R$ 70 bilhões nos próximos dois anos em paralelo a tramitação de um projeto para isentar de Imposto de Renda (IR) pessoas com renda mensal de até R$ 5.000.
Para compensar a perda de arrecadação, estimada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pelo menos R$ 35 bilhões, a ideia é tributar quem tem renda superior a R$ 50 mil por mês. Com isso, o imposto terá incidência para quem tem rendimentos que ultrapassam R$ 600 mil por ano.
Em meio ao ambiente econômico conturbado, economistas, analistas e investidores passaram a apostar que os juros devem subir, pelo menos, 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcado para 10 e 11 de dezembro. E já há quem aposte em um alta de 1 ponto percentual.
Com dólar em alta, com a inflação corrente pressionada e as expectativas para os próximos anos desancoradas, além do mercado de trabalho supreendendo, os membros do Copom estão pressionados a acelerar o ritmo de alta dos juros.
Como mostrou à EXAME, somente uma sinalização pública e clara do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de compromisso com o equilíbrio das contas públicas e com o corte de gastos teria condições de diminuir essas pressões.
Se nada ocorrer até a próxima semana, a tendência é de os juros em dois dígitos durante toda a gestão petista.