Economia

Gafe da Gazprom mostra que economia de Putin está corroendo

Monopólio exportador de gás aspirava a ser a maior empresa do mundo, com previsão de sustentar um valor de mercado de US$ 1 trilhão em apenas sete anos


	Gazprom: nenhuma das 5.000 maiores empresas do mundo sofreu um colapso tão grande no seu valor de mercado quanto a russa
 (Alexander Demianchuk/Reuters)

Gazprom: nenhuma das 5.000 maiores empresas do mundo sofreu um colapso tão grande no seu valor de mercado quanto a russa (Alexander Demianchuk/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2014 às 18h33.

Nova York/Moscou - Em abril de 2007, no meio do maior rali de commodities já registrado, o vice-CEO da OAO Gazprom, Alexander Medvedev, falava ambiciosamente.

O monopólio exportador de gás natural da Rússia aspirava a ser a maior empresa do mundo, dizia ele, e oferecia uma previsão: seu valor de mercado quadruplicaria para US$ 1 trilhão em apenas sete anos.

Medvedev errou por US$ 910 bilhões. Desde que fez aquela previsão, nenhuma das 5.000 maiores empresas do mundo sofreu um colapso tão grande no seu valor de mercado quanto a Gazprom, uma precipitação de US$ 154 bilhões que se tornou um emblema do mal-estar que tomou conta da economia do presidente Vladimir Putin. A empresa estatal caiu durante três anos consecutivos no mercado acionário ao aumentar os gastos em coisas como os Jogos Olímpicos em Sochi e os projetos na Sibéria.

“A Gazprom é campeã em destruição de valor”, disse Ian Hague, sócio fundador da Firebird Management LLC, com sede em Nova York, que gerencia US$ 1,3 bilhão em ativos incluindo ações russas, em entrevista por telefone em 2 de abril. “Não só a Gazprom não conseguiu cumprir sua meta de aumentar o valor de mercado. Foi a Rússia que fracassou. O país não conseguiu criar um ambiente onde as empresas estatais funcionassem como entidades de propriedade dos acionistas”.

Aliya Samigullina, porta-voz em Moscou do vice-primeiro-ministro Arkady Dvorkovich, responsável pela indústria da energia, não quis comentar.

Preços do petróleo

Sergei Kupriyanov, porta-voz da Gazprom em Moscou, disse ontem que a previsão de US$ 1 trilhão “foi tirada do contexto” porque os funcionários da empresa estavam projetando uma cotação possível caso os preços do petróleo continuassem subindo. Ele disse que as sanções impostas pelos EUA e pela Europa à Rússia, após a anexação da Crimeia no mês passado, contribuíram para a queda do preço das ações da Gazprom, aumentando seu desconto para pares globais.

O petróleo operou a US$ 104,79 por barril ontem na bolsa ICE Futures Europe, com sede em Londres, frente a US$ 68,24 no dia anterior às declarações de Medvedev em 2007.


O índice Micex de referência da Rússia caiu 19 por cento nos últimos sete anos, rendimento inferior ao avanço de 8,2 por cento do MSCI Emerging Market e ao ganho de 10 por cento no medidor MSCI World de países desenvolvidos. O Micex entrou em um mercado baixista em 13 de março, depois da manobra de Putin para anexar a Crimeia da Ucrânia, desencadeando o pior confronto entre a Rússia e os EUA desde o final da Guerra Fria.

O Banco Mundial disse na semana passada que a crise aumenta o risco de a Rússia cair em recessão neste ano, depois que o crescimento diminuiu para 1,3 por cento em 2013, o ritmo mais fraco em quatro anos. A economia provavelmente expandirá menos de 1 por cento neste ano, disse a presidente do Banco Central, Elvira Nabiullina, em uma conferência bancária ontem em Moscou.

Putin – que logo depois de chegar ao poder em 1999 restabeleceu a música do hino nacional da era soviética e depois descreveu o colapso da União Soviética como a maior catástrofe geopolítica do século 20 – aumentou o papel do Estado na economia.

Agendas políticas

Os lucros da Gazprom nos primeiros nove meses do ano passado, calculados conforme os padrões russos, caíram 9 por cento para 467 bilhões de rublos (US$ 13 bilhões). A renda aumentou 4 por cento para 859 bilhões de rublos segundo os padrões internacionais. A empresa não divulgou seu relatório de lucros para o ano completo.

Com cerca de US$ 3 bilhões de gastos assinalados para os Jogos Olímpicos e outros bilhões para novas rotas de transporte de gás à Europa que driblam a Ucrânia, a Gazprom disse que não possui suficientes fundos para distribuir mais dinheiro. Ao mesmo tempo, o governo congelou os preços domésticos da Gazprom e aumentou impostos, ao passo que a dívida da Ucrânia pelo fornecimento de gás subiu até cerca de US$ 1,8 bilhão.

A Gazprom “não está sendo gerenciada como uma entidade capaz de maximizar os lucros, mas para todo tipo de agendas políticas”, disse William Browder, fundador da Hermitage Capital Management Ltd., em entrevista por telefone em 1º de abril.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEmpresasEuropaGazpromIndústria do petróleoPolíticosRússiaVladimir Putin

Mais de Economia

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados