Furar teto para ganhar eleições é irresponsabilidade, afirma Guedes
Declaração ocorre em meio a discussões sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã, programa de transferência de renda do governo Bolsonaro
Mariana Martucci
Publicado em 2 de outubro de 2020 às 20h05.
O ministro da Economia, Paulo Guedes , afirmou na noite desta sexta-feira que furar o teto de gastos para ganhar eleições é irresponsável com as futuras gerações, em meio a discussões sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã, programa de transferência de renda que o governo Jair Bolsonaro quer criar em substituição ao Bolsa Família.
Em declaração na portaria do ministério, Guedes disse que o governo vai aumentar os recursos repassados no programa, mas ressalvou os limites. "Vamos ter que dar uma turbinada neste programa sim. Mas precisa furar teto? Não", disse.
O ministro disse que uma coisa é furar o teto porque se estava salvando vidas na pandemia do novo coronavírus, acrescentando que, se houver uma segunda onda de Covid-19 "aí sim é o caso de furar o teto".
"Agora furar o teto para ganhar eleição é irresponsável com as futuras gerações", afirmou.
Mais cedo nesta sexta-feira, o ministro da Economia havia afirmado que o colega de Esplanada Rogério Marinho pode ser considerado “despreparado, desleal e fura-teto”, caso tenha falado mal dele, após terem vindo a público informações que circularam no mercado de que Marinho teria criticado Guedes em um evento reservado.
“Eu não acredito que o Marinho tenha falado mal de mim, nem acredito… se ele está falando mal, tem três coisas: é despreparado, é desleal e é o fura-teto, está confirmando que é um fura-teto”, disse Guedes.
“Então, eu espero que ele não tenha falado nada de mal. Agora eu vou subir depois eu venho e explico para vocês o que está acontecendo”, emendou ele, em rápida fala a jornalistas na chegada ao prédio do Ministério da Economia em Brasília.
Por quatro vezes, Guedes disse não acreditar que Marinho, titular do Desenvolvimento Regional, tenha lhe criticado no evento.
A assessoria de Rogério Marinho divulgou nota nesta sexta-feira negando que ele tenha desqualificado “agentes públicos” em reunião com grupo de economistas da qual participou nesta manhã e destacando que a solução do governo para as famílias que dependem de auxílio respeitará as âncoras fiscais.
A nota foi uma referência a notícia que circulava nos mercados de que, na reunião, Marinho teria criticado o ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirmado que o programa Renda Cidadã, de transferência de renda, será lançado de qualquer forma –o que foi interpretado como uma disposição do governo de violar a regra do teto de gastos.
“A reunião teve o intuito de reforçar o compromisso do governo com a austeridade nos gastos e a política fiscal”, diz a nota do ministério.
“Em sua fala, Rogério Marinho destacou que o governo reconhece a necessidade de construção de uma solução para as famílias que hoje dependem da auxílio emergencial e que essa solução será resultado de um amplo debate com o Parlamento, em respeito à sociedade e às âncoras fiscais que regem a atuação do governo.”
A nota afirma, ainda, que na reunião não foram feitas “desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas”.
“Quem dissemina informações falsas como essas tem claro interesse em especular no mercado, gerando instabilidade e apostando contra o Brasil.”
Uma fonte próxima a Marinho disse à Reuters que, apesar das reservas de Paulo Guedes, não há opção e vai ter que se criar o Renda Cidadã de algum jeito como forma de contemplar futuramente os beneficiário do auxílio emergencial.
Essa fonte avaliou que, no início da pandemia, o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha permitido que despesas com o covid-19 fossem excepcionalizadas pelo governo federal de restrições de gastos. Contudo, ressalvou a fonte, essa providência foi adotada para despesas na área de saúde com a doença, mas não para questões referentes à economia.
A fonte lembrou ainda que Marinho esteve na véspera todo o dia com o presidente Jair Bolsonaro cumprindo uma agenda de viagens e cada vez mais tem se aproximado dele. Mas frisou que o ministro do Desenvolvimento Regional não tem qualquer interesse em desgastar o colega da Economia.