Economia

Fundos alertam para apostas exageradas sobre alta de juros nos emergentes

Após meses com medidas restritivas contra a pandemia, existe o risco de países emergentes deixarem as economias muito aquecidas e depois tenham que aumentar os juros acima do esperado

 (Edson Souza/iStockphoto)

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Bloomberg

Publicado em 31 de maio de 2021 às 09h47.

Quando se trata de apostar em juros mais altos no mundo em desenvolvimento, alguns investidores podem estar exagerando.

Em mercados como África do Sul, México e Coreia do Sul, operadores apostam em um ritmo mais rápido de aumento das taxas de juros do que economistas estimam com base no cenário de inflação.

“Quase todos estão precificando demasiadamente o aperto”, disse Shamaila Khan, diretora de dívida de mercados emergentes da AllianceBernstein, em Nova York, cujo fundo de títulos de alto rendimento, com ativos de US$ 4,7 bilhões, superou 86% dos pares no último ano.

O posicionamento reflete um argumento comum nos mercados: depois de meses de lockdowns da Covid-19, existe o risco de que autoridades monetárias deixem as economias muito aquecidas e depois tenham que aumentar os juros acima do esperado.

Mas o debate tem peso extra nos mercados emergentes, uma classe de ativos que é particularmente sensível à postura do Federal Reserve. Sugere como as apostas podem rapidamente se desfazer com qualquer sinal de que a política monetária se manterá frouxa, potencialmente recompensando investidores dispostos a olhar além do cenário baixista.

No México, por exemplo, as apostas no mercado de swaps indicam que o aperto monetário poderia começar já em agosto, embora a maioria dos economistas projete que o banco central deve evitar elevar os juros pelo menos até fevereiro.

É um caso semelhante na África do Sul, onde os contratos de taxas futuras precificam probabilidade de 70% de um aumento de 50 pontos-base em seis meses, enquanto a pesquisa mensal da Bloomberg mostra a taxa de juros inalterada até o final do ano.

Ao mesmo tempo, os contratos de taxas a termo da Coreia do Sul precificam uma alta de quase 25 pontos-base na taxa de juros nos próximos seis meses. Em contraste, a maioria dos economistas não prevê mudança.

Contra esse pano de fundo, Khan, da AllianceBernstein, disse que seu fundo prefere dívida em moeda local da África do Sul, México e Rússia, “onde os mercados têm precificado muito em termos da trajetória da taxa básica de juros”.

Autoridades do banco central dos EUA podem começar a discutir o momento apropriado para reduzir o programa de compras de títulos nas próximas reuniões de política monetária, disse o vice-presidente do Fed, Richard Clarida, na semana passada.

Correção do mercado

Ainda assim, alguns recomendam cautela. O índice de surpresa inflacionária para mercados emergentes do Citi está no nível mais alto desde 2008, um lembrete de quantos investidores foram pegos de surpresa pela aceleração da inflação.

“Os riscos provavelmente são inclinados para um aperto mais rápido, em vez de mais lento”, disse Duncan Tan, estrategista do DBS Bank, em Singapura.

Os dados de inflação em países como Coreia do Sul, Turquia e Polônia nesta semana podem oferecer pistas sobre o rumo da política monetária. No México, traders vão monitorar o relatório trimestral de inflação do banco central na quarta-feira em busca de sinais de que a autoridade monetária possa adotar uma perspectiva “dovish”, ou inclinada ao afrouxamento.

“A menos que a divulgação de dados de curto prazo forneça uma confirmação do que está sendo precificado, a precificação atual do mercado é vulnerável a uma correção”, disse Eugenia Victorino, responsável por estratégia para a Ásia no Skandinaviska Enskilda Banken, em Singapura.

“O mercado já está apostando em mais aumentos do que os fundamentos sugerem”, disse.

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