Economia

Forte expansão da China mascara recuperação desigual em renda

Em 2020, a renda média disponível dos 20% mais ricos é mais do que o triplo da mediana e 10 vezes mais do que os 20% mais pobres

Pequim, na China: o coronavírus contaminou mais de 80.000 pessoas e paralisou parte da economia do país | Kevin Frayer/Getty Images (Kevin Frayer/Getty Images)

Pequim, na China: o coronavírus contaminou mais de 80.000 pessoas e paralisou parte da economia do país | Kevin Frayer/Getty Images (Kevin Frayer/Getty Images)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 15h45.

A rápida recuperação econômica da China do impacto da pandemia de coronavírus mascara o fato de que a distância entre ricos e pobres continua grande, o que impede uma retomada mais forte do consumo.

Embora dados oficiais divulgados na segunda-feira tenham mostrado crescimento superior aos níveis pré-coronavírus no quarto trimestre, uma análise mais detalhada dos números mostra que os chineses mais pobres ainda ganham apenas uma fração da renda dos ricos.

Os chineses 20% mais ricos tiveram renda média disponível de mais de 80 mil yuans (US$ 12 mil) no ano passado. O valor é mais do que o triplo da mediana e 10 vezes mais do que os 20% mais pobres receberam, segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas.

Milhões de trabalhadores chineses perderam o emprego no início de 2020, quando as paralisações para conter o coronavírus atingiram a demanda em toda a economia e fecharam fábricas, restaurantes e lojas. Com os lockdowns iniciais em janeiro e fevereiro, muitos ficaram presos em suas cidades de origem depois de terem viajado para as comemorações do Ano Novo Lunar, sem poderem retornar aos locais de trabalho.

Quando as restrições foram suspensas no final do segundo trimestre e muitas empresas reabriram, milhões de trabalhadores não voltaram: dados oficiais mostraram que o número de trabalhadores migrantes rurais caiu 5,2 milhões em 2020 em relação a 2019. E, embora o governo tenha anunciado a criação de quase 12 milhões de empregos urbanos no ano passado, a taxa oficial de desemprego contabiliza apenas pessoas que residem nas cidades há pelo menos seis meses.

A renda nominal dos chineses mais pobres cresceu em ritmo mais rápido do que a dos mais ricos no ano passado, mas os efeitos da perda de renda e empregos podem ser vistos claramente nos gastos dos consumidores. As vendas no varejo caíram 3,9% em 2020 em relação ao ano anterior, enquanto o consumo per capita, descontada a inflação, encolheu 4%. A queda de quase 17% dos gastos em restaurantes no ano passado afetou não apenas a renda dos empresários, mas também os salários de funcionários e entregadores.

Em contraste, a economia industrial da China atingiu novos recordes em 2020. A produção de aço bruto ultrapassou 1 bilhão de toneladas, e a produção de aço laminado, ferro-gusa e alumínio também subiu para novas máximas com o aumento das exportações e investimentos em infraestrutura e imóveis, o que estimulou a demanda por metais.

A recuperação puxada pelas exportações e investimentos deve ajudar a meta do governo de dobrar o tamanho da economia em 2021 em relação ao nível de 2010. No entanto, para muitos trabalhadores chineses, isso não significará aumento da renda.

Acompanhe tudo sobre:ChinaDesigualdade socialDistribuição de rendaPandemia

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação