De acordo com ele, o País poderia ter avançado na política de concessões, o que não aconteceu por "preconceito ideológico" (André Porto/Bravo!)
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2012 às 19h49.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu nesta terça, em palestra a lojistas de shopping centers em São Paulo, que o País racionalize os gastos com a máquina pública e concentre os esforços em investimentos na área de infraestrutura. Segundo o ex-presidente, ao contrário da China, que no passado investiu em infraestrutura e atualmente incentiva o consumo da população para minimizar os efeitos da crise econômica internacional, o Brasil precisa fazer o inverso."Nós não fizemos o que a China fez: nós não investimos", concluiu FHC em seu discurso no 12º Brasilshop - Congresso Internacional do Varejo.
"Na época da bonança nós deveríamos ter investido mais em infraestrutura. Hoje todo mundo reclama que não tem estradas, os aeroportos não avançaram. São questões que não se resolve do dia para a noite", criticou FHC.
Para o ex-presidente, a arrecadação do governo federal é suficiente para que o País invista em infraestrutura e continue crescendo. "Essa massa de recursos, em boa parte, está sendo desperdiçada porque enche a máquina sem que ela tenha produtividade", avaliou. "Com a taxa de juros caindo, vai haver mais (recursos). Vai sobrar mais dinheiro para o governo federal", emendou.
De acordo com ele, o País poderia ter avançado na política de concessões, o que não aconteceu por "preconceito ideológico". "Essas coisas (ideologias) atrasam o País, impedem de crescer mais depressa", opinou.
Elogio
Fernando Henrique elogiou o desempenho da presidente Dilma Rousseff na "cruzada" contra os juros altos. "Acho que, no desafio atual, a taxa de juros tinha de ser enfrentada mesmo", admitiu após fazer um resumo da trajetória econômica brasileira e da manutenção das políticas iniciadas a partir do Plano Real (1994).
Na opinião do ex-presidente, a crise internacional afetará o Brasil "até certo ponto" porque não se sabe qual será o destino da Europa diante do impasse: injetar mais recursos e recuperar a capacidade de compra da população ou aumentar o rigor fiscal. "Isso vai nos afetar não só pelas exportações, pelas linhas de crédito internacionais que podem ser abaladas, mas afeta principalmente porque a China tem na Europa um grande consumidor e portanto a China também vai parar. Tem uma diminuição significativa do crescimento e da demanda chinesa e, no nosso caso, de minério e alimentação. Então a crise mundial nos afeta", analisou. FHC acredita que Europa precisa retomar o crescimento e a economia diversificada do Brasil pode ajudar o País. "Nós aprendemos a lidar com certos fatores, como o câmbio e os juros", completou.
Na palestra de quase uma hora, FHC disse que o País sofre com a escassez de qualificação profissional e que, para superar essa deficiência, será preciso aceitar mais estrangeiros. "Nós somos um país de imigração, precisamos de gente", pregou.