EUA enfrentam risco maior do que a quebra do Lehman Brothers
Setembro pode terminar com um desastre auto-infligido, diz relatório recente da agência de classificação de risco Standard & Poor's
João Pedro Caleiro
Publicado em 3 de setembro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2017 às 08h00.
São Paulo - Os Estados Unidos têm uma regra curiosa: quando a dívida do governo atinge um certo limite, ele precisa ser elevado pelo Congresso.
A data limite para isso acontecer desta vez é por volta de 29 de setembro, caso contrário o país terá que dar o calote.
Fazer isso seria "mais catastrófico para a economia do que a quebra em 2008 do Lehman Brothers", um dos momentos chaves da crise financeira.
O alerta vem de um relatório recente da agência de classificação de risco Standard & Poor's assinado por Beth Ann Bovino, sua economista-chefe para Estados Unidos.
A contração abrupta e desordenada do gasto governamental faria a economia entrar em recessão, apagando grandes parte dos ganhos feitos nos últimos anos.
Os títulos do Tesouro americano são considerados um dos mais seguros do mundo e o Partido Republicano controla Congresso, Senado e Casa Branca.
Ou seja, teria motivos de sobra e maioria fácil para elevar o teto sem drama. Mas "apostar em um governo americano racional pode ser arriscado", alerta Beth.
Há republicanos que costumam usar estes momentos para forçar cortes de gastos do governo, o que levou a impasses nos últimos anos.
Em 2011, um acordo entre o então presidente Barack Obama e o Legislativo republicano para elevar o teto só foi celebrado dois dias antes da data-limite.
A tensão levou à semana mais turbulenta nos mercados globais desde a crise de 2008 e fez com que a própria S&P rebaixasse a nota americana em um degrau, o que nunca havia acontecido.
O risco nesse momento é que as conversas sobre o teto irão ocorrer de forma concomitante com as negociações para aprovação da continuidade do financiamento do governo.
O presidente Donald Trump ameaça não assinar um Orçamento que não tenha recursos para o muro na fronteira com o México, rejeitado por muitos republicanos e pela maior parte da população.
Só que sem um Orçamento, o governo é obrigado a suspender todas as suas operações não essenciais, algo que aconteceu da última vez em 2013.
O chamado shutdown em si já causaria em um impacto perverso na atividade: o cálculo da S&P é que cada semana de paralisação poderia comer 0,2 ponto percentual do crescimento do PIB no 4º trimestre, o equivalente a US$ 6,5 bilhões.