Inflação de salários está subindo com força nos EUA (mars58/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 16h05.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2018 às 18h33.
São Paulo - O cenário internacional continua positivo, apesar da volatilidade recente dos mercados financeiros.
Em reunião com jornalistas, a equipe econômica do Itaú apresentou revisões para cima das projeções de crescimento das principais economias mundiais.
Mario Mesquita, economista-chefe do banco, classifica a expansão como forte e "sincronizada", termo cada vez mais usado nos meios econômicos para classificar o cenário.
A exceção entre as principais economias é o Reino Unido, que desacelera diante das incertezas causadas pelo processo de saída da União Europeia, o chamado Brexit.
O ponto de atenção dos mercados é os Estados Unidos. A boa notícia é que a alavancagem está abaixo da média histórica, o que pode estar relacionado com os esforços de regulação pós-crise financeira.
Mas o país está crescendo acima do potencial e ainda aprovou um enorme pacote fiscal de corte de impostos que "coloca gasolina no fogo", na definição de Mesquita.
E quando a economia está superaquecida e o desemprego cai, a inflação de salários tende a subir - e está subindo, com força.
A relação é conhecida como "Curva de Phillips" e parecia dormente há um tempo, mas os últimos números surpreenderam para cima, mostrando que ela não está morta - pelo contrário.
“Nesse ambiente, o melhor é não mudar o comando do banco central, obrigando ele a reafirmar sua credibilidade, mas não foi o que o governo americano fez”, disse Mário.
O comando do Federal Reserve foi assumido recentemente por Jerome Powell, indicação de Donald Trump, que quebrou a tradição de manter o indicado anterior (Janet Yellen) para mais um mandato.
Mas Mesquista diz que "o problema inflacionário não é iminente ou intenso" porque o histórico americano é de inflação baixa e a previsão é que o Fed continue mantendo as expectativas ancoradas.
Isso será feito continuando a reduzir o balanço e apertando os juros, com 4 altas em 2018 e 2019 previstas por enquanto.
Juros mais altos (ainda que baixos em termos históricos) tornam títulos e ações relativamente menos atrativos, o que contribuiu para a queda recente das ações.
Outra preocupação de longo prazo é que a expansão americana já dura vários anos. Se vier uma recessão e for preciso reagir, os cartuchos de política monetária e fiscal para reverter o ciclo já terão sido usados.
Enquanto isso, a Europa vive seu melhor momento de crescimento em uma década, com destaque para o setor industrial da Alemanha.
O risco de deflação está por ora afastado, e a previsão é que a expansão do balanço do Banco Central Europeu seja interrompida neste ano, com início da normalização da política monetária em 2019.
Já a China segue melhor do que o esperado. O cenário global ajuda nas suas exportações e o consumo ganha espaço em relação ao investimento, o que é um dos objetivos de política econômica.
“O rebalanceamento da economia chinesa parece ter avançado muito nos últimos anos”, diz Mesquita.
Mesquita classifica o crescimento latino-americano como "incipiente e nada exuberante", mas menos frágil e também auxiliado pelo bom cenário global.
Além disso, commodities em alta e menores déficits em conta corrente vem ajudando a fortalecer as moedas dos países da região.
"Mas a maioria das economias da região vai crescer menos do que o PIB mundial. A região vai perder relevância no cenário mundial”, diz Mesquita.