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Entenda como a Embraco ganhou mercado em mais de 80 países

Em 1999, a empresa já era líder mundial nas vendas de compressores domésticos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.

A catarinense Embraco, fabricante de compressores para refrigeração - aqueles componentes essenciais à geração do frio, conhecidos como o coração de refrigeradores, freezers e bebedouros -, com sede em Joinville, Santa Catarina, é um caso raro no Brasil. Em 1999, ela já chegava à liderança mundial com 23% de participação no mercado global de compressores domésticos.

Conseguiu a proeza num ano em que o mercado ficou estável e a oferta de compressores era maior que a demanda. Ou seja, ela chegou lá ganhando espaço da concorrência. Única fabricante do setor com sede no Brasil, a Embraco deixou para trás concorrentes do porte da sueca Electrolux. "Nós já éramos, no início da década de 90, uma empresa com amplitude global importante a partir de uma planta no Brasil", diz Ernesto Heizelmann, presidente da Embraco.

"Naquele momento nós desenhamos o futuro. Nada aconteceu por acidente. No planejamento definimos que até o ano 2000 seríamos a maior e melhor fabricante de compressores do mundo." Heinzelmann desenvolveu sua carreira na empresa fundada em 1971. Está lá há tempo suficiente para conhecer cada detalhe da escalada da Embraco para se tornar uma das 12 desafiantes globais da pesquisa realizada pela consultoria Boston Consulting Group (BCG),  consideradas no estágio mais avançado de globalização e, portanto, já estabelecidas em seus mercados.

Mas essa posição, ao contrário do que se possa imaginar, não permite que a empresa se acomode. "Tivemos que rever nossa visão de futuro, impondo-nos novos desafios, após a conquista da liderança global", diz Heinzelmann. Embora sua participação no mercado mundial já tenha chegado a 25%, ela hoje tem uma fatia de 20%. Isso porque há novos players, especialmente chineses, o que deixou este mercado mais pulverizado. De qualquer forma, a segunda colocada no ranking, a ACC (Electrolux), tem participação estimada em 15%.

A Embraco determinou no seu planejamento que seria reconhecida no mercado global como fornecedora preferencial de soluções de refrigeração, ampliando o escopo da empresa. Até o ano 2000, ela era focada em compressores domésticos, utilizados preferencialmente por fabricantes da linha branca. A partir daí, decidiu agregar valor e fabricar também compressores comerciais e, inclusive, equipamentos refrigerados para uso comercial, como vending machines e equipamentos completos para supermercados e bares. Com os novos produtos voltados para a área comercial, a Embraco espera ganhar novos segmentos de mercado.

Tecnologia

Essa flexibilidade da Embraco se deve a um fator que a diferencia e lhe dá vantagem competitiva lá fora: tecnologia de ponta. A Embraco tem quase 400 cartas-patentes de produtos desenvolvidos em seus 37 laboratórios. A área de engenharia e desenvolvimento foi criada em 1983 pelo atual presidente. Na época apenas um gerente, ele estava disposto a desenvolver tecnologia própria. Em 1987, concluiu com sua equipe o projeto do primeiro compressor com tecnologia 100% Embraco, o EM, hoje um produto líder mundial, fabricado tanto no Brasil como na fábrica italiana da Embraco. "Não tive medo do novo", diz Heinzelmann. "Criar uma área de P&D em 1983 no Brasil era um desafio e tanto e, apesar dos riscos, eu topei assumir isso."

A independência tecnológica possibilitou à empresa desenvolver novos modelos de compressores que excederam os padrões do mercado quanto à eficiência energética, os baixos níveis de ruído e a confiabilidade. Foram os diferenciais tecnológicos que levaram a Embraco à liderança mundial.

Em 1989, Heinzelmann, então diretor, começou a observar outro fenômeno. Mais de 70% do mercado consumidor dos compressores fabricados pela empresa estava concentrado em cinco grandes fabricantes de linha branca. São empresas globais e clientes exigentes. Para atendê-las cada vez melhor, a Embraco obrigou-se, além de desenvolver tecnologia, a tornar-se, ela também, uma empresa global. "Era preciso estar mais próxima dos clientes para diminuir os prazos de entrega e os problemas de logística", diz Heinzelmann.

Heinzelmann

Em 1993, a Embraco, então uma empresa do grupo Brasmotor, estava nesse momento crucial, de optar pela globalização. E de escolher seu novo presidente. O conselho optou pelo nome de Heinzelmann, o homem que havia dado o primeiro grande salto da Embraco (rumo à tecnologia própria) e que poderia conduzi-la novamente agora que ela deveria se tornar uma multinacional. Em 1993, ao assumir o cargo que ocupa até hoje, Heinzelmann era o presidente mais jovem do grupo Brasmotor. Tinha 39 anos. "Nos tornamos uma multinacional e isso foi fundamental para nos levar à liderança mundial", diz Heinzelmann.

Em 1994, a Embraco adquiriu sua primeira planta no exterior, na Itália. No ano seguinte, tornou-se a primeira fabricante brasileira a produzir na China, por meio de uma joint venture. Em 1998, começou a produzir na Eslováquia. No ano seguinte, era líder mundial. Hoje, quase metade dos 10 000 funcionários da Embraco estão nas fábricas do exterior. Apenas 20 deles são brasileiros. São os que disseminam a cultura da empresa e implantam o modelo de gestão brasileiro. Os objetivos estratégicos são levados à compreensão de todos por meio de um informativo mensal, o Embraco Global, em português, inglês, mandarim, italiano e eslovaco.

Whirpool

Desde 1998, a fabricante catarinense é controlada pela americana Whirpool Corporation, que também adquiriu a Brasmotor, sua antiga controladora. O grupo americano, cujo principal negócio é a linha branca, manteve a gestão da fabricante de compressores nas mãos do corpo gerencial brasileiro, comandado por Heinzelmann. A fábrica de Joinville, onde fica a diretoria, é a maior produtora de compressores do mundo. Ali, seus 5.300 funcionários desenvolvem a maior parte dos produtos, como os compressores com gases refrigerantes que não afetam a camada de ozônio e que consomem menos energia. Fiel à área que ajudou-o a decolar na carreira, Heinzelmann destina cerca de 3% do faturamento à pesquisa e desenvolvimento. A empresa também é agressiva em investimentos em expansão e modernização das fábricas e no lançamento de novas linhas de produto. Para isso, tem investido entre 50 e 60 milhões de dólares por ano.

Para o executivo, essa é a principal vantagem competitiva da Embraco. "Estamos à frente do mercado em soluções há muito tempo e o cliente já sabe que pode contar conosco para o futuro", diz Heinzelmann. Isto é, a Embraco passou a ser vista no mercado como antecipadora de novas tecnologias para o setor.

Com a globalização da empresa, outra preocupação tornou-se prioritária: melhorar a capacitação dos executivos. "Não se contrata ninguém de nível superior que não fale pelo menos um idioma além do português", diz Heinzelmann. "Tendo domínio sobre o inglês já dá uma boa flexibilidade porque é o idioma dos negócios." Segundo ele, em pouco tempo o MBA será um pré-requisito para contratação pelas empresas. "Não dá mais para ficar com o conhecimento adquirido na primeira formação", diz. "É preciso um cuidado enorme para não ficar para trás."

Conforme aponta o estudo da BCG, os países em que estão instaladas as empresas desafiantes globais têm a vantagem da mão-de-obra mais barata. Mas, mesmo entre eles, há diferenças. E até dentro de um mesmo país, como acontece na China. O custo da mão-de-obra em cidades como Xangai e Beijing é mais elevado do que no interior da China, podendo chegar a ser o dobro. O operário da Embraco em Beijing custa cerca de 3.500 dólares por ano, enquanto no Brasil custa cerca de 5.500 dólares.

Explorando as vantagens de cada um dos países em que se aventura, a Embraco é uma das desafiantes que não pára de crescer. Em 2005, faturou 2 bilhões de reais. Em 2001, com as mesmas fábricas que possui hoje, faturava 1,5 bilhão de reais. Não é à toa que ela é hoje uma multinacional que emprega 10 000 pessoas e produz 25 milhões de compressores por ano que comercializa em mais de 80 países (até o final deste ano, a fábrica chinesa terá sua capacidade aumentada e a Embraco passará a produzir mais de 26 milhões de compressores).

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