Endividamento em São Paulo cresce para 51,2% em julho, diz Fecomercio
Levantamento mostra que são quase dois milhões de consumidores que não conseguiram honrar seus compromissos financeiros. Quase metade das famílias paulistas
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de agosto de 2018 às 17h44.
São Paulo - O nível de consumidores endividados voltou a crescer em julho em São Paulo , interrompendo uma série de três quedas consecutivas. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), a taxa de famílias com dívidas cresceu para 51,2% no sétimo mês do ano após 49,4% em junho, conforme a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O levantamento, antecipado pelo Broadcast mostra que são quase dois milhões de consumidores que não conseguiram honrar seus compromissos financeiros. Ou seja, quase a metade do total de 3,9 milhões de famílias da capital paulista.
A maioria dos entrevistados, 73,2%, tem dívidas atreladas ao cartão de crédito, revela a pesquisa. Contudo, a FecomercioSP pondera que o resultado não preocupa, pois está dentro do nível médio registrado desde o início do ano. Em seguida, aparecem os endividados com carnês (13,9%), aqueles com financiamento de automóvel(12,8%) e, por fim, as dívidas não pagas com crédito pessoal e financiamento de casa, ambas em 10,8%.
Já a taxa de inadimplentes, ou seja, de consumidores que atrasaram o pagamento, avançou de 19,2% em junho para 19,6% em julho. Em termos absolutos, trata-se de 764 mil famílias nesta situação, 64 mil a mais do que há um ano. Conforme a FecomercioSP, já são cinco meses em que o nível permanece "elevado": acima dos 19% e superior ao visto em julho de 2017 (18,1%).
Perfil
Quase a metade (49,1%) do perfil das dívidas atrasadas é de médio prazo, ou seja, acima de 90 dias. O restante foi dividido entre até um mês (25,8%) e entre um mês e três meses (23,7%). "Pouco se alterou em relação há um ano, mas o que mais mudou em pontos porcentuais foi o quadro do médio prazo aumentando dos 47,1% para os atuais 49,1%. Apesar da elevação, não preocupa, pois já houve patamares maiores ao longo do último ano", avalia a federação em nota.
Do total de famílias, 8,5% disseram que não terão condições de pagar a dívida em atraso no próximo mês, o que representa 331 mil famílias com a situação mais delicada. Há um ano, essa taxa estava em 7,8%, o que em termos absolutos significa aumento de 29 mil famílias.
De acordo com a pesquisa, o tempo de comprometimento com dívida está, em média, em 7,4 meses, o que não representa mudança significativa na comparação mensal e anual, cita. Cerca de 36% estão comprometidos com mais de um ano de dívida, seguido de 22,1% com até três meses, 21,7% de três a seis meses e 18,1% de seis meses a um ano. A parcela da renda comprometida com a dívida está próxima dos 30%.
O levantamento mostra ainda que, por análise de faixa de renda, houve crescimento da taxa de endividamento para ambas as classes. A mais acentuada, no entanto, foi do grupo com renda superior a 10 salários mínimos, que passou de 35,5% em junho para 40,6% em julho. Para a classe de renda inferior a 10 salários mínimos, atingiu 54,8%, ou 0,6 ponto porcentual a mais do que o registrado no mês anterior.
Em relação à inadimplência, a situação ficou praticamente igual à registrada em junho. O nível de inadimplentes com renda abaixo a 10 salários mínimos ficou em 24,8%, ou 0,3 ponto ante junho, e 7,4% (estabilidade) para as famílias com renda mais elevada.
"Basicamente, a pesquisa de julho mostra manutenção da taxa de inadimplência em patamar historicamente elevado, ao mesmo tempo em que o endividamento está abaixo da média vista no primeiro semestre deste ano", avalia a entidade. "Isso indica o contínuo receio das famílias paulistanas em comprometer sua renda com dívida, visto que vem crescendo o risco de perder seu emprego, e também a dificuldade em acertar as contas por parte das famílias inadimplentes, principalmente, as de renda mais baixa", complementa a nota.
Perspectivas
De acordo com a FecomercioSP, o crescimento das vendas do varejo deve diminuir neste segundo semestre, em razão da dificuldade dos consumidores em quitar dívidas e ainda por causa da redução da confiança e na intenção de consumo das famílias.
Para a entidade, enquanto não houver melhora significativa e constante no mercado de trabalho, a situação tende a permanecer difícil para as famílias e para o varejo.