Economia

Em meio a tensão comercial, Argentina busca estabilidade no G20

O ministro de Relações Exteriores argentino afirmou que a reunião deve destacar a importância dos intercâmbios comerciais

Argentina: em meio a uma crise econômica, Macri recebe os representantes de 20 países na próxima sexta-feira (Foto/Reuters)

Argentina: em meio a uma crise econômica, Macri recebe os representantes de 20 países na próxima sexta-feira (Foto/Reuters)

A

AFP

Publicado em 28 de novembro de 2018 às 11h36.

As tensões internacionais sobre o comércio certamente vão dominar a Cúpula do G20, mas a anfitriã Argentina espera fechar um acordo pela estabilidade global, embora as profundas discordâncias persistam.

Em entrevista à AFP, o ministro argentino de Relações Exteriores, Jorge Faurie, disse que a reunião de 30 de novembro e 1 de dezembro em Buenos Aires entre os líderes das vinte potências mundiais deverá destacar a importância dos intercâmbios comerciais, à medida que os velhos pilares contra o protecionismo se rompem.

"Estamos dando ênfase à situação do comércio, apenas para nos garantirmos que cresça, que seja estável e que esta visão seja compartilhada pelos atores principais", disse em inglês por telefone.

"Englobamos todas as visões para poder encontrar um espaço comum para todos", afirmou.

Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, não dão sinais de ceder em sua guerra comercial, enquanto o presidente americano Donald Trump promete proteger a indústria interna como parte de sua filosofia "Estados Unidos em primeiro".

Trump estabeleceu, com seu par chinês, Xi Jinping, o G20 como data-limite para Pequim reduzir suas barreiras comerciais ou ampliar sua pressão - que já alcança bilhões de dólares em tarifas mútuas.

O G20, um clube formado há uma década em meio à crise financeira, representa 85% da produção mundial. Desde já, Faurie minimizou a importância de qualquer comunicado final. "Algumas vezes, fazemos documentos tão grandes que as pessoas se perdem na leitura", ironizou.

Mas ele afirmou que o rascunho da Argentina, ainda em revisão, era "razoável" e que dar ênfase à estabilidade como parte de uma "perspectiva racional e positiva" sobre o comércio.

Duas grandes cúpulas neste ano, a do Grupo das Sete (G7) democracias mais desenvolvidas e o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), acabaram sem os tradicionais comunicados conjuntos.

Anfitriã sob pressão

Faurie disse que a Argentina, uma economia emergente e o primeiro país sul-americano a receber uma cúpula do G20, pode oferecer um "enfoque fresco" aos líderes mundiais.

A Argentina preside o G20 enquanto seu presidente de centro-direita, Mauricio Macri, executa um plano de austeridade acompanhado de um empréstimo de US$ 56 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI). O peso se desvalorizou 50% ao longo do ano, e a inflação é estimada acima de 40% até o fim de 2018, enquanto o país enfrenta um enorme déficit fiscal e uma dura seca.

Faurie disse que as reformas estruturais, recebidas com protestos nas ruas da Argentina, têm andado de mãos dadas com o impulso do G20 para o comércio, que poderia encher as contas dos países emergentes.

"É muito importante para nós ter algum tipo de estabilização do comércio, porque dependemos desta possibilidade de comércio para ter mais produção e empregos", acrescentou.

História com o Reino Unido

O G20 será histórico pois marcará uma simbólica reconciliação entre Argentina e Reino Unido, que se enfrentaram em uma guerra em 1982 pelas ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, conhecidas como Falklands por Londres.

Theresa May será a primeira primeira-ministra britânica a visitar Buenos Aires desde a guerra. Tony Blair passou brevemente pela Argentina em 2001, quando cruzou a fronteira brasileira nas cataratas do Iguaçu.

Faurie disse que a Argentina está comprometida a colaborar mais com o Reino Unido, desde o comércio e a preservação ambiental a conectar melhorar a Argentina com suas ilhas, onde vivem cerca de 3.000 pessoas, culturalmente ligadas ao Reino Unido.

"Tentamos mostrar que, apesar da discussão sobre a soberania das Malvinas, temos muito em comum em outras áreas bilaterais e temos que fazê-las crescer", afirmou.

Quanto à soberania das ilhas - que Londres se recusa a negociar - Faurie disse: "Você tem que ser muito paciente".

A Argentina lidera a cúpula enquanto os outros dois membros latino-americanos do G20, Brasil e México, passam por transições presidenciais, voltando-se para a esquerda e para a direita, respectivamente.

Faurie rapidamente rejeitou qualquer sugestão de que o G20 será uma tentativa de a Argentina reclamar a liderança regional. Ele afirmou que colabora de forma próxima com o Brasil e o México para cumprir a agenda e destacou que seu país convidou o vizinho Chile para a reunião.

"Não se trata de liderança, mas de fazer a coisa certa neste momento", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaDiplomaciaG20Guerras comerciais

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor