Economia

Economistas criticam proposta lançada sem presença de Guedes

Para especialistas, o "Plano Marshall" comandado pelo ministro da Casa Civil "é superficial e inexequível, é uma carta de intenção"

Guedes: plano prevê investimento em obras públicas para a retomada da economia no pós-covid-19 (Adriano Machado/Reuters)

Guedes: plano prevê investimento em obras públicas para a retomada da economia no pós-covid-19 (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de abril de 2020 às 12h51.

Última atualização em 24 de abril de 2020 às 12h57.

Diretor executivo da Instituição Fiscal Independente, o economista Felipe Salto disse na quinta-feira, 23, que o Plano Pró-Brasil, bem como seu anúncio, estão totalmente fora do lugar. O plano, que antes de seu batismo oficial estava sendo chamado de "Plano Marshall", foi anunciado na quarta-feira sob o comando do ministro-chefe da Casa Civil, General Braga Neto, e sem a participação da equipe econômica. O mote do plano são medidas para a retomada da economia no pós-covid-19 que passam, inclusive, por investimentos em obras públicas.

Mas de acordo com Salto, uma coisa é a convicção de que são necessárias medidas para implementar a retomada do crescimento da economia depois da pandemia do coronavírus. Outra, completamente diferente, é fazer um anúncio desse em plena crise de saúde. "Vejo como um plano totalmente fora de lugar bem como seu anúncio. É um plano vazio. Não tem números e os números que têm aparecem apenas no discurso", disse Salto. Para ele, o pior é que o anúncio do plano não contou com a presença da equipe econômica.

Para Ana Carla Abrão ex-secretária da Fazenda de Goiás e head do escritório Oliver Wyman no Brasil, o plano "é superficial e inexequível, é uma carta de intenção".

"Acho até difícil comentar um plano econômico que não tem a participação da equipe econômica. É o que venho falando desde o começo desta pandemia: o governo não consegue dar uma resposta à crise com todos os atores importantes à mesa", disse a economista ao se referir à ausência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no anúncio do plano.

"Não adianta fazer um 'powerpoint', falar que vai gastar R$ 500 bilhões e não dizer de onde virão os recursos, como serão financiados e que setores vão ser privatizados, quais são os motores da retomada", criticou Ana Carla.

O economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, avalia que, no curto prazo, o fato de Guedes ter sido deixado de lado, não terá maiores implicações, caso o governo consiga mais força para a atividade econômica. O risco maior seria se a retomada econômica viesse com menos apoio para a liberalização às reformas econômicas defendidas pelo ministro.

Para Jackson, considerando o tamanho do tombo que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve sofrer este ano, o governo não deveria se furtar a elevar o gasto público, seja no investimento ou para dar apoio financeiro a famílias e setores.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, disse que ainda aguarda um detalhamento sobre o programa de estímulo à economia anunciado pelo governo federal, mas reforçou a expectativa de que o setor da construção seja incluído: "Pelo que foi falado no anúncio, não vi nada em profundidade. É preciso aguardar", afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusCrise econômicaGoverno BolsonaroMilitaresMinistério da EconomiaPaulo Guedes

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor