Economia

Economistas descartam risco de recessão em 2017

Do final de 2016 para cá, indicadores de confiança voltaram a mostrar recuperação importante, passando pela indústria e construção até consumidores

Crescimento: a expectativa dos agentes econômicos é de que, no mínimo, o BC mantenha o atual ritmo de corte (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

Crescimento: a expectativa dos agentes econômicos é de que, no mínimo, o BC mantenha o atual ritmo de corte (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

R

Reuters

Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 16h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2017 às 16h42.

São Paulo - Com boas surpresas vindas da inflação, que tem desacelerado mais do que o esperado recentemente e alimentado expectativas de cortes mais agressivos de juros, as perspectivas de melhor crescimento econômico do Brasil vêm ganhando corpo neste início de 2017, com bancos e consultorias já descartando risco de mais um ano de recessão.

A melhora do cenário marca uma inversão do ambiente mais pessimista que prevaleceu até meados de dezembro, com projeções de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país pode crescer até 1 por cento neste ano, também em meio à melhora da confiança.

"Seguimos acreditando que a combinação de maior confiança, menor taxa de juros e avanço nas reformas deve confirmar que a recessão ficou para trás", resumiu o economista do banco BNP Paribas no Brasil, Gustavo Arruda, para quem o PIB brasileiro vai crescer 1 por cento em 2017.

Os últimos dados de inflação têm surpreendido positivamente, e parte dos analistas já estima que ela pode ficar abaixo do centro da meta do governo --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual.

Dessa forma, se o BC acelerar o processo de redução da Selic, pode gerar alívio no endividamento de famílias e na alavancagem de empresas, ajudando na retomada.

Hoje, a taxa básica de juros está em 13 por cento ao ano, depois de duas quedas seguidas de 0,25 ponto percentual cada e uma de 0,75 ponto.

A expectativa dos agentes econômicos é de que, no mínimo, o BC mantenha o atual ritmo de corte, o que levará a taxa para abaixo de dois dígitos, barateando os empréstimos para consumo e investimentos.

"O efeito favorável de menor inflação sobre o crescimento da massa salarial real e, consequentemente, sobre o consumo das famílias e o impacto positivo do declínio dos juros sobre os investimentos explicam a expectativa de maior crescimento", justificou o banco Credit Suisse ao elevar a projeção para o PIB deste ano a 0,2 por cento, ante estagnação.

Dentro do governo, o cenário mais otimista também começou a ganhar corpo recentemente, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desistindo da ideia de reduzir agora a previsão oficial de crescimento de 1 por cento para este ano.

Do final de 2016 para cá, os indicadores de confiança voltaram a mostrar recuperação importante em todos os segmentos, passando pela indústria e construção até consumidores.

Esse movimento também ajudou no processo, até agora inicial, de melhora das perspectivas econômicas em geral.

Essa combinação mais favorável também fez com que o banco Santander colocasse viés positivo para sua projeção de 0,7 por cento de crescimento do PIB neste ano.

Além dos juros mais em conta, especialistas argumentam que, embora seja uma medida pontual, a decisão do governo de liberar os saques de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também deve produzir efeito positivo na economia neste ano.

"Os recursos do FGTS têm algum poder para mexer com a atividade econômica e podem adicionar crescimento de até 0,3 ponto percentual", diz a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, projetando avanço de 0,7 por cento do PIB neste ano, um número desafiador, mas que "está no jogo".

Riscos

A esperada recuperação brasileira ainda tem alguns riscos pela frente, depois de dois anos seguidos de recessão.

Os principais indicadores antecedentes ainda dão sinais divergentes, o que, segundo analistas, pode ser normal em momentos de virada de atividade.

Em janeiro, por exemplo, o fluxo de veículos pesados medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) recuou 2,3 por cento em janeiro, na comparação mensal dos dados dessazonalizados, enquanto a produção de papel ondulado subiu 2,8 por cento segundo a associação do setor.

"Há boas notícias, mas eu ainda não consigo transformá-las em melhora da atividade. Uma coisa é câmbio, juro e inflação. Outra é investimento", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.

"Eu continuo achando a queda dos juro importante, mas está longe de ser suficiente".

O banco Fator projeta queda do PIB de 0,2 por cento este ano, mas deve revisar o número para um resultado melhor, "mais próximo de zero do que de 1 por cento", disse o economista.

Além disso, outro entrave para a recuperação mais acentuada da economia é o elevado desemprego, que afeta a renda das famílias.

Os especialistas acreditam que a taxa, hoje em 12 por cento, vai atingir seu pico em meados desse ano, para começar a recuar, mas de maneira bastante gradual.

"A economia vai ter de caminhar bastante e o desemprego deve pesar de forma negativa. Há muitos desafios pela frente como conseguir o equilíbrio fiscal", diz o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira.

Ele vê, no entanto, viés positivo para sua previsão de estagnação do PIB neste ano.

Na pesquisa Focus do Banco Central, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, a mediana das estimativas aponta para expansão de 0,48 por cento do PIB neste ano, indo a 2,30 por cento em 2018.

Acompanhe tudo sobre:EconomistasPIB do BrasilRecessão

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação