Economia

Já deveríamos ter economia voluntária de energia, diz ex-ONS

Segundo Carlos Ribeiro, ex-diretor da ONS, medidas já deveriam ter sido adotadas para diminuir os riscos de racionamento de energia


	Solo ressecado na represa de Jaguary: reservatórios da região Sudeste/Centro Oeste estão em níveis baixos, próximos dos registrados antes do racionamento de 2001
 (Nacho Doce/Reuters)

Solo ressecado na represa de Jaguary: reservatórios da região Sudeste/Centro Oeste estão em níveis baixos, próximos dos registrados antes do racionamento de 2001 (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2014 às 17h28.

São Paulo - Medidas para incentivar a redução "voluntária" do consumo de energia elétrica já deveriam ter sido adotadas como forma de diminuir os riscos de racionamento de energia, defendeu o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Carlos Ribeiro, ex-diretor no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Segundo ele, mesmo que as represas das hidrelétricas cheguem no final de abril aos níveis que o ONS diz serem seguros, tende a haver preocupação novamente sobre o próximo período de chuvas.

"Não é hora de decretar racionamento de forma nenhuma, mas continua sendo importante que haja uma campanha de conscientização para que o uso da eletricidade seja mais racional... Uma redução de consumo que fosse voluntária não afetaria de maneira nenhuma a vida das famílias", disse à Reuters.

Os reservatórios das hidrelétricas da região Sudeste/Centro Oeste, os principais para abastecimento do país, estão em níveis baixos, próximos dos registrados antes do racionamento de energia de 2001 e continuam caindo. As represas dependem de chuvas abundantes até o fim de abril para que seja evitado um racionamento neste ano.

Do fim de dezembro até agora, o nível dos reservatórios do Sudeste, já caiu 7,93 pontos percentuais, quando deveria estar enchendo. A situação só não está ainda pior porque, nas últimas semanas, houve uma redução das temperaturas e consequentemente do consumo de carga e energia, aliviando a queda do nível nas represas.

Ribeiro, que além de presidente da ABCE atua na área de Operação na Cteep, considera correto aguardar o fim da estação chuvosa, que pode se estender até abril, para que o governo federal decida sobre a necessidade de decretar formalmente um racionamento de energia, como ocorreu em 2001. Mas ele alerta que medidas que incentivem o consumo de energia sem desperdícios já ajudariam a evitar um racionamento de proporções como o que ocorreu em 2001.

A aplicação das bandeiras tarifárias, por exemplo, que deveria começar a valer em janeiro deste ano, mas foi adiada para início de 2015, já daria um sinal para os consumidores sobre a necessidade de economizar energia, com base no preço da conta de energia. De acordo com a medida, os consumidores teriam uma sinalização na fatura corrente de energia sobre o aumento ou queda no custo no mês seguinte, repassando mensalmente para a conta de luz os gastos com geração termelétrica.

As conversas para decretar racionamento de 2001 começaram em abril daquele ano e o racionamento começou em junho. Atualmente, o Brasil conta com mais capacidade de geração de energia e maior rede de transmissão, mas chuvas abaixo da média nos últimos dois anos, atraso na entrada de alguns empreendimentos incluindo eólicas que aguardam sistemas de transmissão e temperaturas recordes neste verão são fatores que contribuem para elevar preocupações.


Em janeiro e início de fevereiro, o sistema elétrico como um todo e as diversas regiões do país separadamente bateram recordes consecutivos de demanda máxima de energia. Desde então, houve forte redução nas demandas máximas atingidas num dia -- o recorde no sistema elétrico, em 5 de fevereiro, foi de 85.708 MW, enquanto que sexta-feira, por exemplo, a demanda máxima do dia no SIN foi de 79.993 MW.

Durante alguns dias desse período de forte demanda de carga, a frequência no sistema elétrico do país operou um pouco abaixo da considerada "normal", ou seja, em valor inferior aos 59,97 a 60,03 hertz, disse Ribeiro.

Segundo ele, isso indicaria deficiência de capacidade de geração de energia para atender a totalidade de carga nos momentos de pico de consumo. Esse problema, não está acontecendo mais atualmente porque a carga de energia se reduziu muito em função das temperaturas mais amenas, segundo afirmou.

Níveis dos Reservatórios

O nível dos reservatórios continua caindo no Sudeste/Centro-Oeste e Sul. No Nordeste, houve recuperação desde o início do ano, passando de 33,81 por cento ao fim de dezembro para 42,39 por cento hoje. Já no Norte, os reservatórios estão a 80,21 por cento e subindo, ante 46,19 por cento ao final do ano passado.

O diretor geral do ONS, Hermes Chipp, disse na semana passada que os reservatórios das hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste têm que chegar a 43 por cento de armazenamento no fim de abril para garantir o fornecimento de energia adequado ao país ao longo do período seco, que tende a acontecer de maio a até novembro. Esse nível poderá ser alcançado, segundo ele, caso chova em março e abril o equivalente a 76 por cento da média histórica para estes meses.

Ribeiro também avalia que atingindo essa meta, o atendimento ao mercado consumidor de eletricidade em 2014 fica garantido, considerando também forte a geração de energia vindo de usinas termelétricas. Mas no próximo período chuvoso, as preocupações enfrentadas nesse e no último períodos úmidos quanto ao atendimento da demanda por baixo nível de reservatórios devem voltar a ocorrer.

O custo marginal de operação do sistema elétrico (CMO) está num valor superior ao primeiro patamar de custo de déficit nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul, o que sinalizaria uma redução da carga de energia nessas regiões de até 5 por cento. O ONS considera, no entanto, que a sinalização é de um modelo matemático e não há necessidade de cortar carga já que estamos em pleno período úmido, podendo haver reversão do cenário de estiagem.

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