Economia russa volta aos trilhos, não só graças ao petróleo
Em dezembro, a Rússia ultrapassou a Arábia Saudita como maior produtora mundial de petróleo
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2017 às 20h47.
Moscou - A Rússia saiu da recessão, com ajuda dos gastos militares, de uma grande revisão estatística e da cotação do petróleo. Não foi uma recessão qualquer, mas a mais prolongada em duas décadas. O que acontece?
1. A economia realmente saiu da pior?
Na verdade, a contração econômica terminou alguns trimestres antes do que se projetava anteriormente, segundo cálculos revisados do departamento de pesquisas e previsões do banco central.
O Escritório Federal de Estatísticas não divulga dados de crescimento trimestral desde 2015, então os números não são rigorosamente oficiais.
O banco central calculava que a variação trimestral ficou positiva somente no segundo semestre de 2016, mas agora a estimativa é de expansão desde o primeiro trimestre do ano passado. Isso se deve em parte à reclassificação dos gastos militares.
Aumentos de dois dígitos nos gastos com sistemas de armamentos agora se refletem diretamente nos dados de produto econômico. O presidente Vladimir Putin atualmente promove a maior ampliação das forças armadas desde a Guerra Fria.
2. Então a recuperação não se deve apenas ao preço do petróleo?
O petróleo tem seu papel. A cotação do barril vem subindo desde que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) concordou em cortar a produção no ano passado.
Em dezembro, a Rússia ultrapassou a Arábia Saudita como maior produtora mundial de petróleo, quando os dois países começaram a aderir aos cortes acertados.
O preço médio do barril de petróleo que mistura variedades extraídas na região dos Urais ficou em US$ 53,32 nos primeiros dois meses do ano, enquanto os planos do governo para 2017 se baseiam em US$ 40.
Petróleo e gás foram responsáveis por 40 por cento da receita orçamentária em 2016. Mas outros setores também estão se expandindo.
3. As sanções estão causando perdas?
Autoridades russas afirmam consistentemente que o país se acostumou às sanções e pode seguir desta forma. As sanções — que incluem acesso limitado a capital e tecnologias ocidentais — foram impostas por EUA e União Europeia em resposta à anexação da Crimeia pela Rússia e em sinal de apoio aos separatistas no leste da Ucrânia.
Sem dúvida, a economia russa seria impulsionada se o governo do presidente americano Donald Trump – que enfrenta acusações de vínculos impróprios com a Rússia – decidir flexibilizar restrições já impostas.
Segundo a maioria dos economistas sondados pela Bloomberg, o rublo se valorizará de 5 por cento a 10 por cento se isso se concretizar.
Já o crescimento do PIB aumentaria 0,2 ponto percentual neste ano e 0,5 ponto percentual no ano que vem, segundo a pesquisa.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que as sanções internacionais inicialmente diminuíram o PIB real em 1 por cento a 1,5 por cento, enquanto restrições prolongadas podem provocar perda acumulada de até 9 por cento do produto econômico no médio prazo, de acordo com relatório interno de 2015.
4. E como anda a população?
Por décadas, o principal vetor do crescimento econômico foi a demanda dos consumidores, que foi particularmente abalada pela recessão, em vista da inflação causada pela desvalorização do rublo.
A inflação agora está cedendo graças ao aperto da política monetária e à meta do banco central.
As vendas no varejo ainda não entraram em território positivo, mas a queda ficou menos acentuada, de acordo com dados do Serviço Federal de Estatísticas, divulgados em 22 de fevereiro.