Economia

Economia não sentiu totalmente efeitos de medidas do governo

Segundo especialistas, apesar do aumento da Selic e das restrições ao crédito, a economia se manteve aquecida

A tendência ao longo do ano é de desaceleração do crescimento econômico (EXAME)

A tendência ao longo do ano é de desaceleração do crescimento econômico (EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2011 às 15h00.

Brasília - A economia brasileira ficou ainda bastante aquecida no primeiro trimestre deste ano, sem sentir totalmente os efeitos de medidas do governo como o aumento da taxa básica de juros, a Selic, e as restrições ao crédito, segundo análise de especialistas.

Mas a tendência ao longo do ano é de desaceleração do crescimento econômico, na avaliação do economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. “As medidas ainda não fizeram o efeito nesse primeiro trimestre. Houve um desempenho muito forte do consumo das famílias, dos serviços, investimentos e da indústria. O mercado de trabalho ainda está positivo, com crescimento do emprego e da renda”, afirmou Bacciotti.

Para o economista, o emprego e a renda devem crescer em ritmo mais moderado no ano. Isso porque ainda há expectativa de mais aumentos da Selic, que, na avaliação do economista, deve fechar 2011 em 13% ao ano. Atualmente essa taxa está em 12% ao ano. Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas produzidas no país, a expectativa para este ano é 3,9%.

Na avaliação do professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antonio Corrêa de Lacerda Lacerda, “a economia brasileira está claramente em uma trajetória gradual de desaceleração”. Para ele, o processo de desaquecimento deve se refletir nos dados do segundo semestre, a serem divulgados daqui a três meses. A previsão dele é que a economia crescerá 4% este ano. “É um crescimento compatível com a inflação relativamente controlada, embora mais próxima do teto da meta [6,5%].”

Segundo Lacerda, o maior desafio do governo agora é “calibrar as medidas” de contenção da inflação. “Não se pode exagerar no aperto [aumento da taxa Selic] porque isso pode comprometer o crescimento do setor produtivo.”

Já para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Robson Gonçalves, o governo não está conseguindo frear o desempenho do consumo no contexto de ritmo de investimento produtivo insatisfatório. Segundo ele, com baixos investimentos, o país terá escassez de oferta em momento de aumento da demanda. Além disso, para Golçalves, as empresas brasileiras sofrem com a “concorrência feroz” dos produtos importados no mercado, em momento de baixa do dólar. Esse fator expande ainda mais a demanda dos consumidores. “Se o Banco Central não elevar a Selic até o final do ano, a inflação vai subir acima da meta em 2012”, acredita.
Segundo dados divulgados hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1,3% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o trimestre anterior. Em relação ao primeiro trimestre de 2010, o PIB registrou aumento de 4,2%.

Com a economia aquecida, a tendência é aumento da renda e do consumo. Assim, a procura por bens e serviços cresce e há dificuldade para a indústria, o comércio e o setor de serviços de suprir esse consumidor na mesma proporção do aumento da demanda. Como o aumento da demanda e da oferta não tem o mesmo ritmo, os preços sobem, gerando inflação. Nesse cenário, uma das alternativas é elevar a Selic, como forma de tornar o crédito mais caro. Ao elevar a taxa, a ideia é estimular a poupança e conter a expansão excessiva da demanda.

O governo também tem atuado com outros instrumentos. Um deles foi o bloqueio de gastos públicos. Além disso, em dezembro do ano passado, o Banco Central (BC) anunciou medidas macroprudenciais, como restrições ao crédito e o aumento dos recursos que os bancos são obrigados a deixar no BC, chamados de depósitos compulsórios.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoDesenvolvimento econômicoIndicadores econômicosPIB

Mais de Economia

Brasil é 'referência mundial' em regulação financeira, diz organizador de evento paralelo do G20

Governo teme “efeito cascata” no funcionalismo se Congresso aprovar PEC do BC

Banco Central estabelece regras para reuniões com agentes do mercado financeiro

Produção industrial sobe 4,1% em junho, maior alta desde julho de 2020

Mais na Exame